Sábado, 28 de dezembro de 2024

“Cogumelo mágico” psicodélico pode ajudar alcoólatras a parar o consumo de bebidas alcoólicas

Testes com um composto em cogumelos psicodélicos, que contêm a substância alucinógena psilocibina, ajudou alcoólatras ​​a reduzir ou parar completamente a beber.

Mais pesquisas são necessárias para ver se o resultado se confirma e se funciona em um estudo com maior amostragem. Muitos que tomaram placebo em vez de psilocibina também conseguiram beber menos, provavelmente por estarem bastante motivados com o estudo.

A psilocibina, encontrada em várias espécies de cogumelos, pode causar horas de alucinações vívidas. Os indígenas a usavam em rituais de cura e os cientistas estão explorando os efeitos médicos da substância: se pode aliviar a depressão e atenuar quadros de tabagismo e alcoolismo. A posse, o cultivo e a venda da psilocibina, bem como de outras substâncias alucinógenas de natureza semelhante, são considerados ilegais no Brasil.

A nova pesquisa, realizada a partir de 2018 e publicada no JAMA Psychiatry, é “o primeiro estudo moderno, rigoroso e controlado” sobre se a substância pode ajudar pessoas que lutam contra o álcool, disse Fred Barrett, neurocientista da Universidade Johns Hopkins que não esteve envolvido no estudo.

Na pesquisa, 93 pacientes tomaram uma cápsula contendo psilocibina ou um placebo, deitaram em um sofá, com os olhos cobertos, e ouviram música em fones de ouvido. Eles receberam duas dessas sessões, com um mês de intervalo, e 12 sessões de terapia.

Durante os oito meses após a primeira sessão de dosagem, os pacientes que tomaram psilocibina se saíram melhor do que os pacientes com placebo. No primeiro grupo, em média, os pacientes tiveram recaídas com a bebida uma vez em 10 dias. Já no segundo grupo, a média sobe para 1 recaída a cada 4 dias. Quase metade dos que tomaram psilocibina parou de beber completamente em comparação com 24% do grupo que recebem medicamento fictício.

Apenas três medicamentos convencionais – dissulfiram, naltrexona e acamprosato – são clinicamente aprovados para tratar o transtorno por uso de álcool e não houve aprovações de novos medicamentos em quase 20 anos.

Embora não se saiba exatamente como a psilocibina funciona no cérebro, os pesquisadores acreditam que ela aumenta as conexões e, pelo menos temporariamente, muda a maneira como o cérebro se orienta em relação a estímulos externos e internos.

“Mais partes do cérebro estão falando com mais partes do cérebro”, disse o Dr. Michael Bogenschutz, diretor do Centro de Medicina Psicodélica da NYU Langone, que liderou a pesquisa.

Pouco se sabe ainda quão duradouras essas novas conexões podem ser. Em teoria, combinada com as sessões de terapia, as pessoas podem ser capazes de quebrar hábitos e comportamentos viciados e adotar novas condutas com mais facilidade.

“Existe a possibilidade de realmente mudar de maneira relativamente permanente a organização funcional do cérebro”, disse Bogenschutz. “Os pacientes descreveram insights de mudança de vida que lhes deram motivação”.

Os pacientes que receberam psilocibina tiveram mais dores de cabeça, náuseas e ansiedade do que aqueles que receberam placebo. Uma pessoa relatou pensamentos de suicídio durante uma sessão de psilocibina.

Em um experimento como esse, é importante que os pacientes não saibam ou adivinhem se receberam a psilocibina ou a droga fictícia. Para tentar conseguir isso, os pesquisadores escolheram um anti-histamínico genérico com alguns efeitos psicoativos como placebo.

Ainda assim, a maioria dos pacientes no estudo adivinhou corretamente se eles receberam a psilocibina ou a pílula fictícia.

Dr. Mark Willenbring, ex-diretor do Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo dos Estados Unidos, disse que mais pesquisas serão analisadas antes que a psilocibina possa ser utilizada no tratamento do alcoolismo ou de outras doenças. “É tentador, absolutamente”, disse Willenbring. “É preciso mais pesquisa? Sim. Está pronto para o horário nobre? Não.”

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