Sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Cruzeiros: saiba o que a história de um homem que caiu de um navio e sobreviveu revela sobre a segurança a bordo

Fazia apenas um dia que o Carnival Valor estava no mar quando dos alto-falantes veio o pedido de que determinado passageiro se apresentasse ao setor de atendimento ao público. A família do homem em questão, um norte-americano de 28 anos, tinha dado por sua falta naquela manhã. Era Dia de Ação de Graças, e o navio de cruzeiro, com capacidade para 3.756 pessoas, que saíra de Nova Orleans na véspera, seguia rumo a Cozumel, no México.

Em seguida, os tripulantes começaram a dar busca nas cabines, como contou Shant’a Miller White, de 48 anos, que viajava com a família:

“Um funcionário entrou na da minha prima dizendo que tinha de conferir para saber se estava tudo bem. Àquela altura, ninguém sabia o que estava acontecendo; foi só na hora do jantar que anunciaram que haveria uma mudança na rota para a execução de uma operação de busca e resgate. Comecei a pensar no pobre sozinho na água e senti um aperto no peito. Será que tinha ido para o fundo? Será que tinha sido pego pelos tubarões? Comecei a rezar.”

Segundo a Guarda Costeira, o passageiro era James Grimes, de 28 anos, que estava no cruzeiro de cinco dias com os pais e os irmãos.

“Os familiares o tinham visto por volta das 23h da noite anterior, mas às 10h45m de Ação de Graças, como não tinham tido sinal dele ainda, resolveram avisar a tripulação”, explicou um porta-voz.

Às 20h10, mais de nove horas depois do alerta, um navio-tanque viu Grimes perto da foz do Rio Mississippi e alertou as autoridades. Os resgatistas o encontraram boiando com dificuldade, acenando freneticamente e tentando manter a cabeça acima da superfície da água.

“Quando o pessoal do MH-60 Jayhawk o resgatou, percebeu que ele estava em choque, com hipotermia leve, mas extremamente desidratado; entretanto, estava vivo e em condições estáveis”, informou o tenente Seth Gross, responsável pela operação.

Grimes, descrito pela família como “nadador excepcional”, resistiu a horas na água com temperaturas entre 18°C e 21°C, debaixo de chuva, com ventos de quase 40 quilômetros por hora e ondas entre um metro e meio e dois metros e meio, onde a presença de tubarões cabeça chata e galha preta é comum.

“Sem dúvida, é um caso extraordinário. O instinto de sobrevivência e a vontade de viver são insanos”, comentou Gross.

Frequência

Cair de um navio em pleno alto-mar pode ser o pior pesadelo em um navio de passageiros. Embora as chances sejam remotíssimas, segundo a Associação Internacional de Empresas de Cruzeiros (Clia, na sigla em inglês), o resultado normalmente é trágico. Em 2019, 25 pessoas caíram, mas apenas nove foram resgatadas.

Em fevereiro, uma passageira do mesmo Carnival Valor pulou do décimo deque para fugir dos seguranças que tentaram detê-la depois de um bate-boca; seu corpo nunca foi encontrado. Em dezembro de 2016, um homem de 22 anos caiu do 12º deque de uma embarcação da Royal Caribbean depois de passar a noite bebendo. Seus pais entraram na justiça, mas a decisão do júri foi a favor da companhia.

Segundo Ross Klein, professor de assistência social da Universidade Memorial da Terra Nova e Labrador, no Canadá, que estuda a questão da segurança a bordo, o consumo de bebidas alcoólicas é responsável por pelo menos 11% das quedas nos cruzeiros, que normalmente oferecem pacotes all-inclusive, encorajando os excessos.

Prevenção

Ainda de acordo com Klein, obrigatoriamente o parapeito tem de ter, no mínimo, um metro de altura:

“O objetivo de uma proteção com essa altura é manter o passageiro no passadiço. A grande maioria dos acidentes é resultado de comportamento inconsequente ou ato intencional. Não dá para cair de um cruzeiro sem querer”, garantiu Brian Salerno, vice-presidente de políticas marítimas da Clia.

Klein sugeriu:

“Os navios poderiam perfeitamente reduzir os riscos se limitassem o consumo etílico, aumentassem a altura das grades e instalassem equipamentos com tecnologia para detectar a queda de objetos pesados.”

Segundo Salerno, a lei de 2010 estimulou as empresas a desenvolver e instalar esse tipo de tecnologia:

“Foram anos para criar um sistema que fosse sensível a ponto de detectar a queda de uma pessoa e fazer soar o alarme, mas que não fosse estimulado por outros objetos, como uma gaivota voando nas proximidades, por exemplo. Algumas embarcações já contam com o equipamento.”

Robert Kritzman, um dos sócios da Clyde & Co., firma de advocacia de Miami que presta serviço para as empresas de cruzeiros, explicou que os bartenders são treinados para detectar o consumo excessivo:

“A política geral é a mesma de outros estabelecimentos: quando a pessoa começa a ficar muito bêbada, é parar de servir.”

De acordo com a Carnival Corp., a única forma de cair do navio é escalando a barreira de proteção intencionalmente. “Os cruzeiros têm barras de segurança que seguem os padrões da Guarda Costeira e impedem qualquer tipo de queda. O passageiro jamais deve escalar as grades”, declarou a companhia na nota de agradecimento ao órgão e aos mergulhadores que localizaram e resgataram Grimes. O porta-voz da Carnival não respondeu às nossas perguntas posteriores sobre o incidente e seus protocolos de segurança.

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