Quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 13 de janeiro de 2024
Os conservadores vieram para ficar. Antes de Bolsonaro, eles simplesmente tinham vergonha de dizer que pertenciam ao campo da direita. Nestes últimos anos saíram do armário, por assim dizer.
Não aportaram à cena política organizados. Vieram aos trancos e barrancos e em pouco tempo firmaram posição: são, sim senhor, protagonistas. Existem, elegeram seus pró-homens e líderes. Se manifestam no Parlamento, nas ruas. Não se os pode ignorar.
Já existiam antes? Sim, mas em silêncio. Era o que costumava denominar de “maioria silenciosa”, quando as esquerdas dominavam as ruas. Resolveram romper o silêncio e desfraldar ruidosamente suas bandeiras. Passaram os olhos em livros, como nunca haviam feito, e descobriram Olavo de Carvalho, que lhes transmitiu as primeiras lições, o ABC do conservadorismo e da direita. Uma pena: não poderiam ter guru tão desqualificado.
Eles poderiam vir de outras vertentes. A posição política de direita, conservadora, não precisa ser reacionária, golpista, autoritária, racista, misógina, homofóbica. A direita não precisa ser fascistoide.
Não há nada a opor, em princípio, a alguém que , sendo conservador, seja ao mesmo tempo um democrata, isto é, a favor de eleições diretas e livres para escolha de governantes e representantes, do pluripartidarismo, da alternância do poder, da liberdade de expressão e pensamento, da liberdade da imprensa, da harmonia e independência dos poderes, do Estado de Direito, do império da lei.
Partindo de tais pressupostos é legítimo que o cidadão seja a favor da propriedade privada dos meios de produção, o direito e a liberdade de empreender, o Estado mínimo, o equilíbrio e a responsabilidade fiscal, isto é, que o Estado, em todas as suas instâncias não gaste além do que pode arrecadar. Com tais premissas, não é nenhum acinte ser contrário às cotas raciais, às políticas públicas e de concessão de benefícios como o Bolsa-Família, ProUni, etc.
Você pode discordar dessa visão de mundo, mas aqueles que a escolhem têm o mesmo direito dos seus oponentes progressistas e de esquerda de defendê-la e professá-la. É sobre esses pressupostos que a democracia funciona ou, ao menos, deve funcionar.
No embate político, no entrechoque das ideias, ninguém é obrigado a abrir mão dos seus valores e princípios, e ninguém tem o direito de impô-los aos demais. Na democracia, ninguém pode se arvorar de ser ou saber mais do que os outros – ninguém é detentor de superioridade moral sobre os outros.
Tais considerações são inúteis no estágio de luta política em que estamos. Os contendores, à esquerda e à direita, movem suas pedras no jogo político ignorando as normas mais comezinhas de respeito e tolerância entre si. Não são adversários da arena da política, são inimigos brandindo espadas e cuspindo fogo.
Os apelos à concórdia e à paz, a ideia da unidade nacional, tudo se perde no pandemônio de ataques e xingamentos, quando não da violência física, e ninguém, de lado algum, acena com a bandeira branca. Tudo poderia começar pelo reconhecimento de que o outro, o adversário, existe e têm o direito de existir.