Segunda-feira, 25 de novembro de 2024

47ª Expointer: visitantes e especialistas sugerem caminhos ao agronegócio gaúcho diante de novas crises climáticas

A intensa programação da 47ª Expointer não se resumiu ao comércio e atrações culturais. Ao longo de nove dias do evento encerrado domingo (1º) no Parque de Exposições de Esteio, a questão ambiental também esteve na pauta. O Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do governo gaúcho produziu um documento com ideias para o agronegócio diante de novos eventos meteorológicos extremos. O documento inclui contribuições de visitantes.

No foco da iniciativa – por meio de carta aberta com mais de 50 assinaturas – estão reflexões e alternativas para maior capacidade de adaptação e recuperação do setor ao enfrentar cenários como as enchentes recordes de maio. O texto apresenta um panorama da atividade, com ênfase a desafios em um Estado que já sofreu com cenários radicalmente opostos como estiagem e excesso de chuvas.

“Essas mudanças climáticas são caracterizadas por eventos cada vez mais intensos e frequentes de secas e cheias extremas, ambos afetando de maneira crítica a produção agrícola e a pecuária”, salienta um dos trechos do manifesto.

Para se buscar melhores condições de sustentabilidade e competitividade no setor, a carta menciona a resiliência como um dos caminhos necessários. Na lista constam iniciativas como implementação de políticas vocacionais regionais para redução dos riscos ao agronegócio, uso sustentável da costa marinha, fortalecimento institucional e gestão integrada de recursos hídricos.

No que se refere a este último, um dos tópicos aponta como caminho a gestão sustentável, com a criação de uma Agência de Águas do Estado do Rio Grande do Sul. O órgão seria responsável por “implementar planos de bacias que considerem as necessidades específicas de cada região, equilibrando a demanda de água para agricultura, indústria e consumo humano.”

Além disso, o documento ressalta a importância da exploração sustentável dos recursos marinhos, que poderiam contribuir para a diversificação e adaptação do setor agropecuário. A biotecnologia também é mencionada como polo de pesquisa e inovação, com potencial de aumento da produtividade e sustentabilidade das culturas.

Outro destaque da carta é a necessidade de se adotar o chamado “design de paisagem”: “Uma perspectiva integradora reconhece a interdependência entre os componentes naturais e as atividades humanas dentro de uma bacia hidrográfica, propondo um planejamento que não apenas otimiza o uso dos recursos hídricos e do solo, como também preserva a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos”.

Interatividade

O Comitê Científico faz parte da estrutura de governança do “Plano Rio Grande”, com papel consultivo e propositivo de ações a serem desenvolvidas nos eixos emergencial, reconstrução e futuro do Estado. Seu integrantes se reuniram em 27 de agosto na Casa da Secretaria de Comunicação do Estado (Secom) na Expointer.

No mesmo dia, o colegiado promoveu uma roda de conversa com visitantes no estande do governo gaúcho no Pavilhão Internacional da feira. Confira, a seguir, algumas manifestações:

“O agro é uma cadeia fundamental para que a gente possa pensar a retomada econômica e social do Estado”, frisou a titular da Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia (Sict) e coordenadora do comitê, Simone Stülp. “Nos dedicamos a refletir e elaborar esta carta com recomendações e proposições ao setor.”

Ela acrescentou: “A reunião foi aberta a todos que quisessem contribuir, para aproximar especialistas e sociedade. Este é um momento de troca, aqui mais voltada ao agronegócio mas que pretendemos expandir aa outros setores e regiões do Rio Grande do Sul”.

Assessora técnica do colegiado, Alexandra Passuello detalhou alguns dos conceitos envolvidos: “Na gestão de riscos e desastres, resiliência é a capacidade que uma cidade, comunidade ou sistema tem para suportar, se adaptar ou se recuperar após um desastre. Adaptação é um elemento da resiliência, no processo de ajuste às alterações dos sistemas naturais e humanos, a fim de reduzir ou evitar danos potenciais a partir de ações de prevenção e mitigação de riscos”.

Já a coordenadora da Assessoria de Clima da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Daniela Lara, chamou a atenção para a recorrência de eventos meteorológicos extremos no Rio Grande do Sul – foram dez registros só no último ano. Também defendeu a necessidade de projetos na área.

(Marcello Campos)

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