Segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 22 de janeiro de 2024
A duas horas de balsa do porto de Pireu, em Atenas, na Grécia, existe uma ilha com área inferior a 50 quilômetros quadrados e população menor que dois mil habitantes, segundo o último censo. Chama-se Hydra e uma de suas peculiaridades é que as coisas parecem ter parado no tempo. A população não viaja de carro, mas sim a pé, em burros, mulas ou carruagens puxadas por cavalos.
Isso não é coincidência, nem recente. A proibição de veículos motorizados foi implementada oficialmente na década de 1960 como uma política estatal, parte de um esforço conjunto das autoridades locais e da comunidade da ilha para preservar o seu encanto tradicional, as suas paisagens naturais e o seu ar puro. Também com o objetivo de manter a tranquilidade do ambiente e promover uma modalidade de turismo de baixa escala e sustentável.
À exceção de caminhões de lixo, caminhões de bombeiros e ambulâncias, nenhum veículo é permitido na ilha. Somente para chegar, há o serviço de ferry funciona por água e táxis aquáticos. Como a cidade é construída sobre colinas íngremes, os burros e mulas são o meio de transporte preferido para subir escadas e vielas estreitas. Assim, o barulho das buzinas – muitas vezes identificado nas cidades como poluição sonora – é substituído pelo barulho das pernas dos quadrúpedes colidindo nas ruas de paralelepípedos.
O fato de a política ter sido aprovada e incentivada pela comunidade local desde o início explica porque tem sido sustentada ao longo de tantos anos.
À primeira vista, Hydra não é muito diferente das demais ilhas vizinhas. Mantém-se a premissa de edifícios baixos com fachadas brancas imaculadas combinadas com telhados de barro vermelhão e um cheiro de jasmim nas ruas que faz com que tudo seja visto através de um prisma perfumado. A natureza, por sua vez, proporciona um bom número de praias e falésias.
O turismo é, naturalmente, o motor econômico de Hydra; e não é surpreendente descobrir que muitos que a habitam não nasceram lá, mas decidiram construir uma casa nas suas margens. Harriet Jarman é apenas um desses casos.
“É uma ilha que nos transporta ao passado”, disse a mulher, que hoje é dona da Harriet’s Hydra Horses, uma empresa de passeios a cavalo na ilha. “Todo o transporte nesta ilha é feito com cavalos ou mulas. Como não há carros, a vida de absolutamente todos é visivelmente mais calma”, continuou.
Vantagens
Além de tranquila, a vida sem trânsito de veículos é mais saudável e segura. Ao eliminar o fator automóvel, as emissões de gases poluentes e partículas finas no ar são significativamente reduzidas, melhorando a qualidade, o que por sua vez reduz o risco de problemas respiratórios, alergias e outros tipos de condições relacionadas.
Por outro lado, o cancelamento do trânsito de veículos contribui para um ambiente mais tranquilo, claro e descontraído. Considerando que a exposição constante ao ruído aumenta o estresse crônico, o risco de doenças cardiovasculares, ataca o sistema imunológico e piora a qualidade do sono, pode-se dizer que um ritmo de vida sem trânsito contribui para a melhoria geral do bem-estar mental humano.
Em linha com este último ponto está a promoção da atividade física: com menos veículos para transporte, as pessoas não têm outra escolha senão caminhar ou andar de bicicleta, aspecto que incentiva um estilo de vida fisicamente ativo.
Mas, acima de tudo, a falta de tráfego de veículos garante a segurança rodoviária. A proibição de carros torna as ruas mais seguras tanto para pedestres quanto para ciclistas, reduzindo assim o risco de acidentes.
Paraíso artístico
Além de ter um apelo básico para os turistas, com a sua originalidade a ilha desenvolveu um apelo especial para artistas e figuras políticas influentes. Existem vários exemplos que envolvem Henry Miller, um escritor e poeta americano que passou um tempo em Hydra na década de 1930 e escreveu sobre suas experiências lá; Sophia Loren, atriz italiana que a visitou pela primeira vez em 1957 durante as filmagens do filme “Boy on a Dolphin”; Leonard Cohen, músico e poeta canadense que viveu na ilha na década de 1960 e usou o cenário para criar sua peça musical “Bird on a Wire”; e até mesmo Jacqueline Kennedy Onassis, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos que também visitou a ilha na década de 1960.
Numa visão mais atual, Michael Lawrence, pintor americano que se mudou para a ilha na década de 1960, concorda que viver neste tipo de ilha incentiva a criação artística. “Estar na Hidra ajuda significativamente o processo criativo do artista, porque desacelera”, finaliza.