Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Cada vez mais robôs ajudam a escolher quem contratar

Abrir o computador e pesquisar entre uma infinidade de vagas de emprego, que pedem muitas qualificações e entregam poucos detalhes sobre a posição. Passar por processos de inscrição longos, que, ao incluir testes, respostas dissertativas e envio de vídeos, fazem com que a busca por um emprego se torne cada vez mais demorada.

Essa é a realidade de Camila Mazzini, que desde que começou sua procura por uma vaga como produtora de eventos em São Paulo não recebeu sequer um feedback “humanizado”. Os retornos – quando existem – são impessoais e feitos por robôs. “É um processo de recursos humanos, mas não tem interação humana”, desabafa.

A procura de uma nova vaga no mercado de trabalho nunca foi tarefa fácil. Preparar um bom currículo, estar pronto para uma entrevista e mostrar suas habilidades de forma prática são tarefas que fazem parte da vida dos candidatos há anos. Mas, com as mudanças que vem ocorrendo com a chegada da tecnologia, tem sido cada vez mais difícil entender a dinâmica de quem contrata.

Com a migração dos anúncios de vagas para o ambiente virtual, diversas empresas começaram a apostar no uso de ferramentas que auxiliam o RH nesse processo. As plataformas oferecem desde o ambiente para anúncio das posições em aberto, passando pelo espaço para cadastro do currículo, até a seleção dos perfis mais adequados para a posição com o uso de inteligência artificial (IA).

Em tese, o processo se torna mais imparcial, ao tirar o elemento humano e seus preconceitos de uma parte relevante do processo. Ao mesmo tempo, a IA pode reproduzir vieses e tornar cada vez mais difícil a compreensão dos critérios utilizados na análise de cada perfil. No final das contas, o robô decide quem será visto ou não.

A frustração de quem sofre com as novidades no processo de contratação, fez com que as críticas se voltassem às principais empresas que operam nesse segmento. Postagens no LinkedIn criticando as principais plataformas de recrutamento on-line são cada vez mais frequentes, mencionando os longos processos de inscrição, falta de feedback e pouca transparência com relação à seleção de cada candidato. “Você passa o dia inteiro procurando vagas, é um processo muito longo e as pessoas estão desempregadas”, afirma Mazzini.

Há relatos que vão além, e mencionam casos de empresas que, após abrir longos processos seletivos on-line, contrataram através de indicação, por conta do grande volume de candidatos inscritos. Ou o caso de candidatos que não receberam sequer um feedback durante o processo seletivo digital, mas foram contratados após aplicar para a vaga diretamente com o RH.

“A gente não executa o processo para a empresa, nem operacionaliza a ferramenta para ela, é o RH que vai executar o processo seletivo por meio da plataforma”, explica Guilherme Dias, cofundador da Gupy, umas das principais plataformas do setor. Entre os clientes da empresa estão Ambev, Grupo Pão de Açúcar, Azul e Santander.

Ele menciona que a empresa tem feito ações para fazer com que os processos seletivos sejam menos penosos para os candidatos, o que inclui desde um assessoramento para utilização da ferramenta até um selo para as companhias que dão feedback com maior frequência. “É algo que não temos muito controle, por mais que a gente tente investir em educação e boas práticas”, afirma.

Outro grande player do setor, a Vagas, que possui clientes como BRF e Unilever, afirmou, via e-mail, que incentiva que as empresas sejam “bastante ponderadas no uso de testes” e que os insira somente nas etapas finais do processo de seleção. A empresa ainda menciona que o grande volume de vagas de responsabilidade de cada recrutador nas empresas pode explicar a dificuldade de lidar com os recursos da plataforma e que tem tomado ações no sentido de educar seus clientes.

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