Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Colágeno faz mal? Mitos e verdades sobre o uso do produto e seus efeitos no corpo

Produzido naturalmente pelo organismo, em abundância, o colágeno constitui músculos, tendões, articulações e tecidos em diversas partes do corpo, como paredes dos vasos sanguíneos. De importância vital, é considerado a “proteína da beleza”, responsável pela firmeza e elasticidade da pele, além de conferir unhas e cabelos mais resistentes. Mas, com o passar dos anos, as células responsáveis pela síntese do colágeno ficam menos eficientes e a pele perde o seu aspecto jovial, o que leva ao surgimento das linhas de expressão e flacidez. Há uma grande oferta de produtos e procedimentos com a proposta de preservar e “resgatar” o colágeno para recuperar a pele. Mas, o que de fato funciona?

O primeiro cuidado a se tomar para conservar o colágeno da pele é usar e abusar da proteção solar, seja com cremes e loções ou com acessórios que servem de barreira aos raios ultravioleta. “É a principal medida para retardar a degradação do colágeno”, afirma a dermatologista Ediléia Bagatin, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenadora do Departamento de Cosmiatria Dermatológica da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Segundo ela, além da exposição ao sol, outros fatores como poluição, dieta hipercalórica e estresse podem causar danos aos fibroblastos, células que produzem o colágeno.

Para uso tópico, o ácido retinoico é a substância que apresenta mais evidências de que consegue aumentar a produção de colágeno, diz Ediléia. Embora existam cremes, séruns e outros cosméticos à base de colágeno para uso tópico, a proteína não é absorvida e incorporada à pele ou cabelos, já que é uma molécula muito grande.

O que é colágeno?

O colágeno é uma proteína produzida pelo organismo. Há diversos tipos de colágeno (do tipo 1 ao 12) e ele está presente em todo o corpo – e não só na pele. É a proteína mais abundante no ser humano.

Vale a pena tomar suplementos de colágeno?

O uso de suplementos de colágeno consumidos via oral, por sua vez, divide os profissionais de saúde. Facilmente encontrados em prateleiras das farmácias ou oferecido por vendedoras de muita lábia, eles geralmente estão disponíveis como pó solúvel em água, mas também no formato de cápsulas, bebidas e balas de goma mastigáveis. São feitos a partir de cartilagem animal – portanto, não são veganos. As nomenclaturas confundem e as formulações costumam incluir outros ingredientes – por isso, é melhor buscar um especialista para oferecer a melhor opção para você, inclusive em relação a dose e frequência indicadas.

O dermatologista Cesar Cuono faz parte do grupo de profissionais que recomenda o suplemento de colágeno para seus pacientes, mirando melhora na aparência da pele. “Receito o colágeno hidrolisado, com orientação de que seja tomado em jejum e à noite, para melhor absorção pelo organismo”, diz. Ele explica que o colágeno hidrolisado, também chamado de peptídeos de colágeno, é aquele que foi quebrado em partículas menores e, por isso, é mais facilmente absorvido pelo organismo.

Há 11 anos, Adriana Almeida, de 51 anos, advogada e empreendedora, toma diariamente o suplemento de colágeno para obter benefícios para a pele e o cabelo. “Muitas amigas já tomavam e diziam que era ótimo. Fui perguntar para minha dermatologista se valia a pena e ela me recomendou tomar”, conta ela, que percebeu efeitos positivos após três meses de consumo do suplemento. “No início não acreditava que funcionaria. Mas notei que a pele ficou mais hidratada e firme, as unhas ficaram mais fortes e o cabelo apresentou menos queda, mais brilho e força.”

A dermatologista Ediléia Bagatin orientou uma tese de doutorado na Unifesp, defendida em 2020, que demonstrou não haver contribuição do suplemento hidrolisado para a pele. A pesquisa acompanhou dois grupos por seis meses: um deles ingeriu placebo e outro suplemento colágeno hidrolisado. “Não houve diferença na qualidade de pele entre os dois grupos”, afirma.

Não há evidências na literatura médica de que o uso de suplementação de colágeno via oral é melhor que a ingestão de proteína obtida pela alimentação, afirma o dermatologista Rubens Pontello Júnior. “Há uma indústria bilionária vendendo esse tipo de suplemento, com grande margem de lucro. Com esse dinheiro, é possível construir narrativas a favor do consumo do suplemento de colágeno”, diz. Se o paciente quer estimular a produção de colágeno, Pontello prefere recomendar cuidado maior na alimentação ou oferece uma gama de procedimentos dermatológicos.

A respeito dos casos de pacientes que observaram melhora da pele após o uso do suplemento de colágeno, ele levanta duas possibilidades: o efeito placebo, em que o paciente observa mudança mesmo quando usa uma substância inerte, ou o efeito Hawthorne, quando o paciente começa a ter um comportamento positivo por estar sendo observado. “A pessoa passa a ter uma rotina de cuidados, que melhora a pele.”

Que alimentos ajudam na produção de colágeno?

Pontello orienta aos pacientes que consumam alimentos fontes de proteína como carnes, queijos, ovos, amêndoas, pasta de amendoim e semente de abóbora. Para garantir os recursos para a síntese de colágeno, é importante ter aporte proteico dentro da recomendação diária, que varia para cada pessoa, conforme vários fatores como idade, atividade física e condições de saúde, explica Marcella Garcez, médica nutróloga e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Como preservar o colágeno da pele?

Cuidados com o sol: A exposição ao sol provoca a degradação do colágeno. Portanto, para preservar a pele, é preciso usar protetor solar e acessórios como chapéus e bonés. Mas lembre-se de que precisamos tomar sol para fazer a síntese de vitamina D, então alguma parte do corpo terá de ser exposta por alguns minutos do dia – caso contrário, será preciso fazer a suplementação da vitamina D com orientação de um profissional de saúde qualificado.

Alimentação á importante: Para sintetizar o colágeno, o corpo precisa de aminoácidos, presentes em proteínas animais e vegetais que consumimos. Alimentação adequada, com consumo de proteínas dentro das recomendações diárias, é essencial. Carnes magras, ovos, laticínios e leguminosas como feijões, ervilhas, lentilhas, grão de bico são boas fontes de proteína. Para que os aminoácidos se organizem em fibras de colágeno, é preciso ter consumido vitamina C, presente em frutas cítricas, frutas vermelhas e vegetais folhosos.

Rotina: Os cuidados básicos para manter a qualidade de vida refletem na pele. Evitar estresse, fumar e bebidas alcoólicas, garantir um sono de qualidade ajudam a não preservar as células produtoras de colágeno.

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