Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

As frequentes conversas entre Alexandre de Moraes e o comandante do Exército

O ministro Alexandre de Moraes desponta, hoje, como o principal interlocutor do comandante do Exército, o general Tomás Paiva, no Supremo Tribunal Federal (STF). Na maior parte dos casos, os contatos partem do próprio general, que busca o magistrado para saber dados sobre integrantes da caserna investigados e tirar dúvidas em relação a cumprimentos de ordens judiciais.

O contato mais recente envolveu informações preliminares sobre a movimentação de um militar dentro da Força. Foi o caso da nomeação do general Richard Nunes para um dos postos mais altos do Exército, o de chefe do Estado-Maior. Antes de bater o martelo, Tomás Paiva contatou Moraes, porque o nome do general surgiu durante o caso Marielle.

Richard Nunes era secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro em 2018, quando a vereadora foi assassinada.  Naquele ano, Richard Nunes disse em entrevista acreditar que Marielle tinha sido morta por contrariar interesses de milicianos em negócios de grilagem na zona oeste da cidade.

O relatório da Polícia Federal (PF) aponta que foi ele o responsável por bancar o delegado Rivaldo Barbosa na chefia da Polícia Civil, apesar de o setor de inteligência da corporação não indicá-lo para o posto. Rivaldo está preso, sob a acusação de ter planejado o assassinato de Marielle, que, segundo a PF, tem os irmãos Brazão como mandantes.

“Lógico que essa prisão me deixou perplexo. Como é que pode um negócio assim? É impressionante. É um negócio de deixar de queixo caído. Naquela época, não havia nada que sinalizasse uma coisa dessas, uma coisa estapafúrdia. (…) Eu nunca percebi, e eles até acham que me ludibriaram. Eu posso ter sido ludibriado, como a sociedade inteira, né? A sociedade inteira foi ludibriada”, disse Nunes.

Quando o nome do general Richard Nunes apareceu no documento, o chefe do Exército contatou o ministro Alexandre de Moraes e adiantou sua intenção de promovê-lo. Na conversa, deixou claro que, se houvesse informações que comprometesse Richard Nunes, mudaria a escolha. Moraes sinalizou que poderia seguir com a nomeação.

Essa não foi a única consulta feita pelo chefe do Exército ao magistrado. Sempre que tem dúvidas sobre como cumprir as ordens do STF em relação a militares investigados, Tomás Paiva se orienta com o magistrado.

O general estabeleceu uma regra, por exemplo, para os membros da caserna que já foram presos. Esses são, obrigatoriamente, retirados de suas funções e mandados para casa. Já os investigados que não chegaram a ser detidos, mas passaram por medidas como buscas, mudam de posto, mas continuam trabalhando na Força.

 

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