Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Alemã ganha prêmio com aparelho anticoncepcional que paralisa espermatozoides

Um aparelho projetado pela designer alemã Rebecca Weiss, em parceria com pesquisadores americanos, pode se tornar um dos poucos anticoncepcionais masculinos. Batizado de Coso, ele foi projetado para dar um “banho” de ultrassom nos testículos e, assim, impedir a mobilidade dos espermatozoides. O protótipo ganhou o prêmio nacional de design do James Dyson Awards.

O Coso funciona como uma pequena banheira para uso doméstico onde o homem coloca os testículos a cada dois meses para impedir a movimentação dos gametas masculinos responsáveis pela reprodução, e consequentemente evitar que eles cheguem ao óvulo e o fertilizem. A ação é proporcionada por meio de um ultrassom.

“O princípio é muito interessante, ele faz com que a cauda do espermatozoide perca a mobilidade. É uma ideia antiga, testada com sucesso em animais, e que em tese pode funcionar em humanos”, diz Edson Borges, especialista em reprodução humana e diretor científico do Fertility Medical Group, em São Paulo.

O estudo por trás do Coso foi conduzido por pesquisadores dos Estados Unidos e publicado na revista científica Reproductive Biology and Endocrinology. O experimento, feito com ratos, funcionou, mas os responsáveis destacaram que ainda são necessárias mais pesquisas para lançar a tecnologia para humanos.

Borges destaca, por exemplo, que não se sabe quanto as ondas de ultrassom conseguiriam diminuir a mobilidade dos espermatozoides, e se essa redução seria suficiente para evitar a fecundação.

A criadora do Coso espera que o prêmio do James Dyson Awards, de 2.000 euros na categoria nacional e 30.000 na categoria internacional – da qual é um dos finalistas – ajude a financiar testes clínicos para uma eventual confirmação da eficácia e aprovação do aparelho pelas agências reguladoras.

Dificuldades para o anticoncepcional masculino

Desde a criação da pílula anticoncepcional na década de 1960, utilizada hoje por mais de 214 milhões de mulheres no mundo, cientistas buscam um método contraceptivo que funcione de forma parecida e possa ser direcionado aos homens. Porém, existem dois principais motivos que tornam esse procedimento um desafio para a medicina, explica Borges.

O primeiro tem a ver com a produção dos óvulos, e os masculinos, os espermatozoides. A mulher, mesmo antes de nascer, na 20ª semana de gestação, já produziu todos os óvulos que serão liberados durante a sua vida. Assim, o processo de ovulação é responsável apenas pela liberação de um desses gametas por mês.

Já os espermatozoides são produzidos pelo homem a cada 75 dias, e em quantidade suficiente para que, a cada ejaculação, sejam liberados em média de 25 milhões a 200 milhões de gametas.

“Existe uma variação muito grande da produção durante toda a vida do homem. Então, essa dinâmica de produção torna bastante difícil que um anticoncepcional atue, porque a cada 75 dias tem uma população nova dos gametas”, explica o especialista.

Além disso, uma segunda dificuldade é em relação aos principais hormônios responsáveis pelos ciclos reprodutivos: o estrogênio e a progesterona, no caso da mulher, e a testosterona, no caso do homem.

Na formulação da pílula anticoncepcional feminina, geralmente é feita uma combinação do estrogênio e da progesterona em dose baixa, mas suficiente para que o organismo da mulher entenda que não precisa mais produzi-los. Assim, não há mais a quantidade necessária para provocar a ovulação.

Na maioria dos casos, a ingestão diária dessas doses de hormônios não oferece grandes efeitos colaterais que causem riscos à saúde da mulher. Já para o homem, o mecanismo de ação da testosterona é bem mais amplo no corpo, e sua inibição oferece uma série de efeitos considerados mais graves, como perda de libido, mudanças de humor e disfunção erétil. Uma pílula que funcionaria com esse mecanismo para os homens, o DMAU, enfrenta dificuldades em avançar nos testes justamente por esses motivos, destaca Borges.

Porém, o especialista acrescenta que há outras pesquisas que buscam métodos diferentes de contracepção masculina. Um deles, na Índia, envolve a injeção de um polímero no canal deferente para bloquear a passagem dos gametas masculinos. O canal é como um tubo que leva os espermatozoides dos testículos para o epidídimo, onde são armazenados para posterior ejaculação.

O procedimento seria como uma vasectomia, que envolve o bloqueio permanente deste canal, só que reversível por meio da injeção de uma outra substância que dissolve o polímero e libera a passagem. Chamado de Risug, o método também é conhecido por Vasalgel e ainda está em testes.

O Risug é mais invasivo, mas tem apresentado uma alta taxa de eficácia nos testes sem apresentar grandes efeitos colaterais.

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