Quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 18 de novembro de 2024
Na semana passada assistimos, infelizmente, dois fatos que fazem jus ao questionamento proposto. O primeiro virou notícia mundial pautada pelo atentado criminoso do Tiu França em Brasília. O segundo teve uma repercussão infinitamente menor, e não deve passar batido: o racismo.
Claro que todos os meios de comunicação, em suas diferentes plataformas, tem tratado ambos os casos com o devido critério das boas práticas do jornalismo. Em relação ao acontecido na capital federal, até escrever esse texto, existe clareza sobre as motivações que alimentaram o terrorista. Sim, terrorista ele promoveu e expôs milhares de pessoas a perigo e o patrimônio público. Esse conceito está expresso na Declaração sobre Medidas para Eliminar o Terrorismo Internacional da ONU, do qual o Brasil é signatário.
Depois do episódio não restaram dúvidas que o Tiu já havia manifestado, nas suas redes, e ameaçado figuras públicas e dando um, avant-première do que iria fazer.
É importante reconhecer a competência e eficácia da polícia judicial e dos agentes de segurança que rapidamente interceptaram o criminoso quando ele iniciou o atentado, impedindo uma tragédia com várias vítimas.
No caso de racismo, refiro-me ao processo eleitoral da OAB Barra da Tijuca onde a diretora de eventos da entidade compartilhou em um grupo de WhatsApp vídeo com a frase “advocacia de verdade, sem ciganos, sem forasteiros, sem traidores”.
A disputa pelo comando da subseção do bairro no Rio de Janeiro tem a filha de uma cigana como candidata a vice-presidente. A primeira cigana a se formar em Direito no Brasil. Inacreditável foi o que ela disse após sua mensagem racista, que ela negar ser autora, ter virado notícia: “por descuido a mensagem, sem qualquer intenção de incitar ódio, preconceito ou discriminação, de qualquer tipo.” Disse mais “O descuido ocorreu diante da multiplicidade de mensagens recebidas em momento de alegria e euforia”.
Feito a contextualização sublinho que a intenção desse artigo não é registrar constatações já públicas e sim propor uma reflexão a partir de dois conceitos. O primeiro é parte de um texto do Paulo Coelho inspirado, segundo alguns, numa frase de Buda. Nós somos o que pensamos. Tudo o que somos surge de nossos pensamentos. Com o pensamento, construímos e destruímos o mundo. Ficou para lá de comprovado, via redes, que o Tiu fez surgiu do seu pensamento. Ele tentou materializar o seu pensar. Deu no que deu.
O outro conceito é uma versão minha do texto de um dos pais do pensamento liberal, o economista francês Frédéric Bastiat com o título “O que se vê o que não se vê”. Não vou entrar no enfoque econômico do autor, mas me permito a enquadrar que o que temos assistido nos campos do racismo, preconceito e atos terroristas permite a analogia. Desnecessário usar outras abordagens para tal, como a análise do discurso, em ambos os casos.
Portanto, responsabilizar o WhatsApp e outras redes sociais por facilitar atos criminosos é desconsiderar a realidade que a amplitude dos meios aproximaram ideias, conhecimentos, gostos, opções de A a Z. De todos os lados. Hoje contesto a expressão, que aprendi e preguei por décadas, do filósofo canadense McLuhan: O Meio é a Mensagem. Na sua opinião ainda é?
*Gil Kurtz publicitário, diretor da KG CONSULTORIA e Vice- presidente de marketing e Comunicação do Fórum Latino-americano de Defesa do Consumidor, Conselheiro da ADVB RS e AJE POA.