Domingo, 23 de fevereiro de 2025

Campanha alerta para “epidemia” de violência sexual infantil

A violência sexual infantil é um “gigante invisível” no Brasil, alertam entidades e empresas organizadoras do “Movimento Violência Sexual Zero”. Eles citam dados segundo os quais há cinco registros policiais de estupro de menores de 13 anos por hora, sendo que pesquisas mostram que apenas cerca de 10% dos casos são notificados.

Ainda segundo o movimento, a organização Safernet recebeu 197 denúncias por dia de conteúdo de abuso e exploração sexual on-line de crianças e adolescentes no país em 2023, último dado disponível, aumento de 77% ante 2022. Mais de quatro bebês nascem por hora filhos de mães de até 15 anos, sendo pelo menos dois deles  filhos de mães de até 14 anos – idade abaixo da qual a relação, com ou sem consentimento, é considerada estupro no Brasil.

“A violência sexual infantil é um problema que tem impactos para além das vítimas, que, claro, sentem todos os impactos”, afirma Luciana Temer, diretora-presidente do Instituto Liberta, uma das entidades do movimento. “Mas o Brasil também sofre os reflexos disso sem se dar conta”, diz. As entidades mencionam um estudo do Banco
Mundial segundo o qual o Brasil deixa de produzir US$ 3,5 bilhões ao ano em razão de gravidez precoce.

“A verdade é que os dados são muito assustadores, mas as pessoas não estão se conectando ao tema. Tem uma epidemia gigante de violência sexual infantil no Brasil que vai trazer outros impactos”, diz Temer, citando como exemplo a relação entre violência e evasão escolar.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança pública, mostram que a taxa de ocorrência de violência sexual infantil no Brasil cresceu 24,1% entre 2022 e 2023, de 2,1 para 2,6 por 100 mil habitantes.

Diante desse cenário e da convicção de que “não há desenvolvimento econômico e social sustentável sem a proteção da infância e da adolescência” e que “não há proteção sem o enfrentamento da violência sexual”, como diz a carta de
apresentação, o movimento convida empresas a firmarem o compromisso de distribuir e incentivar seus funcionários a acessar materiais sobre o assunto.

“A campanha tem como objetivo a prevenção da violência sexual e, para saber como agir para prevenir, vamos oferecer informações e orientações para a sociedade. Uma campanha de comunicação, com a participação de muitas empresas e organizações, vai quebrar o silêncio, que é o primeiro passo para o fim da violência sexual contra
crianças e adolescentes”, afirma Eva Cristina Dengler, superintendente de programas e relações empresariais da Childhood Brasil.

Produzidos pela equipe gestora do movimento, todos os materiais são digitais e podem ser distribuídos sem custo pelas empresas. “É custo zero. As empresas que aderirem vão receber o material pronto e se comprometem a divulgar as informações internamente para seus funcionários. Elas só precisam escolher o meio de disparo. É algo singelo, mas queremos começar uma provocação, porque esse é um assunto muito difícil”, diz Temer.

Segundo ela, a situação precisa ser compreendida pela sociedade como fruto de uma “cultura permissiva”. Nesse sentido, Temer traça paralelo com a violência contra a mulher: ambos os problemas têm origens comuns, não só o machismo, mas a violência intrafamiliar.

“Quando fui delegada de polícia de defesa da mulher em Osasco não tinha Lei Maria da Penha, não tinha qualificação de crime de feminicídio”, diz. “Hoje, fala-se muito mais de violência contra a mulher, e há muitas empresas engajadas. Trinta anos atrás, isso era tabu. Como essa violência é predominantemente doméstica, havia
questões que foram se quebrando com o tempo. Muitos estereótipos foram se rompendo no sentido de compreender a violência contra a mulher como algo estrutural da sociedade”, diz.

O mesmo acontece com a violência sexual infantil. “O nosso movimento é parte de um processo para a sociedade compreender também a violência sexual infantil enquanto um problema estrutural. Se ficarmos imaginando que é só o caso de um maluco que pega crianças na rua, vamos enfrentar uma camada, mas não vamos enxergar o problema em toda a sua estrutura e consequências, inclusive econômicas”, afirma Temer.

O Instituto Liberta trabalha há anos com o tema, mas essa é a primeira vez que o foco são as empresas, diz Temer. “Fazer campanha alertando para a violência contra a mulher é bom para a imagem da empresa. Nem sempre foi sim. Isso era visto como algo feio, sujo. Esse ‘feio e sujo’, hoje, é a violência sexual infantil. Muitas empresas já trabalham internamente questões de gênero, racismo, assédio. Estamos propondo que mais uma temática seja importante para os funcionários.” As informações são do portal Valor Econômico.

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