Segunda-feira, 06 de janeiro de 2025

Clã Bolsonaro aposta em fator Donald Trump para obter anistia

Jair Bolsonaro foi indiciado em três inquéritos, não pode se candidatar até 2030, está impedido de viajar ao exterior e há quem dê como certa a sua prisão em um futuro próximo. O destino do ex-presidente (2019-2022) está mais do que nunca nas mãos do Supremo Tribunal Federal (STF), alvo preferencial dos ataques do então mandatário federal durante seu mandato – conforme descoberto posteriormente, a instituição seria a primeira atingida pelo tresloucado plano de golpe de Estado que previa até a execução de desafetos.

Diante desse roteiro, os magistrados, por óbvio, não dão nenhum sinal de benevolência com Bolsonaro e seus apoiadores investigados. Em meio ao cerco cada vez maior, aliados acreditam que Donald Trump, o presidente eleito dos Estados Unidos, conseguirá fazer o que advogados, deputados e senadores bolsonaristas não conseguiram até agora: conter o ímpeto da Justiça, encerrando os processos criminais que tramitam contra Bolsonaro, e aprovar no Congresso uma anistia que permitiria ao ex-presidente disputar o Palácio do Planalto em 2026.

Trump tomará posse no próximo dia 20, após uma guinada e tanto na própria carreira. Foi derrotado por Joe Biden em 2020 alegando que uma fraude eleitoral impediu a sua reeleição. Ao fim de seu mandato na Casa Branca, parou no banco dos réus em sucessivas investigações e teve a sua carreira política considerada sepultada.

Passados quatro anos, porém, venceu as eleições, prometeu uma anistia aos criminosos que invadiram o Capitólio após sua derrota, anunciou que tornará mais rígidas as regras migratórias e empunhou a bandeira da liberdade irrestrita de expressão, trazendo para o núcleo do governo o bilionário Elon Musk, dono da rede social X (antigo Twitter) e notório desafeto do ministro Alexandre de Moraes.

No ano passado, Musk e Moraes protagonizaram uma queda de braço. O X ficou fora do ar por 40 dias e foi multado em R$ 28 milhões por se recusar a cumprir determinações do STF. Com o apoio do chefe de Estado americano, que teria prometido impor sanções pessoais, políticas e econômicas aos “perseguidores” do ex-presidente, os aliados de Jair Bolsonaro acreditam que a reviravolta que aconteceu lá pode se repetir no Brasil.

A garantia da interferência americana na política brasileira teria sido dada pelo próprio Trump e ocorreria em três frentes distintas. A primeira ação seria simbólica e miraria o STF. Segundo um assessor de Bolsonaro, os Estados Unidos cancelariam o visto dos onze ministros, sob o argumento de que eles estariam colaborando para a desordem democrática — nada que uma mudança de roteiro de férias não resolva.

A segunda, de caráter econômico, incluiria criar dificuldades e até impor sanções a negócios brasileiros. Em outra frente, mais radical, o governo americano solicitaria o congelamento de contas e ativos que autoridades nacionais porventura mantenham no exterior. “Ainda que o Congresso Nacional (americano) não faça nada, se o Executivo quiser, pode fazer várias medidas para brecar o avanço do autoritarismo no Brasil”, previu Eduardo Bolsonaro durante uma live feita no final de novembro.

O filho “Zero Três” do ex-presidente alertou: “Podem esperar: a conduta vai mudar e a cobra vai fumar”. Eduardo assumiu a Secretaria de Relações Internacionais do PL, o seu partido, e esteve pessoalmente com Trump durante a eleição americana.

Bravata?

Não está claro como essas medidas poderiam fazer os ministros do STF tirar o pé do acelerador contra o ex-presidente. Não se pode descartar também a hipótese de que Trump, caso realmente tenha se comprometido a se meter em assuntos políticos do Brasil, estivesse apenas fazendo mais uma de suas bravatas. A empolgação com os Estados Unidos, porém, vem acompanhada de um plano de remodelagem da legenda de Bolsonaro.

Com quase 40 anos de existência, o Partido Liberal tornou-se a maior agremiação do País após a filiação do ex-presidente, em 2021. Hoje um bastião do campo da direita, o PL já fez parte dos governos de Lula e Dilma e ainda mantém em seus quadros figuras históricas que não rezam a cartilha dos militantes mais conservadores e por vezes contrariam certas orientações na hora de votar, o que tem gerado embates internos e uma disputa pelo controle da legenda. As informações são do portal veja.com.

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