Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

A cada três brasileiros fora do mercado de trabalho, dois são mulheres; dados mostram que a pandemia afetou mais as trabalhadoras

Três anos após o início da pandemia, as mulheres ainda sentem mais o impacto no mercado de trabalho. O número de adultas fora da força de trabalho no fim de 2022 foi o dobro do de homens, cuja participação já voltou ao patamar pré-pandemia. Elas ainda estão atrás dos números anteriores a 2020 porque foram as mais atingidas pelo desemprego e têm maior dificuldade de voltar a trabalhar.

O desafio é maior para mães de crianças de até 5 anos, revela uma pesquisa da Sociedade de Economia da Família e do Gênero (Gefam), com base em dados da Pnad Contínua, do IBGE.

O estudo mostra como os efeitos econômicos da covid foram sentidos de forma desigual entre os gêneros. A pandemia interrompeu uma tendência de maior inserção feminina na vida profissional, e a recuperação foi mais rápida para os homens.

No fim de 2022, 26,1 milhões de adultas estavam excluídas do mercado, enquanto o número de homens à margem era de 12,7 milhões, menos da metade do contingente feminino.

A População Economicamente Ativa (PEA) — pessoas com ou em busca de alguma ocupação formal ou informal — de homens em 2019 era de 55,5 milhões. Com a pandemia, baixou para 51,7 milhões em 2020, uma queda de quase 7%. No ano passado, superou o patamar pré-pandemia e atingiu 55,8 milhões.

Entre as mulheres, a queda foi de 12%, de quase 45 milhões em 2019 para 39,5 milhões em 2020. O indicador ainda não voltou ao nível anterior à pandemia. Ficou em 44,6 milhões no ano passado, aponta o estudo.

A população considerada fora da força de trabalho é aquela que não está ocupada e sequer busca emprego. O principal motivo alegado por mulheres para desistirem de procurar trabalho é a carga de afazeres domésticos. Em 2022, quase 44% das que se afastaram do mercado de trabalho disseram que precisaram ficar em casa. Entre os homens, esse índice foi de apenas 10%.

O cenário é ainda pior para mães solo com filhos pequenos, muitas vezes as únicas responsáveis pela renda de subsistência de suas famílias. A participação desse grupo no mundo profissional vinha aumentando desde 2015, mas voltou a cair. Era de 62% antes da pandemia.

No segundo trimestre de 2020, no início das medidas de isolamento, apenas 53% delas conseguiam trabalhar. No fim do ano passado, esse índice ainda não havia se recuperado. Era de cerca de 60%.

Marianne Carvalho era bartender em um hotel na Praia do Forte, na Bahia, mas foi demitida logo no início da pandemia. Em agosto de 2020, mudou-se para o bairro da Vila Sônia, em São Paulo. Não conseguiu mais reingressar definitivamente no mercado de trabalho. Com um filho asmático de 6 anos para cuidar, ela conta que buscou uma vaga por quase dois anos, mas acabou desistindo no ano passado:

“A primeira pergunta que eles fazem quando vão te contratar é se você tem filho pequeno. A maioria das mulheres hoje não consegue voltar (a trabalhar) por causa disso, porque desclassificam a gente logo por causa das crianças.”

Sobrecarga materna

Mãe solo, Marianne diz que às vezes, consegue dividir os cuidados com a criança com sua mãe, avó do menino, e faz alguns bicos. O pai do filho manda alguma ajuda. Mas ela quer voltar a ter a própria renda. A dificuldade aumentou no ano passado, quando Marianne teve um acidente vascular cerebral (AVC) e um infarto.

“Tenho cursos de confeitaria, assistente administrativo e capacitação em RH. Quero voltar a procurar trabalho depois que os médicos me liberarem”, planeja.

A taxa de desemprego apurada pelo IBGE, que mede somente a população que procura trabalho mas não encontra, também foi maior entre as mulheres na pandemia e vem demorando mais para cair que a dos homens. Em 2020, o índice alcançou 19% entre elas e 13% entre eles.

A recuperação do patamar pré-pandemia para os homens ocorreu já na metade de 2021, caindo para 10%. Para as mulheres, a melhora ocorreu apenas no início de 2022, ficando em 14%.

“A sobrecarga recai sobre a mãe. As escolas ficaram muito tempo fechadas no Brasil, e as mães solo têm uma rede de apoio menor. Além disso, uma parcela grande das mulheres trabalhava com serviços, eram empregadas domésticas, cabeleireiras. São serviços que foram fechados e demoraram mais para reabrir”, analisa a economista Lorena Hakak, professora da UFABC e presidente do GeFam.

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