Quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Cérebro é o órgão mais impactado na menopausa, defende cientista italiana

Entre tantas passagens instigantes do novo livro da neurocientista italiana Lisa Mosconi, O Cérebro e a Menopausa (Harper Collins), uma chama atenção porque faz todo o sentido na forma equivocada como a menopausa tem sido vista nas sociedades ocidentais. Trata-se de uma crítica que a autora faz à “medicina do biquíni”, ou seja, a medicina em voga que reduz a saúde da mulher aos órgãos reprodutivos, aqueles que ficam em evidência na “marquinha” que não toma sol.

Pois Lisa quer destacar outra parte do corpo feminino, o cérebro, e mostrar que ele é determinante em sintomas clássicos da menopausa, como ondas de calor, dificuldades com o sono, mudanças de humor, lapsos de memória, dificuldade de concentração, lentidão mental, energia baixa e diminuição do desejo sexual.

Por meio de imagens de tomografias cerebrais feitas antes e depois da menopausa, ela aponta as mudanças significativas que muitas mulheres enfrentam no cérebro nesse período – e como essa justificativa não só muda a perspectiva de como lidamos com essa fase, mas abre caminho para comportamentos voltados à ativação desse órgão, como reabilitação cognitiva, sono reparador, meditação, alimentação revigorante e terapia hormonal com foco na preservação da memória e na prevenção da demência.

Afinal, como ela diz, as mulheres não estão perdendo a cabeça durante a menopausa, e sim “ganhando uma cabeça novinha em folha”, que precisa de um olhar gentil e atencioso.

Aos 46 anos, Lisa é professora associada de neurociência e radiologia e diretora do Programa de Prevenção de Alzheimer no Centro Médico Well Cornell, em Nova York, onde vive com o companheiro e a filha de 10 anos. A seguir, confira trechos da entrevista que ela deu recentemente:

1-Como exatamente a menopausa afeta o cérebro?

A menopausa marca uma transição hormonal significativa, com um declínio acentuado do estrogênio e da progesterona e um aumento progressivo das gonadotrofinas hipofisárias, os chamados FSH (hormônio folículo-estimulante) e LH (hormônio luteinizante).

O estrogênio é o mais estudado desses hormônios. Sabemos que, para além do seu papel na função reprodutiva, ele é também um “hormônio cerebral” – apoia a produção de energia, protege os neurônios e está envolvido na regulação da memória e do humor.

Durante a menopausa, o declínio na concentração de estrogênio tem sido associado não apenas a ondas de calor, mas também a sintomas como confusão mental, lapsos de memória, alterações de humor, dificuldade de concentração e sono insatisfatório. Com o tempo, também pode contribuir para vulnerabilidades em regiões do cérebro associadas à memória e cognição, como o hipocampo, aumentando potencialmente o risco de doenças como o Alzheimer.

2- A menopausa aumenta então a suscetibilidade a problemas neurodegenerativos?

Sim, a menopausa aumenta a suscetibilidade a certas condições neurodegenerativas, particularmente a doença de Alzheimer. As mulheres representam quase dois terços dos casos de Alzheimer, e pesquisas sugerem que as alterações hormonais durante a menopausa desempenham um papel nessa disparidade.

O estrogênio tem efeitos protetores no cérebro. O seu declínio durante a menopausa pode deixar as mulheres mais vulneráveis ​​à neuroinflamação, ao estresse oxidativo e a déficits energéticos, fatores ligados à neurodegeneração.

3- Por que você diz que as mulheres ganham uma ‘cabeça nova’ durante a menopausa?

No meu livro, eu digo: “Se você está preocupada com a possibilidade de perder a cabeça ao passar pela menopausa, não se preocupe – você está ganhando uma nova!”. Isso reflete uma verdade fundamental. Embora as alterações hormonais possam parecer perturbadoras, elas também abrem caminho para a transformação.

O cérebro é altamente adaptativo. À medida que o estrogênio diminui, ele se reorganiza e estabelece novos padrões de funcionamento. Essa “nova cabeça” é uma oportunidade de crescimento, criatividade e resiliência, mesmo que a transição pareça acidentada. As mulheres podem sair dessa fase com clareza renovada e uma nova perspectiva de vida.

Qual o problema de desconhecer ou desprezar as consequências causadas pela menopausa no cérebro?
Ignorar ou não ter consciência de que a menopausa pode afetar o cérebro tanto quanto os ovários pode ter consequências negativas. As mulheres podem interpretar mal sintomas como lapsos de memória, alterações de humor ou dificuldade de concentração, assim como sinais de envelhecimento ou estresse, por não levar em conta as alterações hormonais.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Variedades

O uso de antidepressivos e o papel da Serotonina e Noradrenalina na nutrologia
Táxis voadores já podem começar a operar ainda neste ano em Dubai
Pode te interessar
Baixe o app da TV Pampa App Store Google Play