Quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 27 de janeiro de 2025
A deportação de brasileiros e outros latino-americanos e a ameaça contra a Colômbia no final de semana foi um reflexo de como será a política internacional de Donald Trump nos próximos anos. “Estamos entrando em um mundo desconhecido”, considera ex-diplomata Victor do Prado, ex-diretor do Conselho e do Comitê de Negociações Comerciais da OMC e conselheiro consultivo internacional do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). A postura de Trump também enfraquece as organizações internacionais ao desrespeitar acordos ou, simplesmente, retirar-se, como fez na OMS.
Leia abaixo partes da entrevista:
No final de semana, a notícia foi a deportação dos brasileiros dos Estados Unidos em uma situação degradante. Realmente há algum acordo firmado sobre isto?
É verdade que houve um acordo no período em que o presidente Temer estava no cargo, mas não se tratou das condições de repatriação. Isso é algo que não estava determinado e, caso soubéssemos do tratamento desumano aos brasileiros, o Brasil jamais teria aceitado que seus nacionais fossem tratados dessa maneira. Nenhum país sério ou soberano aceitariam esse tipo de tratamento, especialmente quando não há uma ação judicial que declare essas pessoas como réus. Uma coisa é ser um imigrante ilegal, outra coisa é ser criminoso. Não conheço a situação específica de cada um dos brasileiros envolvidos, mas tenho dúvidas de que cada um desses cidadãos tenha sido alvo de uma ação judicial, de uma condenação nos Estados Unidos. Por exemplo, no direito interno, no Brasil, quando alguém é transportado de um lugar para outro, muitas vezes é algemado, o que é comum. No entanto, isso se aplica ao direito interno e não acredito que isso seja o objeto de um acordo internacional.
A situação com a Colômbia também foi muito preocupante
Estamos entrando num mundo desconhecido. É uma situação preocupante, especialmente considerando o que ocorreu com a Colômbia, que foi ameaçada com um aumento de tarifas de 25% nas importações, apesar de haver um acordo comercial bilateral entre os dois países. Essa é uma ação unilateral dos Estados Unidos, sem base legal, viola as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC). A utilização de instrumentos econômicos para atingir objetivos políticos ou de segurança é algo extremamente preocupante, pois isso pode violar acordos comerciais e o direito internacional. Não acredito que o presidente Trump esteja muito preocupado com isso. É uma atitude de um poder hegemônico que vai usar a força ou que ameaça o uso da força, como nós não vimos, acho que desde a Segunda Guerra.
Desde a Segunda Guerra Mundial, não vemos um país se comportando dessa maneira em escala internacional. Talvez a Rússia na invasão da Ucrânia, mas ainda assim, de maneira circunscrita. O que há é algo explosivo do Trump, que é o presidente do país mais poderoso do mundo, o país mais rico e o país com o maior poder militar do mundo, tem atitudes que são de total desrespeito às regras internacionais. Isso é novo.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, afirmou que o Brasil teve uma reação muito sóbria e não quer provocar o governo americano. Este deve ser o comportamento do Brasil daqui para frente?
Em primeiro lugar, é essencial agir com sobriedade e manter a calma diante dessas situações. Há um desequilíbrio de poder, e é preciso ter prudência. Para um país como o Brasil, assim como para a Dinamarca, que foi ameaçada pelo Trump em relação à Groenlândia, a postura deve ser equilibrada e estratégica. No primeiro governo Trump, havia uma postura mais aberta para negociação, embora sempre com uma abordagem transacional, ou seja, em que o presidente procurava mostrar que estava ganhando. É fundamental ser inteligente ao lidar com esses desafios.
O conceito de ‘bi-globalização’ foi utilizado por um colega do Itamaraty em Davos, e é uma globalização em que existem dois grandes pólos, os Estados Unidos e a China. Fora desses dois polos, os outros países não têm o mesmo poder de influência. Para o Brasil, e para outros países, é necessário manter a calma e adotar uma postura estratégica. Com a atitude de Trump, a postura deve ser diplomática, sem entrar em conflitos desnecessários.
Deixar a diplomacia agir.
Exatamente. Fui diplomata durante muito tempo, depois passei na Organização Mundial do Comércio, em negociações, isso o Brasil sabe fazer. Não politizar, deixar a diplomacia brasileira agir. As informações são do portal O Globo.