Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 17 de julho de 2023
Em alto-mar, um borrifo de água, como um chafariz brotando no meio do oceano, chama a atenção da tripulação. É o sinal de que há uma baleia jubarte nos arredores, e o barco precisa se dirigir até aquele ponto, a algumas centenas de metros de distância. Poucos minutos depois, pesquisadores, fotógrafos e curiosos vibram: eles estão diante de um dos maiores mamíferos do mundo, que se exibe ora em mergulhos em que abanam a cauda para fora d’água, ora em saltos de deixar o queixo caído.
Com o aumento da população de baleias que passam pelo litoral brasileiro anualmente, além do maior conhecimento de institutos de pesquisa e a capacitação de barqueiros e guias, está em ascensão no Brasil um turismo de observação: isso mesmo, pessoas que vêm de várias regiões e até de outras partes do mundo para ver o espetáculo da baleia jubarte. A experiência, que antes era quase restrita a paraísos como Abrolhos (BA), ganha tração em quase toda a costa
Quando o Projeto Baleia Jubarte começou, em 1988, estimava-se uma quantidade de mil animais fazendo a migração anual para a costa brasileira durante o período de reprodução das fêmeas, de junho a novembro. Hoje, de acordo com o último censo do instituto, a população já está próxima de 30 mil.
Essas jubartes, que tem cerca de 15 metros de comprimento – equivalente a um ônibus – e 40 toneladas de peso, residem a maior parte do ano na Antártida, onde há mais oferta de alimentação, e sobem até o Brasil para os nascimentos dos filhotes. A gestação de uma baleia dura de 11 a 12 meses, e há duas teses principais para explicar a migração: a temperatura mais aquecida das águas, melhores para os filhotes; e fugir das orcas, que são as predadoras das outras baleias.
Balé
No século passado, as jubartes, assim como as outras espécies de grandes baleias, estiveram à beira da extinção, com redução de 90% dos indivíduos, alvos da caça industrial, que acontecia principalmente por pescadores do Japão, Islândia e Noruega. Estima-se que somente na Antártida, 2,1 milhões de baleias foram caçadas no início do século 20. Diante do quadro, foi criada a Comissão Internacional de Baleias, em 1945, que decretou regras e impediu a caça.
Hoje, dos grandes países somente o Japão continua com a caça e em 2014 a baleia jubarte saiu da lista do governo brasileiro de espécies ameaçadas de extinção.
“A população está crescendo e provavelmente entrando num processo de estabilização. Além da proibição à caça, que é o fator principal, os pesquisadores estão em campo, monitorando e fazendo ações de conservação. Você só preserva o que conhece e hoje temos ferramentas para amenizar o máximo possível dos impactos”, explica Enrico Marcovaldi, coordenador do Projeto Baleia Jubarte.
Logo o crescimento global se refletiu no Brasil. Há 35 anos, quando o projeto nasceu, a população brasileira de jubartes se concentrava basicamente no sul da Bahia, onde fica o arquipélago de Abrolhos. Atualmente, porém, o projeto já tem base em 14 cidades da costa brasileira.
Cinco Estados
O turismo de observação acontece em cinco estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte – principalmente associado aos trabalhos de pesquisa. É assim, por exemplo, nas cidades onde o Projeto Baleia Jubarte tem base, como Ilhabela (SP), Arraial do Cabo (RJ), Vitória (ES), Caravelas (BA) e Praia do Forte (BA). No Rio, onde já existem as excursões de pesquisa, os passeios turísticos devem começar neste ano, com operadores parceiros.