Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 21 de setembro de 2023
A pornografia está muito mais acessível aos adolescentes de hoje. Se no passado este conteúdo ficava restrito a revistas “adultas” e fitas VHS guardadas em ambientes proibidos para menores de idade em locadoras, hoje é possível acessar uma grande quantidade de fotos e vídeos eróticos na palma da mão, por meio do smartphone. Se o conteúdo pode ser prejudicial para os adultos, ele impacta ainda mais a sexualidade dos adolescentes.
O turbilhão de hormônios característico desta faixa etária aflora ainda mais a curiosidade sobre temas como a sexo. E, uma das formas de se aproximar do assunto é consumindo a pornografia. O problema é que, por muitas vezes, esses conteúdos eróticos são as únicas fontes de conhecimento dos adolescentes e isso faz com que eles criem uma imagem deturpada do que pode ser o sexo.
A psiquiatra Carmita Abdo, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), explica que durante a iniciação sexual de um adolescente é comum que ele procure conteúdos sobre o tema, inclusive pornografia. Problemas podem surgir quando esses jovens não recebem orientações sobre aquele tipo de conteúdo, principalmente explicações de que este material é roteirizado e editado, e que na vida real a prática sexual é diferente.
“Nesses vídeos os corpos são exuberantes, a performance é muito perfeita, os movimentos são diversificados. O adolescente pode querer comprar esses aspectos com a sua realidade, seu corpo. Isso pode afetá-lo negativamente se ele não for orientado a entender que as pessoas que estão ali são adultas e trabalham com este tipo de conteúdo, são profissionais”, alerta Abdo, que é coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade da USP.
Para a especialista, o caminho para pais e cuidadores não é coibir, mas alertar sobre os riscos e estar aberto para possíveis dúvidas. Segundo ela, os adultos precisam ser o um canal aberto e estarem atentos para observar se o consumo da pornografia está afetando a visão do adolescente sobre o sexo.
Em casos de compulsividade, a pornografia pode afetar outras áreas da vida do adolescente para além da sexualidade. Muitas vezes, os conteúdos são consumidos à noite, quando não há ninguém por perto. Isso custa noites de sono que impactam diretamente no rendimento do dia seguinte, podendo afetar, por exemplo, o desempenho escolar.
Um artigo publicado por pesquisadores da Universidade Ludwig-Miximilians, na Alemanha, em 2021, diz que 25% de todas as pesquisas na internet levam a conteúdo explícito de sexo. No trabalho eles se debruçam sobre um levantamento feito com adolescentes britânicos que indicou que 78% dos usuários com idades entre 16 e 17 anos relataram ter encontrado pornografia na Internet. “Além disso, muitos deles afirmaram visitar frequentemente sites dedicados à pornografia. Aqueles que participaram da pesquisa admitiram que, em média, visualizaram esse conteúdo pela última vez 6 dias antes do preenchimento do questionário. E muitos entrevistados disseram que assistiram a vídeos pornográficos e visualizaram galerias de fotos naquele mesmo dia. A análise das respostas indicou que os adolescentes passavam em média 2 horas por mês em sites pornográficos”, destacava o comunicado de imprensa da instituição de ensino.
Não existem muitos estudos que detalhem como a pornografia condiciona a resposta sexual em humanos. Um trabalho feito por pesquisadores holandeses em 2014 relatou como alguns homens — que assistiram pornografia combinada com objetos comuns, como um pote cheio de moedas, apresentaram excitação apenas com a presença do objeto, sem a necessidade de conteúdos eróticos.