Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

A formação do governo

Dentro do prazo, Lula concluiu a formação do seu governo. É um desafio fascinante definir o modelo, formar a equipe, cogitar e apontar os nomes, contemplar a todos – companheiros de primeira hora, partidos, setores da economia, proporcionalidade de raça e de gênero, representações regionais. Ao mesmo tempo as escolhas devem se inserir na lógica de constituição de uma base parlamentar de apoio. Por causa dessa razão estratégica, é possível e provável que na equipe ministerial constem até nomes que sequer votaram em Lula.

É ciência, arte e sorte aleatória. A senadora Simone Tebet sonhava com o Ministério do Desenvolvimento Social mas acordou com um Ministério do Planejamento desidratado. Dois novos ministros do PT, já nomeados, e convidando pessoas para trabalhar nos respectivos ministérios, foram, por assim dizer, desconvidados na última hora: tiveram de mudar os planos, para acomodar as conveniências e as necessidades de apoio parlamentar no novo governo.

Era de se supor que Lula daria especial atenção aos pastores das igrejas evangélicas – os quais, em massa, fizeram uma campanha não muito digna de virtudes cristãs contra ele. Até que o novo presidente tentou, ao escalar três evangélicos na equipe ministerial: Jorge Messias (o Bessias), Marina Silva e Daniela do Waguinho. Mas a bancada evangélica age como um partido político, e já avisou que esses ministros não os representam.

As pressões vêm de todo o lado, dos que têm todo o mérito – currículo, competência, lealdade, afinidade política e ideológica – e dos que por desfaçatez e oportunismo e, em ritual que se repete a cada quatro anos, também comparecem ao balcão de pedidos.

Assim, a capital da República, Brasília, nos dias que antecedem a posse, se transforma em um ambiente eletrizante, cheio de informações e contrainformações, em que as apostas se concentram no nome de alguém, o qual em seguida perde substância e desaparece do radar. Ao sabor das movimentações dos bastidores e das notícias da imprensa, no grande palco ao mesmo tempo escuro e iluminado, os protagonistas do jogo vivem uma experiência única, que não está nos livros e não se compra em farmácia.

Uma construção assim complicada, pode ser bem-sucedida? No Brasil são 37 ministérios, nos Estados Unidos são apenas 15; no Reino Unido, 22, mas na França são 41 e no Canadá, 38. A princípio parece que um número mais enxuto de ministérios teria maior funcionalidade. Mas não há como saber, não é receita de bolo.

Seria necessário um projeto coerente e integrado de governo, talvez um projeto de nação. Mas isto não existe e nem – a rigor – jamais existiu no Brasil. Trata-se de um conjunto de promessas de campanha, meio desconjuntadas, que entre si pouco guardam de coerência e integridade. Tudo nesta hora se faz sob o primado da governabilidade, no fragmentado modelo partidário brasileiro, em que nenhum dos partidos reúne sozinho as condições de governar.

Ao final da etapa de constituição e formação de governo, Lula se saiu muito bem. Mas se o governo vai ser bom só o tempo – o senhor da razão – dirá.

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