Domingo, 22 de dezembro de 2024

Em que momento lapsos de memória podem indicar Alzheimer?

De acordo com o neurologista Paulo Caramelli, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não é bom lembrar de absolutamente tudo. “O processo de esquecimento leve, eventual, faz parte do desenvolvimento e do funcionamento normal do cérebro”, diz o profissional.

“Você precisa ter uma quantidade limitada de informação para poder agir. Se tenho um pool infinito de memórias, fica até difícil conseguir sair do campo da integração e formar uma resposta”, avalia a geriatra Claudia Kimie Suemoto, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que faz parte do Advisory Council da Alzheimer’s Association International Society to Advance Alzheimer’s Research and Treatment (ISTAART).

Mas, qual é o limite? Afinal, esquecer-se pode ser bastante desagradável e constrangedor. Segundo os especialistas, as principais pistas de que o esquecimento é sinal ou sintoma de que algo não vai bem é quando interfere no funcionamento normal e na autonomia da pessoa, como se esquecer sistematicamente de compromissos importantes. Outro indício: quem está ao seu redor repara que algo parece estranho.

Por que lembramos?

O registro de informações pelo cérebro é um processo bastante complexo e, embora autônomo, é influenciado pela atenção – algumas pessoas têm queixas de memória, quando, na verdade, sofrem de um problema para focar, de acordo com especialistas – e também pela carga emocional atrelada a uma determinada situação. De maneira geral, a memória existe para facilitar nossa vida e também pode ser vista como uma estratégia de sobrevivência.

“Recebemos informações do mundo através da visão, da audição e do contato. No cérebro, elas são processadas e integradas ao que já conhecemos. Sem memória, sempre teríamos que começar do zero, o que é pouco produtivo em termos de sobrevivência”, fala Claudia. Imagine ter que encostar no fogo todos os dias para se lembrar de que ele queima.

Envelhecimento

Segundo os especialistas, com o passar do tempo é esperado que haja um decréscimo leve e sutil da memória, mas em uma intensidade que não afete a autonomia da pessoa. “Quando você olha para testes de memória, que utilizamos para diagnóstico clínico, a pontuação média de uma pessoa de 30 anos é diferente daquela de quem tem 70, 80 anos. Ela é um pouco inferior nos indivíduos mais idosos”, comenta Caramelli.

É válido destacar que o envelhecimento é um processo extremamente heterogêneo. Logo, encontraremos pessoas na média, abaixo dela e até acima, como é o caso dos superidosos que, apesar da idade avançada, possuem a capacidade de memória de uma pessoa 20 a 30 anos mais jovem.

Segundo Claudia, de uma maneira geral, há um declínio usual da função cognitiva, um conceito guarda-chuva que engloba diversas atividades essenciais, entre elas a memória. “O pico da função cognitiva é na terceira década da vida, por volta de 25 a 30 anos. Isso coincide com o máximo de volume cerebral, número de neurônios e interconexões entre eles.” A partir daí, essa estrutura começa a decair.

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