Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de janeiro de 2025
No programa de variedades do apresentador Faustão tinha um quadro em que as pessoas subiam uma escada e tentavam atravessar uma ponte, se equilibrando, enquanto outra pessoa, com tiros de bolas de futebol, tentava derrubá-las. Muitas caiam, mas havia um caminho possível a ser trilhado. Não é o caso do triste episódio da construção da nova ponte de Porto Alegre.
No trecho entre a ilha dos Marinheiros com a ilha do Pavão. Os moradores das comunidades que ali estão há muitos anos, não por culpa deles, mas pela questão social, não têm mais acesso aos ônibus, às escolas das crianças, ao trânsito natural do direito de ir e vir, ao menos que se disponham, é o que estão fazendo, de transitar a pé, pelo barro, pelo lixo que deu causa a obra, pelo banhado, pois as alças que dão o acesso a ponte se estenderam de tal modo que se transformaram num muro por onde não é possível atravessar.
Por outro lado, embora não seja engenheiro, o traçado com pouca altura impôs, inevitavelmente, uma ponte com pouca altura, por onde só acessam pequenas lanchas e embarcações. Foi-se um braço do Rio. O histórico Clube Navegantes São João, sediado ao lado da ponte, perdeu atracação de barcos um pouco maiores. Parece piada, um Clube Náutico onde os barcos não chegam. Assim, outro muro, agora atravessando um braço do rio, terminou com a circulação da hidrovia, o acesso das pessoas, enfim. Me associei a uns poucos navegadores que convivem com Guaíba, o nosso sistema hidroviário e tem no Delta do Jacuí o ar que dá vida a nossa Capital.
Recebemos apenas uma resposta lacônica que o cálculo de engenharia estava correto, que o traçado era aquele mesmo, que não seria alterado e que as comunidades não seriam prejudicadas, situação idêntica a navegação, a ponte teria a mesma altura da antiga, todos, a olho nu, sabemos que não.
Curiosamente a obra foi aprovada, autorizada e contratada pelo Governo Federal que mais se diz comprometido com os que mais precisam. Não vou fazer deste artigo uma tribuna política, erro não tem ideologia, a ponte está pronta e serve grande parte da nossa Capital. Alguém , em algum momento, teria que tomar frente. Cansada de exaustivas tentativas de conciliação, o Prefeito de Porto Alegre ingressou com ação civil pública contra o Governo Federal/DNIT, no sentido de responsabilizar quem deu causa, corrigir o erro, dar dignidade aquelas pessoas desassistidas, e devolver o rio ao seu trânsito natural. O tema é do conhecimento de toda sociedade, confiamos que o Judiciário e os MPs exerçam o seu papel.
A irresignação não é só minha, da Prefeitura, das comunidades atingidas, mas um alerta aos Portoalegrenses, ainda é tempo. Enquanto isso, diferentemente da ponte do rio que cai, cujos jatos de bola de futebol, derrubavam no rio uma ou outra pessoa, continuamos todos dentro d’água, uns dum lado da ponte, outro do outro, até que seja feita a correção, ou que a próxima grande enchente, um dia ela vira, se encarregue disso.
Eduardo Battaglia Krause
Advogado e escritor