Quarta-feira, 15 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 14 de janeiro de 2025
A deputada federal Mayra Pinheiro (PL-CE), que ficou conhecida durante a pandemia de covid-19 como “Capitã Cloroquina”, fez parte de uma comitiva da Câmara que acompanhou, em novembro passado, a apuração dos votos das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Na ocasião, a deputada publicou em suas redes sociais que estava no país “a convite” do Instituto de Estudos Políticos, que seria vinculado à Universidade George Washington. Embora fale em convite, a presença dela não foi cortesia e a parlamentar usou verba pública para pagar suas despesas.
A participação no programa montado para o acompanhamento da apuração dos votos nos EUA custou 1.740 dólares, o equivalente a R$ 10,4 mil, em cotação do início de dezembro. Deste valor, R$ 9,1 mil foram ressarcidos pela cota, que é uma verba dedicada ao financiamento de atividades diversas dos deputados federais, entre as quais “a participação do parlamentar em cursos, palestras, seminários, simpósios, congressos ou eventos congêneres”, como estipula o Regimento Interno da Casa.
Apesar da deputada ter dito que o evento estava relacionado à Universidade George Washington, o simpósio, na verdade, foi uma iniciativa de três profissionais formados na Universidade, mas sem vínculo oficial com a instituição. Procurada, Mayra Pinheiro não respondeu e falou em “assédio” da reportagem do jornal O Estado de S. Paulo. O marqueteiro David Meneses, um dos promotores do evento, alegou que as palestras foram divulgadas a “todos os congressistas brasileiros, independentemente de sua filiação partidária”.
Mayra foi secretária do Ministério da Saúde durante o governo de Jair Bolsonaro, quando ganhou o apelido de “Capitã Cloroquina” ao defender, em depoimentos à CPI da Covid do Senado, o “tratamento precoce”, um coquetel de medicamentos contra a covid sem eficácia comprovada.
Em 2022, candidatou-se a deputada federal e obteve 71 mil votos, não conquistando uma vaga de titular. É a segunda suplente do PL do Ceará e exerce o mandato em substituição a André Fernandes, que se licenciou para concorrer à prefeitura de Fortaleza (CE). O retorno de Fernandes à Câmara está previsto para 11 de fevereiro. O candidato do PL perdeu a disputa para Evandro Leitão (PT) no segundo turno mais acirrado entre as capitais estaduais do País.
O ingresso para o evento foi vendido a 2.900 dólares ao público geral. A cota não cobriu o valor integral da inscrição de Mayra pois, na modalidade de “participação em cursos, palestras e seminários”, há um limite de R$ 9,1 mil do montante que pode ser ressarcido ao parlamentar.
Além de mais de 80% do valor da inscrição bancada pela cota, a deputada teve passagens aéreas e diárias nos Estados Unidos bancadas pela Casa. Os custos com translado e hospedagem da “capitã cloroquina” somam R$ 12,5 mil. O ressarcimento é possível pois Mayra estava em missão oficial, assim como José Medeiros (PL-MT) e José Airton Cirilo (PT-CE).
Medeiros esteve no mesmo simpósio que Mayra, mas pagou o ingresso por conta própria. O valor de diárias e passagens pagas pela Câmara para o mato-grossense somam R$ 16,7 mil. José Cirilo, por sua vez, esteve em Nova York a convite do Comitê Internacional dos Social-Democratas da América. O custo com diárias e hospedagens do petista soma R$ 18,2 mil.
Apesar do nome, o “Instituto de Estudos Políticos” não é uma instituição acadêmica, tampouco está vinculado à Universidade George Washington, como disse a parlamentar em publicação no Instagram. Segundo a ex-secretária, o evento foi “criado pela The Graduate School of Political Management, da The George Washington University, com o objetivo de manter ativa a mais importante rede de atores políticos da América Latina e do mundo”.
A afirmação de Mayra não procede. O evento “O Poder da Democracia” não teve vínculo algum com a Universidade George Washington afora ter sido organizado por três profissionais de marketing político que obtiveram o título de mestres na instituição. Tratam-se dos marqueteiros David Meneses, equatoriano, Israel Navarro, mexicano, e Yehonatan Abelson, argentino.
Além de formados, os três trabalharam na Universidade. Meneses foi coordenador do programa de América Latina da instituição entre 2004 e 2011, enquanto Navarro foi coordenador de governança de 2007 a 2011. Já Abelson foi pesquisador e professor assistente entre 2008 e 2010. Meneses, Navarro, Abelson também trabalharam juntos em outros projetos e empresas.
O site do Instituto de Estudos Políticos registra parcerias com a NTN24, canal de televisão colombiano, e com o Centro Político, uma entidade de capacitação política de Miami, nos Estados Unidos. Não há menção a uma parceria com a Universidade George Washington, como alegado por Mayra Pinheiro. (Estadão Conteúdo)