Sábado, 28 de dezembro de 2024

A perigosa moda de funcionários gravarem demissão para postar no TikTok

Em mais uma mudança do cenário atual do trabalho, muitos profissionais são demitidos em chamadas de vídeo nas suas próprias casas – uma situação desoladora para os profissionais jovens, especialmente se estiverem sendo demitidos pela primeira vez.

Foi o caso de Brittany Pietsch, que trabalhava há três meses e meio na empresa Cloudfare quando foi demitida. Ela compartilhou nas redes sociais o momento em que foi dispensada em um vídeo intitulado “Ponto de Vista: Estás prestes a ser despedido”, criticando a empresa por dispensá-la sem explicação. O vídeo viralizou.

Alguns observadores podem considerar os vídeos de demissão transparentes e empoderadores, especialmente quando conseguem se identificar com essa experiência. E a seção de comentários também pode ser um lugar para oferecer conselhos profissionais sobre como superar uma demissão.

Mas especialistas alertam que transformar uma demissão em conteúdo de rede social, por melhores que sejam as intenções, pode trazer consequências profissionais de longo prazo.

Geração Z

A hashtag #layoffs (demissões) no TikTok já atraiu mais de 366 milhões de visualizações. Esse pico de interesse é totalmente esperado. Afinal, as demissões em massa no setor de tecnologia em 2023 invadiram o ano novo.

Google, Amazon e outras gigantes da tecnologia reduziram seus quadros de funcionários de 1° de janeiro para cá. E demissões em empresas de comunicação continuam a atingir milhares de pessoas.

Para os profissionais da geração Z (os que nasceram entre 1995 e 2010) que estão no centro da tendência das demissões ao vivo, os vídeos podem ser interpretados como extensões do conteúdo sobre sua vida cotidiana, publicado na forma de vídeos Get Ready With Me (GRWM – “apronte-se comigo”, em tradução livre). Nesta seção do TikTok, os criadores de conteúdo apresentam suas rotinas diárias aos seus seguidores.

Os criadores ganham exposição oferecendo ao público a oportunidade de observar sua vida diária. E, seguindo esse padrão, a demissão do emprego pode ser algo perfeitamente normal para ser compartilhado nas redes sociais.

As demissões simplesmente podem gerar bom conteúdo, perfeitamente alinhado aos formatos de formação de tendências e temas relativos ao zeitgeist (o espírito da época).

Para os espectadores, os vídeos oferecem uma forma de se sentirem menos sozinhos em um novo mundo do trabalho, com demissões ocorrendo frequentemente em chamadas de vídeo de 10 minutos no home office do funcionário, em vez da privacidade de uma sala de conferências sem janelas.

Novo panorama

À parte do seu valor como entretenimento, esse tipo de conteúdo também reflete o panorama profissional de momento, depois da mudança de poder favorável aos funcionários, especialmente em meados do ano passado.

Ao lado dos movimentos trabalhistas, como o “verão de greves” de 2023 (um período de atividade sindical generalizada com grande repercussão nos EUA e no Reino Unido, com os trabalhadores conseguindo acordos em níveis recorde), os vídeos de demissão ao vivo questionam o padrão segundo o qual os empregadores sempre detêm o poder.

Os vídeos também refletem a ideia de que os profissionais estão menos preocupados em proteger um padrão de profissionalismo possivelmente ultrapassado e mais motivados para promover a mobilização e a solidariedade no ambiente de trabalho.

E, para muitos desses criadores de conteúdo, isso significa responsabilizar os empregadores, mesmo depois que os profissionais deixam de fazer parte da sua folha de pagamento.

Poste com cautela

A ira dos criadores de vídeos de demissões pode ser justificada, mas analistas aconselham os jovens profissionais a reconsiderar sua abordagem. Eles chegam a criticar esses profissionais como sendo ingênuos e precipitados.

Farah Sharghi, recrutadora da área de tecnologia, criadora de conteúdo e coach profissional de São Francisco, não concorda com as posições extremistas, mas recomenda cautela.

“Embora esses vídeos possam oferecer apoio e solidariedade, eles também têm o potencial de prejudicar as perspectivas profissionais futuras daquela pessoa. As grandes empresas de tecnologia, por exemplo, formam um mundo pequeno no topo [das companhias] e, se um desses vídeos viralizar, é mais do que provável que um recrutador, um gerente de contratações ou um entrevistador tenha visto.”

Este, de certa forma, é um caso de assertividade extrema nas redes sociais, que pode fazer o gerente parar para pensar antes de contratar um funcionário. E, em alguns casos, esses vídeos podem até colocar seus criadores em dificuldades.

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