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Por Redação Rádio Pampa | 10 de junho de 2023
Depois de quatro décadas fazendo operações antárticas, o Brasil agora vai se aventurar oficialmente pelo outro extremo do planeta. Em 12 de julho, dois pesquisadores da Universidade Federal de Minas (UFMG), dois da Universidade de Brasília (UnB) e um da Pontifícia Universidade Católica de Brasília devem aterrissar para uma viagem de nove dias em Longyearbyen, capital de Svalbard, na Noruega, acima do Círculo Polar Ártico.
“A expedição vai inaugurar a participação científica oficial do Brasil no Ártico”, afirma o professor Luiz Henrique Rosa, do Departamento de Microbiologia da UFMG. “O conhecimento da biodiversidade da região pode fornecer informações valiosas sobre o impacto das mudanças climáticas nas regiões árticas, com potencial para afetar até o litoral norte do Brasil.”
O Brasil é o único país entre as dez maiores economias do mundo a não ter nenhuma participação em temas relativos ao Ártico. Ao longo dos últimos anos, alguns pesquisadores e empresas brasileiras, como a Vale, têm realizado trabalhos isolados na região. Entre outros materiais, os pesquisadores coletarão em julho amostras de solo, sedimentos marinhos e de lagos, água de lagos, rochas e plantas para identificar microrganismos e plantas que vivem no Ártico. Depois, vão compará-los com amostras obtidas na Antártida. Durante toda a viagem, serão captadas imagens para o documentário Paralelo 60º, sobre a presença brasileira nos polos.
Finalidades
“Será uma viagem com duas finalidades”, diz o professor Paulo Câmara, do Departamento de Botânica da UnB. “A primeira é fazer pesquisa e coletar dados que complementam pesquisas antárticas. A segunda é diplomática, de busca por colaboração com outros países. Por isso pretendemos visitar estações científicas. A ideia depois é produzir um relatório que possa servir aos próximos pesquisadores que queiram ir ao Ártico.”
A Primeira Expedição Científica do Brasil ao Ártico, ou Operação Ártico I, será financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), via Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e tem apoio institucional do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria Interministerial dos Recursos do Mar da Marinha do Brasil.
“Estamos bem felizes com essa iniciativa porque é o Brasil mostrando seu interesse na região para que um dia possa pleitear um assento como membro observador no Conselho do Ártico”, explica Câmara. “Isso poderá contribuir para que o Brasil apresente propostas de preservação e pesquisa da região.”
Participam permanentemente do Conselho do Ártico oito países: os cinco que perpassam o Círculo Polar Ártico – Canadá, Dinamarca (por causa da Groenlândia), Estados Unidos (por causa do Alasca), Noruega e Rússia –, além de Finlândia, Islândia e Suécia e seis organizações que representam os povos originários da região. Outros 13 países participam do Conselho do Ártico como observadores, assim como 25 instituições multilaterais e organizações não governamentais. Para ser um membro observador no conselho, é preciso demonstrar interesse pelas questões árticas e ter o nome ratificado pelos oito membros permanentes.
Tratado
O primeiro passo do Brasil para se aproximar geopoliticamente do Ártico é assinar o Tratado de Svalbard, justamente a região para onde o grupo dos brasileiros seguirá. O documento reconhece a soberania da Noruega sobre o arquipélago de mesmo nome, mas garante acesso a ele a países que aderem ao texto.
O MCTI confirmou, por meio de nota, a ideia de aumentar o protagonismo brasileiro nas pesquisas polares e fomentar o estabelecimento de parcerias diretas entre pesquisadores brasileiros e a comunidade científica ártica. “A demanda por pesquisas no Ártico é antiga e surgiu da própria comunidade científica que realiza pesquisas na Antártida, interessada em estudar as conexões entre as duas regiões polares. Diante da crescente relevância da região ártica, o governo brasileiro examinou a possibilidade de maior inserção do país nas atividades da comunidade internacional no Ártico.”
Na prática, isso se traduz em resoluções sobre a adesão do Brasil ao Tratado de Svalbard, a associação formal do país ao Comitê Internacional para a Ciência do Ártico (International Arctic Science Committee, IASC) e a cooperação com as atividades dos grupos de trabalho do Conselho do Ártico.