Sábado, 21 de dezembro de 2024

Eleições em São Paulo: Pablo Marçal provoca tumulto com estudantes na Bienal do Livro

O empresário Pablo Marçal, candidato a prefeito de São Paulo, provocou tumulto na 27ª Bienal do Livro, nessa quarta-feira (11). Desde a chegada até a saída do pavilhão do Anhembi, na Zona Norte da cidade, foi assediado por estudantes de ensino fundamental e médio que gritavam e pediam fotos a todo momento. O ex-coach prometeu ainda “banir” títulos da rede pública que “deturpem a liberdade”, caso seja eleito, sem apresentar exemplos concretos.

A postura de Marçal no evento irritou alguns livreiros e seguranças, que precisaram da ajuda de bombeiros para conter o público e evitar danos nas bancas e acidentes. No entorno, pessoas também gritaram ofensas como “ladrão”, “bandido” e “lixo”.

Um dos mais exaltados era Rodrigo Barros, expositor da editora Cartola. Ele disse ao jornal O Globo que foi chamado de “cheirador” pelo candidato, que reproduz a mesma ofensa, sem provas, a Guilherme Boulos.

“Aqui não é lugar de campanha eleitoral”, criticou ele, acrescentando que também não concordou com a vinda de Boulos no final de semana, mas houve menos atribulação.

Marçal, então, se dirigiu ao estande da editora que publicou seus livros de mentoria e coach. De pé em uma banca, pisando nos livros, mostrou obras de sua autoria para o público. Entrou na área destinada a funcionários e continuou a propaganda, ensaiando uma sessão de autógrafos.

O comboio se chocou diversas vezes com os mostruários, e a dificuldade de transitar pelos corredores obrigou a segurança a intervir. Eles fizeram um cordão para proteger a estrutura e as pessoas. Visivelmente irritado, um profissional disse à reportagem que aquela situação não havia sido combinada, apenas uma visita de cortesia. “Não subir, incitar”, disse.

Dono da livraria que publica as obras de Marçal, Paulo Houch estranhou a pergunta a respeito do fato de um candidato a prefeito estar promovendo os próprios livros na Bienal. Disse que o jornal estava tentando “cavar uma falta” e se recusou a dar entrevista ao jornal O Globo.

A organização também foi procurada para comentar o ocorrido. Por meio de nota, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) declarou que, “por a Bienal do Livro ser um evento de grande visibilidade, é comum que candidatos procurem visitar o evento” e que “recebe a todos sem distinção”. “Sempre esperamos que as visitas transcorram sem intercorrências e preservando a segurança de todos”, acrescenta a entidade.

Promessa de censura 

Em conversa com jornalistas, Marçal prometeu trazer a rede pública inteira para a Bienal do Livro, caso seja eleito, e tornar São Paulo a capital com maior nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Atualmente, a cidade está em 14º lugar no ranking do primeiro ao quinto ano e em 11º do sexto ao nono ano do ensino fundamental, pela avaliação divulgada em agosto, referente a 2023.

O candidato declarou ainda que não descarta banir livros da rede pública, “tudo o que for deturpar a produtividade, o crescimento e a liberdade”. O comentário não foi direcionado a nenhuma obra específica, apesar de a pergunta ter sido motivada pelo caso de “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório, recolhido pelas secretarias de educação de Goiás e do Paraná, em medida revertida posteriormente.

Alegou que as escolas promovem “erotização” e “comunismo”. Indagado sobre medidas práticas que pretende adotar para monitorar os professores, acusados em outras oportunidades de agir como “militantes de esquerda”, Marçal disse que elas serão conhecidas somente a partir do próximo ano.

“O ensino no Brasil sempre foi pautado pelo comunismo. Vamos dar uma mudadinha nisso aí. Vamos chamar muitas pessoas para estudar os livros que serão colocados e tirados, mas com certeza terão livros que não fazem sentido para a formação cognitiva de ninguém, que estão deturpando ideologia”, disparou.

A ida ao estante da sua editora já havia sido anunciada neste momento, com Marçal fazendo autoelogios ao seu histórico. Ele negou, no entanto, a intenção de colocar as próprias obras na mão dos alunos, mesmo diante da promessa de inserir conteúdos sobre “empresarização” e “inteligência socioemocional” em sala de aula.

“Não precisa, não (ter livros dele na rede pública). A gente já vende muito livro no privado”, respondeu o candidato.

Em sabatina do jornal O Estado de S. Paulo, Marçal prometeu manter diálogo institucional com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva caso seja eleito prefeito de São Paulo. O petista apoia Boulos na disputa.

Ele acrescentou que Lula seria bem-vindo na cidade e que não torce contra o seu governo.

“Eu não estou contra ele não. Eu luto para que ele faça as coisas certas. Que ele diminua o imposto como o Bolsonaro diminuiu. Que ele seja um cara que não gaste tanto dinheiro igual está gastando. Que ele não interfira no Banco Central. Eu estou a favor. Eu quero que ele dê certo.”

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