Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 12 de março de 2022
Uma reclamação comum entre pessoas que têm alergias e precisam utilizar lentes de contato, a necessidade de recorrentemente pingar algumas gotas de um colírio com antialérgico para aliviar os sintomas pode deixar de ser uma realidade. Na última semana, a Food and Drugs Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, se juntou aos Ministérios da Saúde do Canadá e do Japão e aprovou o primeiro modelo de lente de contato que aplica um medicamento diretamente nos olhos durante o uso do produto.
A nova categoria de lentes, desenvolvida pela farmacêutica Johnson & Johnson Vision Care, tem a adição de 19 microgramas de cetotifeno, um fármaco antialérgico utilizado amplamente no tratamento de patologias como a rinite.
O novo produto é destinado às pessoas que já sofrem com alergias nos olhos, com sintomas como coceira e incômodo, e têm o trabalho dobrado de usar a lente e pingar o colírio com antialérgico, explica Paulo Schor, professor de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, em São Paulo.
O especialista destaca que a combinação de medicamentos com lentes de contato para tornar mais fácil a administração de um fármaco é algo que já era esperado há um tempo pelos oftalmologistas, mas que não havia ainda um produto que tivesse a efetividade comprovada como o novo modelo aprovado. Agora, a expectativa é que a tecnologia seja ampliada para outras doenças que necessitam de cuidados diários com os olhos.
“É uma boa novidade porque os estudos foram bem desenhados, publicados em uma revista prestigiosa e mostram que é possível fazer uma liberação lenta de um medicamento para quem já usa lente. A gente espera muito que isso avance para outras doenças crônicas, como o glaucoma. Porque é uma doença que o paciente precisa pingar colírio uma vez por dia durante a vida inteira, mas a adesão ao protocolo ainda é muito baixa”, diz Schor.
O aval da FDA é o primeiro passo para que o produto seja comercializado nos Estados Unidos. A aprovação foi anunciada pela agência após a análise dos resultados da fase 3 dos testes clínicos, que demonstraram a eficácia do medicamento. Publicados na revista científica Cornea, os dados comprovaram que o produto é eficaz em aliviar os sintomas alérgicos em cerca de três minutos após a colocação da lente, e o alívio perdurou por, em média, 12 horas. O estudo, que envolveu 244 participantes, concluiu que não houve efeitos adversos graves.
De acordo com uma pesquisa conduzida pela Johnson & Johnson, aproximadamente 40% dos usuários de lentes de contato nos Estados Unidos sofrem com alergias e, para 80% destes usuários, é um incômodo precisar pingar gotas do colírio antialérgico enquanto utilizam o produto para corrigir a visão.
“Essas novas lentes podem ajudar a manter mais pessoas nas lentes de contato, pois aliviam a coceira ocular alérgica por até 12 horas, sem a necessidade de colírios para alergia, além de proporcionar a correção da visão”, defende o diretor de Ciências Clínicas da Johnson & Johnson Vision Care, Brian Pall, em comunicado.
Sobre um aval para a comercialização do produto no Brasil, a Johnson & Johnson afirmou, em nota, que já deu início a conversas com os órgãos regulatórios do país, mas que não há mais informações no momento.
No entanto, Schor ressalta que o novo modelo é destinado apenas às pessoas que já são alérgicas e também precisam utilizar lentes de contato. Para aquelas que acreditam ter uma reação à lente, mas na verdade estão apenas fazendo um mau uso do produto, a novidade não é recomendada.
“É para quem já usava lente de contato e um colírio antialérgico, um produto dois e um. Mas quando o paciente tem olho seco e não trata, ou não tem os cuidados necessários com a lente, o antialérgico do novo modelo não vai aliviar o desconforto”, destaca o oftalmologista.
Isso porque quando o olho está ressecado, e não há uma camada de água entre a lente e a córnea, Schor explica que a oxigenação da região fica impedida, o que pode provocar a irritação e vermelhidão dos olhos.
Esse ressecamento é o caso de pacientes diagnosticados com a síndrome do olho seco — quando as lágrimas não fornecem a umidade adequada — que não realizam o tratamento, mas também quando a pessoa não tem o hábito recomendado pelos especialistas de retirar a lente na hora de dormir, diz o oftalmologista.
Em ambos os casos, Schor diz que o tratamento é normalmente feito com o uso de colírios lubrificantes que auxiliam na oxigenação dos olhos. No entanto, ele reforça que é preciso buscar o auxílio de um especialista médico que possa prescrever a medida adequada a ser tomada dependendo da gravidade do caso.