Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

45 dias de governo Lula

Havia esperança de que Lula fosse construir um clima de paz e tolerância entre os brasileiros, depois dos quatro anos do terremoto Bolsonaro. Foi uma das razões pelas quais milhares de brasileiros o apoiaram, no primeiro e no segundo turno. Estavam cansados do dualismo destruidor, da beligerância dos principais protagonistas da luta política.

Lula deu a impressão de que era por aí: parecia disposto a restaurar uma certa unidade da nação, um clima de convivência possível, um embate político civilizado. Um governo de amplas forças, plural, deixando para trás a virulência dos tempos de Bolsonaro.

Ao olhar estes primeiros 45 dias, nos deparamos com um Lula ressentido, rancoroso, com sede de vingança do impeachment de Dilma, dos processos que sofreu, dos 540 dias que amargou na prisão de Curitiba. Nos prometeu paz, tolerância e está – até agora – nos entregando um novo período de intranquilidade, da cena política dominada pelo conflito predatório.

Não se está dizendo que piorou: não havia margem para tal. Na verdade, respiramos aliviados em questões vitais como os serviços públicos, os direitos humanos, a situação dos povos originários, a área ambiental, a nossa inserção no mundo civilizado. Não é pouco, ainda mais se tivermos em conta que neste curto período, em estado de perplexidade, fomos testemunhas de uma intentona da quebra da ordem constitucional, no infame 8 de janeiro, quando hordas de desordeiros, inebriados de sentimentos de baixa extração, vandalizaram as instalações e os prédios dos três poderes da República.

É possível que o 8 de janeiro tenha provocado em Lula um abalo, talvez mudando sua disposição inicial, reavivando nele suspeitas plausíveis, levando-o a um estado de antagonismo que não estava na programação.

Assim, Lula voltou a desancar as elites, dizendo, entre outras bobagens, que os acontecimentos de janeiro foram provocados pelos “os ricos que perderam a eleição”, insistindo em chamar o impeachment de Dilma de golpe, vituperando o mercado, e destilando mau humor sobre os mais variados temas.

Lula comprou uma briga desgastante com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, responsabilizando-o pelas altas taxas de juros no país, errando no conteúdo e na forma. É claro que o presidente da República tem o direito de criticar os juros elevados. Mas para tanto – ao menos – ele tem de compreender os males corrosivos que a inflação causa entre os mais pobres e desvalidos. Tem o dever de saber que os juros são altos não para favorecer ardilosamente os rentistas, os ricos, mas porque existe uma política fiscal expansionista de gastos e uma projeção de receita em desequilíbrio.

Em meio ao palavrório, algum aceno de aproximação a militares, evangélicos, produtores, empresários – toda aquela gente que deu 58 milhões de votos a um desclassificado como Bolsonaro? Não. Tem falado somente para dentro, para os seus – o erro crasso e devastador de Bolsonaro, que certamente o levou à derrota. Lula, como o seu antecessor, está se mostrando insensível de formular uma palavra de apreço , consideração e respeito aos que não pertencem à sua grei.

 

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