Domingo, 06 de outubro de 2024

Avanço da metade à direita do espectro partidário sobre as bases municipais do País é um resultado fora da margem de erro

O avanço da metade à direita do espectro partidário sobre as bases municipais do país é um resultado fora da margem de erro. Convém aguardar o que dizem as urnas neste domingo para dimensioná-lo, mas é possível esquadrinhar os caminhos que levam a este desfecho e a viela estreita para que dele se depreendam causa e efeito.

A primeira evidência é que as bases locais da política são tradicionalmente mais conservadoras e a eleição municipal favorece largamente o incumbente. A segunda é a proporção de candidatos lançados por partidos à direita. O PL de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto lidera entre as legendas que mais ampliaram o número de candidatos, tirando o Novo, cujo crescimento estratosférico se deve à pequenez de 2020, agora refastelada, pela primeira vez, no fundo partidário.

A aposta no crescimento do PL levou Bolsonaro a passar a campanha com agenda de cacique partidário pulando de palanque em palanque no país inteiro. Depende da capilaridade municipal e do fortalecimento de seu partido no colégio eleitoral formado pelas cidades com mais de 200 mil eleitores para turbinar as bancadas no Congresso e dele arrancar sua anistia e o impeachment do ministro do Supremo Alexandre de Moraes.

Com seu jogo dúbio em São Paulo, entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal, corre o risco de sair derrotado em quaisquer dos cenários com a perspectiva trazida pelo Datafolha de ultrapassagem do prefeito pelo candidato do PRTB. Um segundo turno entre Marçal e Boulos arrisca levar o bolsonarismo em peso para as hostes de Marçal, que não esconde a ambição de tomar o lugar do ex-presidente. Nem precisaria ganhar no segundo turno para, mais do que a extrema direita, ambicionar a liderança de toda a direita. A perspectiva não afeta apenas os planos de Jair Bolsonaro como também aqueles do governador de São Paulo, Tarcísio Freitas (Republicanos).

O PL está praticamente empatado com o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo crescimento de candidatos lançados é um quinto daquele registrado no partido de seu antecessor. A despeito desta equidade de armas entre as duas principais lideranças nacionais, não se registra, na campanha deste ano, a reprodução da polarização de 2022. Quem se fortalecer, mais uma vez, é o Centrão.

Além do domínio consolidado, mais facilmente reeleito, e do grande número de candidatos, o tapete que se estendeu para a turma de Arthur Lira (PP) e Davi Alcolumbre (União) foi tecido no controle sobre os efeitos das emendas parlamentares sobre as bases locais de seus partidos. Os prefeitos que disputam a reeleição apoiados por partidos do Centrão dominante no Congresso vão às urnas no domingo montados sobre um caixa de investimentos que há muito não se via, proporcionados, além das emendas e transferências da União, por aumento de receita.

São Paulo

A disputa municipal, porém, não afeta as eleições majoritárias subsequentes, sejam as de governador ou presidente, nem mesmo quando o resultado em questão é em São Paulo, cuja eleição é sempre tratada como aquela que determinará os rumos do planeta.

Isso não significa que o destino do presidente seja indiferente ao resultado das eleições. Além da governabilidade mais difícil, cujos ventos já começarão a causar ruídos na volta dos trabalhos legislativos em novembro, fica evidente que o núcleo duro de Lula na política, encurralado pela concorrência da direita nas políticas sociais, tem, nos costumes, um refúgio suicida.

Basta ver o quanto a campanha de seu candidato em São Paulo foi fustigada pelo identitarismo e pelas “fake news” de drogas. O que está em jogo numa eleição em que se assiste a uma inédita indefinição sobre os adversários do segundo turno é o risco de a esquerda ficar fora dele na principal cidade do país desde que o instituto foi criado.

A eleição de São Paulo importa porque a cidade lança moda. A deste ano chama-se Pablo Marçal, a ameaça mais patente que se avizinha ao domínio bolsonarista sobre a extrema direita, tanto na divisão do PL quanto no fascínio que exerce sobre o Centrão. Uma importante liderança do PP, certo de que o candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo perderá a eleição, já sondou seu interesse em ingressar no partido, de olho no seu potencial de puxador de votos.

Como vai sair mais rico e mais conhecido desta campanha, seja qual for o resultado do domingo, Marçal terá dado início à formação de um grupo político com o que há de mais radical no bolsonarismo, como os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG) e Ricardo Salles (PL-SP). Não custará a ampliá-lo. Ninguém sabe em que direção esta nau desgovernada se encaminhará, mas é certo que Marçal foi o único a circular pela campanha paulistana com séquito de “pop star”.

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