Sábado, 28 de setembro de 2024

Acúmulo de células da pele envelhecida, como a das rugas, degenera outras partes do corpo

Rugas podem ser mais do que marcas do tempo, sinais de velhice. Uma série de novos estudos propõe a hipótese de que elas não são apenas resultado, mas também causa de envelhecimento, inclusive o de outros órgãos. Seriam emissárias de coquetéis químicos que transformam células em zumbis e degeneram precocemente o organismo, em especial o cérebro.

“Nossa pele não é somente uma barreira protetora e uma janela para o que acontece no interior de nosso corpo. À medida que envelhece e perde funções, ela também leva para outros órgãos problemas causados por agressões externas, como as provocadas pela radiação solar e o fumo. Se a sua pele tem sinais de envelhecimento, como as rugas, por dentro não é diferente”, afirma Cláudia Cavadas, líder do grupo de investigação de neuroendocrinologia e envelhecimento do Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra, em Portugal.

Ela coordenou um artigo que analisa resultados de pesquisas com novas hipóteses para o envelhecimento. O trabalho foi publicado na revista Trends in Molecular Medicine e tem chamado atenção.

A pele é muito mais complexa do que se costuma imaginar. É o maior órgão do corpo humano, nos protege de todo tipo de agressão, seja do sol, do fumo, da poluição, de substâncias químicas e ataques de micro-organismos nocivos. A pele produz vitamina D, está ligada à imunidade, trabalha para a nossa regulação térmica.

Como se sabe, a passagem do tempo causa inexorável envelhecimento não apenas na pele, mas em todo o corpo. Porém, na pele o envelhecimento é potencializado por fatores ambientais, como má alimentação, poluição, fumo e, principalmente, a radiação solar. Os raios solares degradam o colágeno e a elastina. O resultado são as rugas.

A pele envelhecida apresenta alterações moleculares, celulares e estruturais. Dentre essas transformações está o acúmulo de células senescentes. Isto é, células envelhecidas, disfuncionais, como as existentes em rugas e manchas. A radiação UV também danifica o DNA e amplifica o processo de senescência.

E, à medida que se acumulam, afirma Cláudia, essas células senescentes podem induzir ou acelerar disfunções associadas ao envelhecimento em outras células da pele e demais órgãos e tecidos.

A senescência afeta todo o corpo, faz parte do processo normal de envelhecimento, mas na pele é pior porque não apenas ela é bombardeada por fatores externos quanto porque está conectada a outros órgãos e tecidos. É por isso que o acúmulo de células da pele envelhecidas, como as das rugas, afetam outras partes do corpo, diz a cientista.

É como se as células senescentes fossem zumbis, que já não sabem bem o que são, não fazem o que deveriam e se portam como mortas-vivas levando sua sina a outras células.

Uma das primeiras perdas de função das células senescentes é a de limpeza. Normalmente, as células conseguem se livrar de restos de proteínas e outras estruturas imprestáveis. A ciência chama isso de autofagia. A célula envelhecida não se limpa como deveria, acumula “lixo” em seu interior. E isso tem efeito em cascata, pois impede que ela cumpra outras funções.

As células senescentes liberam proteínas causadoras de inflamação que danificam as células saudáveis a sua volta, como microzumbis.

O acúmulo de células senescentes está ligado a uma série de doenças da velhice, como câncer, males cardiovasculares, osteoartrite, diabetes do tipo 2, catarata e demências.

Na pele, os efeitos do acúmulo de células senescentes são visíveis. Ela fica mais fina, perde elasticidade, tem reduzida sua capacidade de regeneração e de funcionar como barreira contra agressões externas. Fica enrugada, manchada e com aparência quebradiça.

Isso é o que se vê. Mas a nova hipótese é que por estar conectada a outros órgãos, a pele exporte coquetéis aceleradores de velhice.

Impacto 

O envelhecimento da pele já foi correlacionado com disfunções no sistema imunológico e no risco de doenças cardiovasculares, diz o artigo. E um sistema cutâneo neuroendócrino sustenta uma comunicação entre a pele e o cérebro.

Cláudia enfatiza que, por exemplo, o envelhecimento da pele induzido pela radiação ultravioleta (UV) tem impacto sobre o cérebro. Em estudos com animais se viu que a radiação UV diminui a formação de neurônios no hipocampo, estrutura cerebral ligada à fixação de memórias, ao aprendizado e às emoções.

O grupo da cientista estuda particularmente a associação entre as alterações na pele e as funções do hipotálamo. Esta é a região do cérebro que regula funções essenciais à vida, como metabolismo, fome, sono, crescimento e reprodução. É um maestro que mantém o equilíbrio do organismo ao reger sinais metabólicos, hormonais, neuronais e ambientais.

Cláudia observa que o hipotálamo está envolvido na longevidade ao regular níveis de hormônios essenciais ao funcionamento do organismo e cuja concentração declina com o avançar da idade.

Os cientistas dizem ainda que é uma questão em aberto se remover as rugas teria algum impacto no processo de envelhecimento do restante do corpo.

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