Domingo, 29 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de novembro de 2024
Brasília amanheceu na última quinta-feira com carros de polícia ao longo da Esplanada dos Ministérios, vias do entorno da Praça dos Três Poderes fechadas e grades ao redor do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF). As explosões de um homem-bomba na noite anterior elevaram o alerta de autoridades sobre a segurança dos prédios públicos — e reacendeu o debate a respeito da necessidade de adaptações no projeto arquitetônico da capital federal, considerado Patrimônio Mundial pela Unesco.
A discussão colocou em lados opostos o governo do Distrito Federal, responsável por proteger os prédios públicos da capital, e a gestão de Lula. O Palácio do Planalto foi o único a não recolocar as grades que impedem a aproximação do público após as explosões em frente ao STF e em um dos estacionamentos da Câmara. A sede do Poder Executivo se opõe ao retorno das barreiras metálicas, retiradas após quase uma década com o slogan propagandeado pelo governo Lula de que a “democracia não precisa de muros”.
Nos bastidores, porém, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) mudou a rotina de segurança do Planalto — e acionou o chamado Plano Escudo, que aumenta o número de agentes e de soldados da tropa de choque do Exército no entorno da sede da Presidência da República. A pasta afirmou também ter ampliado o monitoramento no entorno das residências oficiais, onde vivem Lula e o seu vice, Geraldo Alckmin.
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Além dos gradis, estão sendo estudadas pelas equipes de seguranças de Brasília medidas como restrições de circulação de visitantes, instalações de câmeras e mudanças estruturais que dificultem ataques como o da semana passada. No Senado, o chefe da Polícia Legislativa, Alessandro Morales, disse que discutirá com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o fechamento de um dos principais acessos ao prédio, conhecido como chapelaria.
Localizada no subsolo do prédio de 26 andares projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, a chapelaria costuma ser o principal acesso para quem chega de carro no Congresso. O local fica logo abaixo dos plenários da Câmara e do Senado e é frequentado por parlamentares, assessores, autoridades e visitantes.
Porém, por serem prédios tombados, qualquer mudança nas sedes dos Poderes precisará antes passar pelo crivo e autorização do Iphan. Na capital federal planejada sem muros ao redor dos prédios públicos, a colocação de grades necessita de aval do órgão. Representantes da Câmara, do Senado, do STF e Iphan se reunirão nesta semana para discutir as medidas de segurança que estão sendo planejadas pelos órgãos públicos.
Para o arquiteto Paulo Niemeyer, neto de Oscar, qualquer mudança na estrutura da capital descaracteriza o projeto arquitetônico — inclusive as grades que por vezes cercam os prédios. Ele avalia ser possível buscar outras maneiras de dar mais segurança à Esplanada, com aumento de câmeras de monitoramento e policiais.
“Hoje a tecnologia da informação resolve tudo. A cidade pode ser inteligente. Resolver com arquitetura, com obstáculos, não adianta nada. O negócio é tecnologia da informação”, avalia o arquiteto.
Secretário de Segurança Multidimensional da Organização dos Estados Americanos (OEA), Ivan Marques concorda com Paulo Niemeyer e afirma ser um erro impedir o acesso da população ao Congresso, STF ou Planalto frente às ameaças. Para ele, o melhor instrumento de combate a atentados terroristas “é uma rede de segurança nacional com intercâmbio de informação constante e redução de burocracia”.
Em outras capitais do mundo, episódios semelhantes ao de Brasília motivaram mudanças. Em Washington, nos Estados Unidos, a preocupação com segurança ganhou nova urgência com o 11 de Setembro de 2001. As barreiras, antes temporárias, foram se tornando permanentes e juntando-se a outras formas mais invisíveis de controle, como câmeras, snipers e seguranças com armas letais.
O Reino Unido também precisou se adaptar frente às ameaças. O acesso de veículos à Downing Street, rua onde fica a sede do governo britânico, foi vetado em 1973 em meio aos conflitos na Irlanda do Norte. Barreiras móveis foram postas no início dos anos 1980 — e só foram substituídas por grades em 1989, com o medo de ataques terroristas.
Professor da Universidade de Brasília (UnB) e ex-secretário de segurança do DF, Arthur Trindade afirma que o Brasil era uma exceção no mundo em relação a atentados terroristas, e que o episódio da última semana mostra que isso mudou. “As forças de segurança vão ter que repensar o sistema, que deve evoluir para um esquema que vise a proteção contra ataques terroristas, como existe em outros países”.