Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 30 de janeiro de 2022
O Brasil entrou na disputa para atrair trabalhadores qualificados de alta renda que podem trabalhar de qualquer lugar, um estilo de vida que ganhou força com a digitalização acelerada pela pandemia.
O Conselho Nacional de Imigração, do Ministério da Justiça, regulamentou na semana passada a criação de um visto para os chamados nômades digitais, executivos, especialistas, gestores de investimentos, criadores de conteúdo e outros profissionais que só precisam de um laptop e uma boa conexão para produzir.
A ideia é permitir que estrangeiros possam ficar por um ano (com possibilidade de prorrogação) aqui, mesmo vinculados a empresas do exterior. A mudança abre oportunidades para setores como os de hospedagem e escritórios compartilhados.
O Relatório Global de Tendências Migratórias 2022 da Fragomen, empresa especializada em serviços de imigração mundial, estima que 35 milhões de profissionais tenham esse perfil no mundo e prevê que o número pode chegar a um bilhão em 2035.
Cerca de 40% deles têm renda superior a R$ 34 mil por mês e chegam a gastar em torno de R$ 4,2 milhões por ano.
Países com visto
De olho nesse potencial de consumo em meio à crise do turismo, 24 países já criaram vistos sob medida para nômades na pandemia. A Estônia foi a primeira, seguida de outros como Grécia, Costa Rica, Croácia e Islândia.
Muito antes dos nômades digitais virarem tendência, o contador nova-iorquino Vincenzo Villamena, de 39 anos, decidiu tentar a vida fora do estresse da Big Apple.
Em 2010, passou uma temporada em Buenos Aires para aprender espanhol e viu que poderia trabalhar à distância sem abandonar a carreira nos EUA.
Já viveu na Colômbia e agora divide a rotina entre a vida típica de carioca e um espaço da Hub Coworking, no Leblon, na Zona Sul do Rio. Dali ele comanda a Online Taxman, que é baseada nos EUA e tem outros 40 funcionários remotos.
“Queria muito este visto de nômade digital, mas não tinha. Vai ser muito bom. Muitas pessoas querem vir para cá e ficar mais de seis meses”, diz Villamena, referindo-se ao prazo do visto de turismo.
Empresa 100% virtual
Embora registrada nos EUA, a empresa do engenheiro de software espanhol Momo Gonzalo, de 39 anos, é 100% virtual. Ele chegou ao Rio neste mês depois de temporadas em Portugal e Dinamarca sem se desligar do negócio. O próximo destino é Florianópolis.
“Conheci vários países e pessoas morando em locais onde talvez eu não iria nem de férias. No escritório, eu me reunia com colegas para comer ou discutir um problema. No remoto, isso não acontece. Todo mundo trabalha de forma muito independente.”
O polonês Kamil Tyliszczak, desenvolvedor de software, mora há 12 anos no Brasil e trabalha desde outubro para uma empresa australiana. Ele é casado uma brasileira, com quem tem um filho de 2 anos, o que lhe garante visto permanente, mas atua como um nômade digital.
Sem precisar bater ponto num escritório, ele conseguiu trocar Marília, no interior de São Paulo, por São Bernardo do Campo, no ABC. A melhora de vida estava nos planos quando decidiu buscar emprego somente em agências internacionais.
O interesse dos países nos nômades digitais é a alta renda. Ainda que ele siga produzindo para a economia de outro país, seus gastos pessoais podem fazer diferença aqui. Muitos homens ou mulheres nessa situação trazem a família e ampliam o consumo, movimentando vários negócios, observa Diana Quintas, sócia da Fragomen no Brasil:
“Além de fazer turismo, ele vai alugar um imóvel, pode comprar um carro, matricular o filho numa escola, ir à academia, utilizar serviço de salão de beleza, por exemplo. E não são vistos como ameaça concorrente à mão de obra local.”
Chance de retenção
Para as empresas, o home office virou uma ferramenta para atrair talentos de qualquer lugar do mundo, principalmente na área de tecnologia. Das empresas consultadas pela Fragomen no mundo, 87% têm lacunas de habilidades na sua força de trabalho.
Atualmente, 43% das empresas já contratam globalmente com teletrabalho. Nos próximos dois anos, outros 22% passarão a contratar
Nessa disputa, o Brasil tem perdido profissionais para empresas estrangeiras sem necessidade de imigração. Mas o novo estilo de vida pode ajudar na retenção de talentos. Profissionais interessados em experiências no exterior podem viajar sem cortar laços com o empregador brasileiro.