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Por Redação Rádio Pampa | 15 de agosto de 2022
Pesquisadores do Instituto de Ciências da Vida da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, descobriram um hormônio que pode se tornar uma arma no combate ao câncer de fígado, diagnóstico que provoca cerca de 10,5 mil óbitos por ano no Brasil, segundo informações do Atlas de Mortalidade por Câncer, do Ministério da Saúde. Em estudo publicado na revista científica Cell Metabolism, os cientistas relatam como uma molécula produzida por células do tecido adiposo em camundongos pode impedir o crescimento do tumor.
O trabalho analisou o desenvolvimento do carcinoma hepatocelular, diagnóstico que responde por 80% dos casos primários de câncer de fígado. Porém, foram avaliados especificamente os não relacionados ao álcool. Isso porque o tumor no órgão tem geralmente como fator de risco a cirrose (lesão provocada pelo excesso de bebidas alcoólicas) e as infecções pelos vírus da hepatite, mas pode ser desencadeada também por outras causas.
Uma delas, que leva a doença a progredir de forma diferente, são os casos derivados da esteatose hepática não alcoólica (EHNA), lesões provocadas pelo acúmulo de gordura no interior das células do fígado, chamadas de hepatócitos.
A equipe responsável pelo novo estudo já havia identificado anteriormente que o hormônio neuregulina 4, ou NRG4, que é secretado principalmente por células do tecido adiposo do corpo, conseguia proteger o fígado dos camundongos de lesões da EHNA. Uma diminuição da liberação da molécula levou a quadros mais severos da doença do fígado.
Agora, os cientistas descobriram que esse mesmo hormônio consegue suprimir o carcinoma hepatocelular desencadeado pela EHNA. Os resultados do experimento mostraram que os animais que estavam com o NRG4 em falta tiveram uma incidência maior do câncer quando comparados aos com níveis adequados do hormônio.
Além disso, quando os pesquisadores aumentaram a taxa do NRG4 nesses animais – elevando geneticamente a expressão do hormônio nos tecidos adiposos ou tratando camundongos com uma injeção de NRG4 recombinante –, a maior concentração da molécula no organismo conseguiu impedir a progressão do tumor.
“Muitos estudos sobre câncer de fígado se concentram nas próprias células cancerígenas do fígado: em como elas proliferam e como elas escapam do sistema imunológico. Mas, nossas descobertas rompem com essa estrutura centrada no fígado, mostrando que um hormônio derivado da gordura pode realmente reprogramar o ambiente do órgão e ter um impacto muito grande no desenvolvimento do câncer no local”, afirma o autor do estudo e professor de biologia molecular e medicina da Universidade de Michigan, Jiandie Lin, em comunicado.
Agora, ele explica que são necessárias mais pesquisas para que o NRG4 seja eventualmente encarado como uma opção terapêutica para o carcinoma hepatocelular em humanos.
Como a EHNA propicia o câncer
O novo estudo buscou entender também como o diagnóstico de EHNA afeta o fígado a nível celular e propicia o desenvolvimento de tumores. Eles observaram mudanças em dois tipos de células do sistema imunológico que pareceram contribuir para o surgimento do carcinoma.
As células T de defesa, que normalmente atacam células danificadas, como as cancerígenas, apresentaram um comprometimento na funcionalidade nos camundongos com EHNA. Ao mesmo tempo, um outro tipo de unidade do sistema imune, chamada de macrófago, adquiriu características moleculares “ligadas ao câncer”.
“Essas mudanças que vimos em macrófagos e nas células T se assemelham ao microambiente do tumor, mas estão acontecendo antes mesmo de qualquer câncer se tornar aparente. Isso nos dá uma dica de que talvez essas mudanças no microambiente do fígado possam fornecer um terreno fértil para as células cancerígenas do fígado aparecerem e crescerem. Quase parece que o fígado, uma vez que desenvolve EHNA, já está se preparando para as células cancerígenas prosperarem”, explica Lin.