Quarta-feira, 08 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 6 de janeiro de 2025
Antonio Lavareda possui graduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco e doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). Autor e/ou organizador de 15 livros dedicados à análise política, o pernambucano é comentarista político de TV e, desde 2010, presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Politicas e Econômicas (IPESPE).
1) 2026 está bem ali. Ano eleitoral estratégico para os rumos do país. O que muda neste pleito em comparação ao anterior que elegeu o presidente Lula?
Muda quase tudo em relação ao ano da eleição anterior. Em primeiro lugar: eleições, sobretudo presidenciais, são um momento de reflexão – mais ou menos consciente – sobre o mandato do incumbente, do governante em exercício. Em 2022, o foco esteve a maior parte do tempo em Bolsonaro, sobre o que fez ou deixou de fazer na economia, na pandemia, etc. Na próxima vez, estará sobre Lula. Em segundo, não poderá haver um “rematch” dos dois personagens, os principais líderes de massa do país. Com Bolsonaro inelegível, entrarão em cena os aspirantes a sucedê-lo no seu campo político.
2) As redes sociais terão algum protagonismo na eleição do ano que vem a ponto de elegerem quem quiserem?
Terão protagonismo, sim. Como a TV tem há décadas e continuará a ter. Nas redes, os influenciadores jogarão um peso importante. Para se ter uma ideia, cerca de 47% dos brasileiros consomem notícias através das redes e 60% já conferiram a opinião de influenciadores antes de adquirir um produto ou serviço. Dito isso, devo acrescentar que dificilmente elas conseguirão por si só eleger um candidato, sobretudo em disputa majoritária. Em 2024, Marçal ameaçou ganhar, mas foi derrotado por sua rejeição. 69% dos brasileiros acham que as redes atrapalham as eleições e 70% defendem que sejam reguladas.
3) Mesmo inelegível, o ex-presidente Bolsonaro terá forças para eleger alguém indicado por ele?
O ex-presidente é uma das grandes lideranças carismáticas do país. Seu apoio será extremamente importante para quem quiser liderar o campo da direita. Mas é impossível não reconhecer que o peso da influência se vê diminuído pela sequência de revelações que mostram a participação direta ou indireta nas maquinações golpistas, tornando bastante possível sua responsabilização e eventual condenação pela Justiça. O apoio à Democracia, mostram as pesquisas, é bastante sólido entre nós, unindo mais de dois terços da população.
4) O brasileiro tem a sensação que falta um projeto para o Brasil. Há necessidade de mais clareza de propósitos por parte da elite política?
Faltam projetos e faltam líderes ao País. É incrível constatar, por exemplo, que Lula se encaminha para uma sétima eleição presidencial (1989, 1994, 1998, 2002, 2006, 2022 e 2026), além de ter sido coadjuvante principal em três outras (2010, 2014 e 2018). Dez disputas. Não há nada parecido em nenhum outro país do mundo. E por que isso ocorre? Lógico que essa série quase inimaginável nos diz muito sobre as qualidades e virtudes políticas extraordinárias de Lula, mas também fala, e muito, sobre as disfuncionalidades do nosso sistema político.
5) O Centrão impôs ao país uma espécie de “parlamentarismo com acesso ao bônus e não ao ônus”, isto vai mudar?
A briga de “gato e rato” entre o Supremo e o Congresso poderá arrefecer aqui e ali, mas não terá fim. Ela é apenas um dos sintomas de um problema bem maior. Onde os editoriais dos grandes jornais veem um problema apenas de ausência de transparência, há uma questão de fundo sobre a qual poucos refletem: o processo acentuado de esgotamento do nosso presidencialismo. O Congresso já se habituou a comandar parte significativa do orçamento. Os presidentes perderam os instrumentos de manejo de maiorias no Parlamento. Resultado: os custos da governabilidade escalaram demasiadamente. Está passando da hora de avançarmos para algum tipo de semipresidencialismo. Mitigando os poderes presidenciais, e com o Congresso assumindo a governação. Governando, mas com accountability. Com responsabilidade direta aos olhos da nação sobre o sucesso ou insucesso das políticas públicas e os partidos sendo bonificados ou penalizados nas urnas.
6) Quem chega mais forte na disputa: a direita ou a esquerda?
Ao Congresso, sem dúvida, chegará mais forte a direita. Ela cresceu nas eleições municipais, e a correlação entre votações de prefeito e vereadores é muito elevada com a de deputados federais nas eleições seguintes. A escolha de senadores, por seu lado, será binominal, os analistas prevendo que a direita em 2/3 dos estados conquistará ao menos uma vaga. Teremos com quase certeza absoluta um Congresso mais conservador, com um núcleo ainda maior de bolsonaristas. Porém, na eleição presidencial a esquerda terá Lula e sua presença na disputa é um fator que desequilibra o jogo. Isso pode mudar? Pode. Se a economia andar para trás em 2025, por conta da alta dos juros decidida pelo BACEN (Banco Central), que ameaça ter efeitos recessivos, isso arranhará fundo o prestígio do presidente. No pior cenário, poderia levá-lo a encerrar sua carreira eleitoral, o que faria de 2026 uma disputa aberta.