Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 9 de dezembro de 2024
Apesar da incerteza quanto ao novo regime instalado pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), especialistas acreditam que, para buscar um reconhecimento da comunidade internacional, os líderes devem adotar uma postura mais moderada – ou menos autoritária – em relação à ditadura de Bashar Assad.
A transição de poder não significa que a Síria esteja livre dos problemas. Para o professor de Relações Internacionais Roberto Uebel, da ESPM, é preciso ver com cuidado qualquer ação que os novos líderes possam tomar daqui para frente. “Quem hoje toma o poder também é uma figura que, não necessariamente, é muito afeita à democracia. É preciso observar com cautela se o Hayat Tahrir al-Sham vai permitir a realização de eleições na Síria agora, nas próximas semanas ou nos próximos meses. Mas, de fato, é o fim da ditadura de Assad”, explicou Uebel.
A abertura a negociações com potências da região, como Arábia Saudita e Turquia, pode acontecer, principalmente de olho no enfraquecimento do Irã. Assim, deve ocorrer uma possível diminuição da instabilidade no país, que faz fronteira com algumas das nações mais tumultuadas do Oriente Médio. “Mohammed Jolani, líder do Hayat Tahrir al-Sham, está fazendo um discurso moderado. Ele está abandonando o turbante jihadista, usando o uniforme militar, se apresentando tanto em Alepo, como em Homs, como em Damasco, com líderes cristãos ao lado. Em outras palavras, falando que vai ter tolerância religiosa. Isso no contexto sírio é fundamental”, afirmou Leonardo Trevisan, professor de Relações Internacionais da ESPM.
Desafios no país
Isso porque os principais desafios no país têm relação com a coesão política e territorial. Desde o início da Primavera Árabe, diversos grupos tiveram de lidar com a repressão violenta do governo, que dividiu ainda mais a população e o poder. O conflito com as forças militares deu início a uma guerra civil que já dura 13 anos e foi inflamada pela posição cada vez mais repressora de Assad.
Reconstruir os pedaços de um território arrasado pelo conflito e com tantos anos de opressão pode não ser uma tarefa fácil. Além disso, as diversas minorias que vivem no país também podem aproveitar o momento para se levantar em prol de seus próprios Estados independentes. “Esse é um grande desafio de quem for assumir o governo da Síria. Conseguir ter legitimidade, legalidade e conseguir realizar eleições”, apontou Uebel. “Ainda há células do Estado Islâmico no interior, há outros grupos rebeldes de oposição e outros grupos menores, além da resistência dos apoiadores do Assad, que vão permanecer no país e serão a nova oposição.” As informações são do jornal O Globo.