Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 7 de dezembro de 2024
Dias após decretar lei marcial e tentar fechar o Congresso Nacional da Coreia do Sul, o presidente Yoon Suk-yeol escapou nesse sábado (7) do processo de impeachment aberto pela oposição, segundo a qual o mandatário violou gravemente a Constituição do país asiático. A medida foi rejeitada graças a uma manobra do Partido do Poder Popular (PPP, governista), que retirou quase todos seus deputados da votação.
Caso fosse confirmada a derrota, Yoon Suk-yeol – que completará 53 anos no dia 18 de dezembro – se tornaria o terceiro presidente a sofrer impeachment neste século. De acordo com pesquisa do instituto Realmeter, 73,6% dos sul-coreanos defendem a renúncia ou afastamento. Mas uma nova moção de afastamento deve ser protocolada nos próximos dias.
Eleito com uma vantagem de menos de um ponto percentual em 2022, Yoon Suk-yeol se tornou um dos mais impopulares presidentes da História recente da Coreia do Sul, com índices que raramente superavam os 30%. Seu governo mesclou atos populistas — como a saída da Casa Azul, a antiga sede da Presidência, sob pretexto de economia de gastos — com uma condução errática de políticas públicas e, especialmente, da economia.
Os altos preços dos imóveis, um fator que contribuiu para sua vitória, persistiram, erodindo o apoio em uma parcela dos sul-coreanos que o apoiaram na campanha.
Estratégia
A sobrevivência política de Yoon é o desfecho de uma semana em que o apoio ao presidente teve altos e baixos entre os governistas. Na terça-feira, quando decretou a lei marcial (que ficou vigente por apenas algumas horas), o mandatário viu integrantes de sua base aliada romperem o cerco das forças de segurança à sede do Parlamento e votarem pela ilegalidade da medida. Os mesmos deputados, aliás, que debandaram da sessão.
A manobra tomou forma quando deputados governistas começaram a se retirar do plenário após participarem de votação sobre a nomeação de um promotor especial, questões eleitorais e a abertura de inquérito contra a primeira-dama, Kim Keon-hee, por suposto esquema de manipulação de ações. Os aliados de Yoon bloquearam a votação envolvendo a primeira-dama e deixaram o plenário, sob o protesto de colegas de oposição.
Embora tenha maioria no Parlamento, com 192 deputados, a oposição precisava do apoio de oito governistas para alcançar os 200 votos necessários ao afastamento (a exigência era de que 2/3 dos parlamentares votassem, para que houvesse a aprovação). Dos 108 deputados ligados ao governo, entretanto, somente um se recusou a abandonar a sessão — o veterano Ahn Cheol-soo, ex-integrante do Partido Democrático (principal sigla da oposição) e que concorreu à Presidência da Coreia do Sul.
A manobra parlamentar enfureceu uma multidão de cerca de 150 mil cidadãos no entorno da Assembleia Nacional para pedir pelo impeachment. Aos gritos de “traidores”, os manifestantes tentaram pressionar para que os governistas retornassem para votar. Eles também gritaram palavras-de-ordem pedindo a prisão do presidente.
O partido governista se viu diante de uma encruzilhada política desde que Yoon — um líder impopular e pressionado por indícios de escândalos — decidiu decretar lei marcial. A medida, que supostamente visava combater “comunistas pró-Coreia do Norte” e “agentes antiestatais”, causou uma instabilidade política que acendeu alertas na geopolítica internacional.
Desculpas públicas
Um fator que parece ter contribuído para a tábua de salvação estendida pelo Congresso a Yoon foi o pronunciamento em cadeia nacional feito pelo presidente apenas sete horas antes da votação. O mandatário pediu desculpas aos coreanos pela “ansiedade” causada pelo decreto de lei marcial, o que disse ter nascido “do desespero do presidente, que é o responsável final pelos assuntos de Estado”.
“Não fugiremos da questão da responsabilidade legal e política em relação a esta declaração de lei marcial”, declarou disse Yoon. “Deixarei o futuro plano de estabilidade política, incluindo o meu mandato, para o nosso partido. Mais uma vez, inclinamos a cabeça em desculpas por causar preocupação aos nossos cidadãos.”
Embora a reação inicial do partido tenha sinalizado que era tarde demais para a manutenção do presidente no poder, o discurso parece ter ressoado positivamente entre as fileiras do partido. Em uma entrevista à rede britânica BBC, o parlamentar Cho Kyung-tae, que havia anunciado publicamente que votaria a favor do impeachment, disse que voltou atrás após o pedido de desculpas de Yoon.
Mais do que um motivo, as desculpas públicas de Yoon parecem ter sido o pretexto utilizado pelo PPP para assumir o curso político inicialmente traçado pela direção do partido — afastar-se da lei marcial, e evitar a reação colérica do eleitorado conservador.