Sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Apenas 40% das crianças com menos de 5 anos estão protegidas contra a paralisia infantil

Em meio ao primeiro caso de poliomielite registrado nos Estados Unidos em quase uma década, e amostras do vírus voltarem a circular em águas de esgoto de outros lugares do mundo, como no Reino Unido, o alerta em relação ao retorno da pólio também chega ao Brasil. O temor do ressurgimento da doença é consequência direta das quedas sucessivas na cobertura vacinal contra o poliovírus, como vem acontecendo no País.

Segundo um levantamento do estudo VAXSIM, da Fiocruz, que analisa a imunização dos menores de cinco anos, apenas duas a cada cinco crianças brasileiras estão protegidas neste ano contra a paralisia infantil.

Os dados da Campanha Nacional de Vacinação contra a Poliomielite, que foi prorrogada até 30 de setembro devido à baixa adesão, mostram que até a última sexta (15) apenas 44% das crianças entre um e quatro anos receberam o reforço da vacina. Isso significa que cerca de 6,4 das 11,5 milhões de crianças elegíveis estão desprotegidas a duas semanas do fim da campanha, destacam os pesquisadores.

A doutora em saúde coletiva e coordenadora do Observa Infância Patrícia Boccolini, alerta os pais sobre o risco real que o País enfrenta hoje de retorno da paralisia infantil, e a gravidade do diagnóstico para as crianças.

“A doença é incapacitante, pode trazer sequelas para as crianças para o resto da vida. Então a possibilidade da volta desse vírus, que é real, traz um impacto gigante para a sociedade. Os especialistas estão muito preocupados porque as pessoas esqueceram como essa realidade era. Os pais precisam proteger seus filhos, a vacina está aí, disponível nos postos de saúde”, orienta Patrícia.

O poliovírus, causador da poliomielite, é considerado erradicado no Brasil desde 1994. Porém, em 2020, o relatório da Comissão Regional para a Certificação da Erradicação da Poliomielite nas Américas expressou preocupação com a possibilidade de reintrodução do patógeno no País e o colocou na lista de alto risco para a doença, ao lado de Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela.

Tendência de queda 

O esquema de imunização contra a doença no Brasil é composto de cinco doses: as três primeiras com a vacina injetável de vírus inativada aos 2, 4 e 6 meses de idade. Depois, entre os 15 e os 18 meses de idade (1 ano), é feito o primeiro reforço com a vacina de vírus atenuado, a famosa gotinha. Aos 4 anos de idade, é indicado ainda um segundo reforço, também por via oral.

O levantamento do VAXSIM ressalta que as sucessivas quedas na cobertura vacinal levaram o Brasil a ter, em 2021, a pior taxa de proteção os últimos 25 anos. Apenas 75% dos bebês completaram o esquema primário com as três doses, e somente 60% das crianças receberam o primeiro reforço. Segundo o novo levantamento dos pesquisadores, dois a cada três municípios brasileiros não atingiram a meta de vacinar 95% do público-alvo.

Segundo dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), a última vez que o Brasil alcançou a meta de cobertura contra a pólio foi em 2015. Desde 2018, nem mesmo a marca de 80% é ultrapassada. Patrícia destaca que o fenômeno da queda, estudado pelo Observa Infância, não é exclusivo do imunizante da pólio, e afeta as coberturas de todas as outras vacinas infantis disponíveis hoje pelo PNI.

“Essa queda começou antes da pandemia. A covid deu uma acentuada, mas mais ou menos desde 2016 temos observado essa tendência”, diz a pesquisadora.

Em relação ao sarampo, por exemplo, em 2019 o País perdeu o certificado de erradicação da doença, e desde então não consegue recuperá-lo. Isso porque somente 52% das crianças receberam a primeira dose em 2022 até agora, e apenas 43% completaram o esquema vacinal. O imunizante da tríplice viral – aplicado a partir de um ano de idade em duas doses, com intervalo de ao menos um mês entre elas – protege contra sarampo, rubéola e caxumba. Em 2021, a cobertura contra as doenças ficou em 63% – longe do ideal.

Causas

Para Patrícia, embora o crescimento do movimento antivacina no Brasil com a disseminação de fake news sobre os imunizantes seja alarmante, há outros pontos importantes que têm corroborado de forma mais significativa para a menor adesão às vacinas.

“Como os pais não veem crianças com pólio, isso não fica no imaginário deles, o que leva a uma percepção de risco da doença menor e leva muitos a não vacinarem os filhos. Existe a questão também da perda de oportunidade, a mãe e o pai que chega no posto e ele já está fechado pelo horário e acaba não voltando outro dia. Para alguns imunizantes, como o da BCG, são aplicados apenas em dias específicos na semana, o que é ainda pior — explica a especialista.

Ela cita ainda a falta de campanha do Ministério da Saúde para atrair os pais para as unidades de saúde. Para ela, é preciso um esforço que dure o ano inteiro, e não apenas pontualmente nas épocas da multivacinação. Com o imunizante da covid, por exemplo, Patrícia pontua que praticamente não há iniciativas de comunicação, o que se reflete na baixa cobertura contra a doença nas faixas etárias mais novas.

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