Quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Americanas, Oi, Marisa, Tok&Stok: entenda por que tantas empresas estão em crise

Primeiro foi a Lojas Americanas. Depois, Oi, Marisa, Nexpe (antiga Brasil Brokers) e a Tok&Stok. A lista de empresas com dificuldades para pagar dívidas, buscando reestruturação financeira ou até proteção da Justiça, não para de crescer neste ano. Por trás da série de crises, uma conjunção de fatores agrava problemas operacionais e de gestão.

O principal elemento é a alta dos juros, que encarece o crédito. A Selic, taxa básica definida pelo Banco Central (BC), disparou de 2% no início de 2021 para 13,75% em agosto de 2022 e se mantém neste patamar. Soma-se a isso a lenta retomada do consumo, afetado pela inflação e pela perda de renda da população, já muito endividada, derrubando os ganhos das corporações. Por fim, a incerteza sobre a política fiscal do novo governo compromete a confiança dos investidores, apontam especialistas.

“Empresa que presta serviço ao consumidor sofreu mais na pandemia e é mais afetada. Não vemos retomada de vendas na proporção necessária para gerar o caixa que diversas empresas precisam para pagar suas dívidas. É dívida que foi postergada nos últimos anos e que, com a alta do juro, ficou bem mais cara”, explica Eduardo Seixas, sócio-diretor da Alvarez & Marsal, consultoria especializada em recuperação judicial e reestruturação.

Abalo

A corrida por renegociação de dívidas era esperada por especialistas, mas não é vista como uma crise sistêmica. É que no início da pandemia, houve larga oferta de crédito corporativo e flexibilidade de governo e bancos para renegociar, adiando um problema precipitado agora pela escalada dos juros. E cada companhia tem seus problemas específicos, aguçados pela tormenta, como falhas de governança, conjunturas setoriais e apostas erradas.

Filipe Villegas, estrategista da Genial Investimentos, destaca que o BC foi um dos primeiros do mundo a subir juros contra a inflação. Agora, empresas enfrentam um choque de juros e outro de confiança.

Há também o componente político. A indefinição do governo sobre a política fiscal e as rusgas do Executivo com o BC dificultam a queda dos juros. Na ponta, tudo se se traduz em freio nos investimentos, observa o estrategista da Genial:

“Uma coisa seria ter uma taxa de juros a 13,75% e sinalização de queda em algum momento próximo. Mas o que temos hoje não é isso. Os fatores centrais continuam e deixam empresas muito alavancadas, minam a confiança dos empresários e mantêm estimativas de geração de caixa menor”.

Vinícius Carmona, diretor de Relações com Investidores do banco de investimentos BR Partners, avalia que uma indicação de queda, ainda que pequena, na Selic tornaria o ambiente mais propício à recuperação das empresas.

Assessoria

O BR Partners foi contratado recentemente para dar assessoria financeira à varejista Marisa, à rede de agências de viagens CVC e à Nexpe, antiga Brasil Brokers, do setor imobiliário, já em recuperação judicial. Carmona não comenta casos de clientes, mas diz que, no banco, este é o início de ano de maior demanda nessa área.

A Marisa — com 334 lojas e mais de oito mil empregados — informou que contratou a BR Partners para começar pela reprogramação de dívidas de curto prazo. Segundo a varejista, é parte do trabalho que faz para recuperar sua rentabilidade e redefinir seu modelo de negócio diante do cenário desafiador. Também conta com a Galeazzi & Associados para estruturar “mudanças necessárias para incrementar a rentabilidade e a competitividade da empresa”.

Outras companhias vão nessa direção. A Tok&Stok buscou a Alvarez & Marsal, que já atua na crise da Americanas ao lado da Rothschild, responsável pela parte financeira em meio às negociações com credores no âmbito da recuperação judicial. A distribuidora de energia Light, do Rio, contratou o apoio da LaPlace também para reorganizar dívidas.

A operadora de telefonia Oi, que havia concluído sua longa recuperação judicial no fim de 2022, voltou a pedir apoio à Justiça, dizendo-se afetada pela deterioração da economia, com queda mais acentuada em receitas de telefonia fixa e impactos de débitos do passado. A Oi diz precisar da “continuidade do processo de reestruturação de sua dívida, em discussão com os principais credores”, e equacionar a “deficitária telefonia fixa”. Americanas, CVC, Light, Nexpe e Tok&Stok não comentaram.

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