Quarta-feira, 20 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 4 de agosto de 2024
Ou você envelhece, ou você morre jovem. Não há opção.
Porém, se é algo inevitável, por que, então, é um tabu? O que levou a nossa sociedade a discriminar quem tem mais idade? Por que o mercado de trabalho resiste a contratar gente mais velha? Como, afinal, chegamos ao ponto de ter que combater o que denominamos como uma forma específica de preconceito que é o etarismo?
Acredito que o ponto fundamental para esse debate parte da extrema importância dada à imagem, a partir das novas tecnologias surgidas no século XX.
Até então, os seres humanos seguiam o ciclo natural da vida, tranquilamente sabendo que passavam da infância para a adolescência, quando casariam, reproduziriam e, depois, criaram a família e envelheceriam para morrer. Ponto. A vida era, basicamente, funcional conforme as demandas da natureza. Estava tudo bem envelhecer depois que se cumprisse a função social à qual todos estavam subjugados.
Porém, vivemos uma mudança de profunda impacto cultural no século XX, com o advento, principalmente, do cinema. O recurso visual escancarou a força com que a beleza abala a todos nós. Do nada, o mundo passou a encarar, em tamanho gigante, rostos e corpos, e é natural que a estética tenha ganho uma força tremenda, como jamais visto!
A indústria cultural, movida pelos padrões americanos, apresentou mulheres sensuais e de rostos perfeitos, e homens viris como sendo o suprassumo da raça humana. Afinal, nós amamos o que é belo – e está tudo bem com isso. A busca pela beleza é inerente à vida. A natureza é bela, o que é saudável é belo, o que é bom é belo. Nossos olhos buscam, naturalmente, a harmonia das formas. Nós gostamos de ter prazer em ver coisas bonitas – ainda bem! Isso faz do nosso mundo um lugar lindo de se viver.
Até aí, tudo bem. Acontece que a beleza acabou atrelada à juventude. Esteticamente, é quase impossível desconsiderar o fato de que um corpo no auge dos seus vinte anos, repleto de viço e colágeno, é imbatível. O que é compreensível, pois se trata da forma de chamar a atenção para um dos deveres da vida na terra: chamar a atenção para reproduzir. Esse ponto é especialmente cruel para as mulheres, que têm um ciclo reprodutivo finito. Logo, segundo a natureza, são atraentes apenas enquanto férteis. Sim, trata-se de uma verdade.
Ocorre que resolvemos desafiar a natureza! A medicina, a ciência, a tecnologia, tudo se voltou ao intuito de nos fazer viver mais… e melhor! Combatemos os sinais do tempo para manter intacta a nossa “casca” externa, mas também para manter a mente em funcionamento, apesar da perda natural e progressiva que os anos nos impõem.
Só que temos uma nova sociedade absolutamente inédita! O ser humano jamais teve uma expectativa de vida tão alta! O parâmetro de “velhice” mudou, drasticamente. Nosso padrões culturais, contudo, ainda não acompanharam essa mudança concreta. A funcionalidade do ser humano transcendeu à necessidade primária que era a de reproduzir.
Ou seja, não é preciso ser fértil para ser útil. E, por mais crua que essa frase pareça, ela é real.
Precisamos entender que, física e mentalmente, uma pessoa de cinquenta anos, hoje, que investe em si mesma, é muito mais apta a suprir desejos sociais (seja pela beleza, seja pela capacidade profissional, seja pelas habilidades de relacionamento) do que alguém mais jovem. A sabedoria entra como um elemento diferencial fundamental!
E, convenhamos: é hora de retomarmos o respeito que se tinha pelos mestres, por aqueles que acumulavam a experiência dos anos para dividir com a sua tribo, juntando tal admiração à realidade de que, sim, a terceira idade, hoje, bomba!
Que se quebre o tabu da velhice: só é velho quem perde o brilho no olhar. Enquanto houver saúde e enquanto houver coragem, há vida. E vida útil! Vida para oferecer ao mundo o seu melhor. Vida para compartilhar aprendizados, histórias e, claro, beleza. Tudo de acordo com o momento da jornada.
O que, afinal, pode ser mais belo do viver, dia após dia, e evoluir? Talvez evolução venha a se tornar o grande paradigma da beleza. Quem sabe?
Finalmente, talvez o conceito de “melhor idade” venha até a fazer sentido: saudáveis, despertos, espertos. Belos. E prontos para viver o que jamais foi vivido.