Segunda-feira, 10 de março de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de março de 2025
A globalização trouxe muitos marcos significativos: estamos mais próximos em vários aspectos. Mas a sobrecarga de informações nas plataformas, por outro lado, é avassaladora. Elas circulam mais do que podemos absorver, além da internet ser um lugar onde são exibidas as vidas felizes, como um suposto modelo em total plenitude.
A ideia de eficiência saiu da terminologia do trabalho para assumir o controle de toda a nossa vida. Agora, o fim de semana também precisa adotá-la. As crianças têm dezenas de atividades extracurriculares e sempre há mais uma para descobrir, como aquela que outra criança da classe faz e, por isso, deveríamos inscrever nosso filho.
O dia, portanto, acaba sendo uma maratona diária, por conta de uma síndrome que começou a ser discutida em 2004, popularizou-se em 2010 e foi incorporada ao dicionário em 2013. Trata-se do FOMO (fear of missing out, em inglês), traduzido como o medo de perder algo.
Com o surgimento dessa síndrome, os cientistas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, a definiram como “a apreensão generalizada de que outros possam estar tendo experiências gratificantes das quais um está ausente”. É um fenômeno caracterizado pelo desejo de permanecer continuamente conectado com o que os outros estão fazendo, descobrindo coisas novas e desejando copiá-las.
As experiências de terceiros, nem sempre reais, geram no espectador um sentimento de ansiedade, inquietação e medo de perder um evento, resultando numa sensação de insatisfação com a própria vida pessoal.
— O conceito de que o FOMO implica um efeito negativo, devido as necessidades sociais insatisfeitas, é semelhante às teorias sobre as consequências emocionais negativas do ostracismo social — explica o especialista Aditya Sharma, neurocientista do Departamento de Neurociência da Universidade de Pittsburgh, que se dedicou a desvendar esse fenômeno contemporâneo.
— O FOMO é um fenômeno psicológico relativamente novo. Pode existir como um sentimento episódico que ocorre no meio de uma conversa, como uma disposição a longo prazo ou um estado mental que leva o indivíduo a perceber um sentimento mais profundo de inferioridade social, solidão ou raiva intensa. Mais do que nunca, as pessoas estão expostas a muitos detalhes sobre o que acontece com os outros e enfrentam a contínua incerteza sobre se estão fazendo o suficiente — afirma o neurocientista.
Como sentimos que estamos perdendo algo bom?
— Em primeiro lugar, há a percepção de estar perdendo algo, seguida de um comportamento compulsivo para manter essas conexões sociais. O aspecto social do FOMO poderia ser colocado como uma relação que se refere à necessidade de pertencimento e à formação de relações interpessoais fortes e estáveis. Por outro lado, esse fenômeno é considerado um tipo de apego problemático às redes sociais e está associado a uma variedade de experiências e sentimentos negativos de vida, como falta de sono, redução da capacidade para a vida, tensão emocional, efeitos no bem-estar físico, ansiedade e falta de controle emocional — relata Sharma.
É um círculo vicioso: entro nas redes sociais para disfarçar minha ansiedade, mas piora
— De fato, as redes proporcionam um meio compensatório para que pessoas com ansiedade abordem suas necessidades sociais insatisfeitas de uma maneira diferente da comunicação cara a cara. A utilização dessas plataformas pretende contribuir para facilitar a comunicação de quem tem déficits, compensando a sua falta de ligação com muito menos esforço e de forma instantânea. No entanto, essa ‘compensação social’ pode ser problemática quando reforça a evitação do encontro e, consequentemente, aumenta a ansiedade — afirma.
— O FOMO também está associado ao uso problemático das redes devido ao fácil acesso, permitindo que, principalmente os adolescentes, interajam à vontade e sintam a necessidade constante de validação pessoal — conclui o neurocientista.
Existem sinais de alerta de que você sofre de FOMO?
— Quando não é possível sentir-se feliz pelos outros ou, pelo menos, indiferente, e surge a preocupação ao ver que eles estão desfrutando de atividades sem nós. Além disso, quando por obrigações familiares ou de trabalho não se pode fazer parte dos planos sociais, é preciso entender que se está diante de um alerta. O mesmo ocorre se há a necessidade de publicar constantemente nas redes sociais tudo o que se está fazendo, especialmente as coisas positivas, e evitar mostrar os tropeços por medo de sentir-se pouco importante no mundo digital — explica. As informações são do portal O Globo.