Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Após superar câncer, mulher amputada bate recorde ao correr 104 maratonas em 104 dias

Após vencer um câncer tipo raro de câncer ósseo (conhecido como sarcoma de Ewing), uma americana quebrou o recorde mundial de maratonas consecutivas. No último domingo, Jacky Hunt-Broersma, de 46 anos, correu os tradicionais 42 quilômetros pela 104ª vez, em apenas 104 dias, e aumentou ainda mais o próprio feito, após já ter superado a antiga marca, que era de 95 provas.

Desde meados de janeiro, normalmente levando cerca de cinco horas, ela completa todos os dias o percurso de uma maratona, participando, inclusive, de provas oficiais. Agora, ela espera que a conquista seja certificada pelo Livro dos Recordes. Um porta-voz da entidade disse que a certificação leva cerca de três meses.

“Parte de mim estava muito feliz por ter terminado e a outra parte continuou pensando que eu preciso correr. Sinto-me mais apertada do que em todas as 104 maratonas”, disse ela à BBC.

No momento, o foco de Jacky é recuperar o corpo após os vários dias de esforço extremo. Nascida e criada na África do Sul, ela também morou na Inglaterra e na Holanda, onde médicos a diagnosticaram com sarcoma de Ewing, um tipo raro de câncer ósseo, em 2002.

Apenas duas semanas após o primeiro diagnóstico, os médicos tiveram de amputar a perna esquerda de Jacky, quando ela tinha apenas 26 anos. “Foi uma montanha-russa. Tudo aconteceu tão rápido”, relembra.

Nos primeiros dois anos após o procedimento, Jacky conta ter lutado contra a mudança em sua vida, chegando a ter raiva por ter tido câncer e se sentir envergonhada pela deficiência. Ela chegou a usar calças compridas em público para que as pessoas não notassem a prótese.

A ideia de praticar corrida só viria em 2016, após um longo período acompanhando o marido em maratonas. Mesmo sem nunca ter pensado em correr até então, ela decidiu comprar uma prótese especial para corredores de longa distância e se inscreveu para sua primeira corrida, de 10 km.

Na véspera da prova, ela mudou sua inscrição para a categoria meia maratona – 21 km. Desde então, ela conta que decidiu explorar distâncias maiores e terrenos diferentes.  “Sou uma pessoa de tudo ou nada, então me joguei. Adoro ultrapassar limites e ver até onde posso ir”, conta.

No início deste ano, Jacky estipulou uma nova meta: o recorde de mais maratonas consecutivas. A marca entre mulheres no Guinness era de 95, estabelecida há dois anos, por Alyssa Amos Clark, uma corredora não amputada, que decidiu buscar as marcas como uma estratégia de enfrentamento à pandemia de covid.

Do Oiapoque ao Chuí

O recorde masculino no Guinness é do italiano Enzo Caporaso, de 59 anos, que completou 51 provas em dias consecutivos – embora haja registro de que o ultramaratonista espanhol Ricardo Abad tenha corrido 607 maratonas consecutivas, terminando em 2012.

Mãe de dois filhos e treinadora de resistência, Jacky começou a correr já com o recorde em mente, certificando-se de que ela sempre corresse pelo menos a duração de uma maratona. Ela fez as tradicionais maratonas de Boston e Lost Dutchman. Mas, como maratonas não são programadas todos os dias, ela também correu em ruas locais, trilhas do bairro e até mesmo em sua própria esteira em casa.

Ao todo, ela correu cerca de 4.400 quilômetros – mais que a distância entre o Oiapoque e o Chuí, extremos norte e sul do Brasil. Com os registros das corridas em suas redes sociais, Jacky arrecadou mais de 88 mil dólares (mais de 436 mil reais) para a Amputee Blade Runners, uma organização sem fins lucrativos que fornece próteses de corrida, como a dela, para amputados.

“Correr fez uma grande diferença no meu estado mental e me mostrou o quão forte meu corpo pode ser. Isso me deu uma nova aceitação total de quem eu sou e que posso fazer coisas difíceis”, comemora.

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