Sábado, 21 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 9 de dezembro de 2024
Falar sozinho é tecnicamente conhecido como solilóquio e é considerado um hábito mais comum e saudável do que se imagina. A Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos (NIH) define o diálogo pessoal como um hábito que traz benefícios em termos de atenção e estado emocional, e destacam que sua prática é muito útil para atletas e acadêmicos assim como para pessoas que sofrem de depressão e ansiedade.
“Quando perco alguma coisa, quando estou com raiva ou quando quero me parabenizar, fico na frente do espelho e converso sozinha”, diz Paula Feige, de 57 anos, que mora com sua gata Luana, com quem ela também costuma conversar.
Segundo ela, o hábito de falar sozinha está arraigado há anos e ela confessa que isso lhe faz bem:
“Me ajuda a liberar energias que de outra forma ficariam estagnadas”, afirma.
Para a psicóloga Sol Buscio, falar sozinho costuma estar associado a um comportamento infantil ou a ser uma pessoa que não está em seu juízo perfeito. E a verdade é que é exatamente o contrário.
“É ótimo podermos ter a capacidade de conversar com nós mesmos e exteriorizar o que está acontecendo no nosso mundo interno: tanto o que sentimos quanto o que pensamos. Caso contrário, se guardarmos isso para nós mesmos, será difícil resolver conflitos e aliviar o estresse”, esclarece.
Por sua vez, para o psicólogo Matías Braslavsky, não podemos parar de falar mesmo quando estamos sozinhos porque somos permanentemente atravessados pela linguagem e pelas palavras.
“Tem uma coisa que tem a ver com uma questão estrutural do ser humano, as ideias nunca cessam”, acrescenta.
A conversa interna, quando baseada em conteúdo positivo “pode melhorar a cognição e o humor; Mas quando as declarações são negativas, está relacionado com estar emocionalmente ferido”, aponta um relatório da instituição norte-americana.
Muitas vezes falar em voz alta é algo que vem automaticamente para as pessoas, elas não percebem. Nesse sentido, Marcos Apud, psicólogo e treinador de bem-estar, explica que as pessoas “geralmente falam sozinhas porque temos vozes mentais que vivem no nosso cérebro: diálogos internos e monólogos que muitas vezes acabamos expressando inconscientemente”.
Outro possível motivo que leva ao solilóquio, diz Apud, é que “fazemos isso para organizar uma palestra ou algo que temos a dizer em público e o fato de praticá-lo em voz alta nos faz sentir seguros e nos ajuda a reduzir a ansiedade que esta situação nos gera .” Além disso, Buscio acrescenta que às vezes não é algo planejado: “Às vezes fazemos sem perceber quando não queremos esquecer alguma coisa”.
E um exemplo claro disso é o de Victoria Esmerode, uma administradora de 30 anos, que diz que falar sozinha faz parte do seu dia a dia desde menina.
“Geralmente tenho conversas na minha cabeça e respondo eles em voz alta. Por exemplo, penso: ‘Tenho treino hoje?’ e respondo em voz alta: ‘Sim, hoje vou treinar’”, conta.
Este ritual de falar consigo mesmo, aponta o NIH, está associado a uma variedade de funções mentais superiores que incluem raciocínio, resolução de problemas, planejamento, execução de um plano, atenção e motivação, e apontam que é considerado um aspecto central de saúde mental dos indivíduos.
Benefícios
Os especialistas consultados concordam que conversar sozinho pode ser a porta de entrada para o mundo interno de cada pessoa.
“Esse hábito nos permite desenvolver a auto-escuta. Por ser seu próprio emissor e receptor, a pessoa pode materializar por meio de palavras aquilo que não consegue nomear. Assim, ela consegue gerar autoconsciência entre o que pensa e sente. Essa situação traz tranquilidade e ajuda a enfrentar os conflitos com outra perspectiva”, afirma Braslavsky.
Para Buscio, outra vantagem de ter esse tipo de conversa é que nos torna mais conscientes de nós mesmos e do que se passa na nossa cabeça. É uma forma de refletirmos com nós mesmos e não deixarmos passar o que nos acontece.
E é o caso de Sol V., jovem artista de 24 anos e fervorosa seguidora deste costume, que afirma que falar em voz alta a ajuda a organizar o pensamento e lhe dá clareza.
“Me permite que eu me conheça mais profundamente. Além disso, me dá a possibilidade de saber como sou, como me sinto, o que penso, o que quero, para poder direcionar as minhas decisões e ações para esse lugar. Depois de ter estes diálogos, sinto mais coerência entre o que sinto e o que estou fazendo para acompanhar esses sentimentos”, aponta.
No outro extremo, o solilóquio também ajuda a memória e melhora o foco em um tema.
“Repetir os temas em voz alta me permite fixá-los e não esquecê-los. Por exemplo, quando estudo para uma prova ou para uma apresentação. Consequentemente, adquire-se maior segurança e autoconfiança”, diz Buscio.