Quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 12 de janeiro de 2023
Há fatos que marcam de forma indelével a vida nacional. São eventos que, por sua magnitude e impacto, reverberarão em tempos futuros, geralmente como tragédia, conquistas ou derrotas marcantes. Nessa perspectiva, a Nação brasileira assistiu, entre perplexa e indignada, a ação de vândalos extremistas que, no último dia 08.01.23, incitados pelo ódio e pela intolerância, profanaram, de forma inédita, os três poderes da República. A destruição material foi muito grande, porém mais aviltante foi a agressão à simbologia histórica das instituições, cujo crucifixo de Cristo jogado ao chão, junto aos escombros do STF, só encontra paralelo na forma desonrosa como foram tratados outros ícones nacionais, dentre os quais Rui Barbosa, nosso “Águia de Haia”, cuja vida foi dedicada às grandes causas nacionais, dentre elas o fortalecimento de nossa incipiente democracia. Agora, restabelecida a ordem, mudanças profundas no arcabouço legal de proteção ao estado democrático de direito terão que ser reforçadas, de sorte que em tempo algum no futuro, tenhamos que passar por tão ultrajante momento como esse que tristemente testemunhamos.
Para além do episódio criminoso em si, desdobra-se no momento em consequência natural, as causas que ensejaram tamanha tragédia. Não é demais repetir que a exaustiva comparação com ataque semelhante ocorrido há cerca de dois anos, quando da invasão do Congresso americano, em reiteradas ocasiões, faziam-se correlações com a nossa realidade, não sem também alertar para as consequências que o País sofreria caso lograssem êxito tais intentos golpistas. Necessário também destacar que a invasão do Capitólio não teve a conivência de forças de segurança, bem como nos EUA somente o Congresso foi invadido. Aqui, também as sedes da Justiça e do Executivo foram assaltadas, conformando nosso exemplo em uma moldura ainda mais alarmante, inclusive aos olhos do mundo.
Mas é preciso olhar para a frente e colher o necessário aprendizado. Estando certo o filósofo Nietzsche, ao dizer que “tudo aquilo que não me mata somente me fortalece”, estará sinalizado que nossa ainda jovem, mas não menos tumultuada democracia, encontrará nessa tentativa fracassada de golpe mais um elemento a forjar a sua própria solidez e perenidade. Contudo, dado o caráter amplo com que a extrema direita tem agido no mundo, bem como a existência de sinais inquietantes de ataques sistêmicos às instituições que sustentam a democracia, conter as sementes do fascismo será uma missão indelegável para todos os verdadeiros democratas. Nesse sentido, não deixa de ser positiva a velocidade e a contundência com que nossas principais lideranças políticas e setoriais se posicionaram de forma uníssona frente aos atos bárbaros praticados contra os poderes constituídos. Calar, num momento tão grave da vida nacional, seria aquiescer com o indesculpável, omitir-se frente à incivilidade e transigir com o mais grave atentado à nossa democracia desde a redemocratização.
Não nos enganemos. Há uma franja radical de extrema direita no País que apoia esse tipo de ação golpista radical e violenta que precisa ser contida. As instituições e a sociedade terão que saber combater essas células fascistas que foram fomentadas a olhos vistos e que vieram à tona nos últimos anos, não sem antes reconhecer que condescender com isso é permitir que a instabilidade e a insegurança sejam sempre uma espada sobre nossas cabeças. Assim, findo o insano levante e contados os prejuízos materiais e imateriais, espera-se punição exemplar dos autores, financiadores e mentores da barbárie. Contudo, tal mister terá que ser delineado com sabedoria, prudência e rigor. Saber conjugar esses predicados equilibradamente encaminhará o Brasil para um acordo possível, que distensione minimamente os ânimos, e que nos permita voltar os nossos olhos para o futuro com serenidade e esperança.