Sábado, 26 de outubro de 2024

Entenda como a cirurgia plástica pode impactar a saúde mental e a autoestima

A decisão de fazer uma cirurgia plástica pode ser motivada por diferentes motivos, mas uma das principais razões é a busca por uma autoestima mais elevada. Em conversa com o jornal O Globo, o doutor Josué Montedonio explica que procedimentos estéticos podem ter um impacto positivo, ajudando as pessoas a se sentirem mais confiantes e satisfeitas com a aparência física.

“É importante o especialista enxergar o paciente da maneira como ele se vê, para que as expectativas sejam alinhadas. Em casos como pequenas coisas que acabam incomodando, como uma ‘orelha de abano’, ‘nariz batatinha’, ou gordurinha mais localizada, é imprescindível explicar as limitações de cada procedimento. A medicina não é uma ciência exata. Então podem surgir alguns problemas em relação à cicatrização, inchaço e o tempo do processo pode ser demorado. Por isso, é importante ter acompanhamento no pós-operatório”, diz.

Segundo Dr. Josué, é importante explicar para o paciente que o inchaço e roxo decorrentes da cirurgia podem causar um efeito de ‘não se reconhecer’, porque ao se olhar no espelho a pessoa pode se sentir deformada e mutilada.

“Todo esse processo de acomodação, de voltar a se reconhecer e de assimilar a cirurgia não é tão imediato; algumas pessoas podem demorar menos e outras mais, tempo. Quando a pessoa não está psicologicamente preparada para entender essas mudanças, isso pode influenciar de maneira negativa e, às vezes, é preciso fazer um acompanhamento profissional específico”, explica.

A relação entre cirurgia plástica e saúde

“A rede social mudou como nos relacionamos. Estamos em contato com pessoas distantes, com nossa turma, pessoas que admiramos, nos inspiram. Mas seu uso excessivo acaba gerando uma série de problemas que afetam a saúde mental de várias pessoas, exacerbando a sensação de comparação extrema e de que as coisas não são tão perfeitas. Com o crescimento das mídias sociais, o ideal de perfeição passou a ser ditado pelos influenciadores através da exposição diária pelo feed e stories. O que é normal, ou o que pensamos ser normal, acaba sendo o que vemos com mais frequência.”

Cirurgia plástica não é para atender expectativas irreais

“Como cirurgião plástico, muitas vezes atendo pessoas com expectativas de atingir determinado resultado irreal inspirado em alguma celebridade ou influenciador. E isso é impossível… Primeiro porque cada pessoa possui características únicas (tipo de pele, hábitos de vida, peso, altura, genética) e ninguém é perfeito. Segundo que ‘copiar’ algo de alguém também é muito complicado. Na verdade, a cirurgia plástica visa corrigir imperfeições e não tem o intuito de fazer alguém igual, ou melhor, que ninguém, mas para ‘despertar’ nossa melhor versão. Não é uma competição. São tempos difíceis para o desenvolvimento da autoestima com toda essa distorção do ideal de beleza. Como médico, acredito que temos uma responsabilidade e um compromisso de mostrar o que é real, seus riscos e benefícios”, afirma o médico.

Corpos diferentes não podem ser comparados

“A verdade é que nenhum corpo é errado, e os corpos foram realmente desenhados para serem diferentes. Sinceramente, não há uma resposta, mas é importante lembrar que nem tudo que vemos é real ou atingível e que não devemos nos comparar a ninguém, pois, fazer isso é abrir espaço para sentimentos de frustração e não se sentir bom o suficiente”, avalia Montedonio.

Busca pela perfeição

“Hoje o que vemos com mais frequência é uma presença massiva de pele retocada, olhos ampliados, barriga sarada, essa eterna juventude. Isso começa a se tornar ‘normal’ e a percepção do próprio corpo também começa a se alterar, porque não existe filtro na vida real e a única maneira de conseguir essa imagem perfeita é com procedimentos estéticos ou com cirurgia. Ao mesmo tempo, as opiniões e julgamentos se multiplicaram. Antes, comentários podiam vir de familiares, amigos, parceiros, colegas de estudo ou trabalho, mas agora estamos constantemente expostos à avaliação de inúmeras pessoas, conhecidas ou não pelas redes sociais. Na vida real todos temos defeitos, inseguranças, alto e baixos, dúvidas… Tudo que está em exibição, faz parte da realidade (ou não) de outra pessoa.”

Dr. Josué alerta que é preciso tomar cuidado com os excessos.

“Todo mundo busca ser bonito e isso é benéfico, mas estética tem os dois extremos. Ela te possibilita corrigir imperfeições fazendo com que a pessoa tenha melhor autoestima, mas quando há uma distorção ou exagero, passa a ser prejudicial, trazendo desconforto psicológico. O problema começa quando a busca se torna patológica. Essa busca incessante, que não é benéfica, se transforma numa obsessão, numa compulsão. A obsessão pela perfeição, na grande maioria das vezes, causa frustração, podendo desencadear o transtorno dismorfo corporal, onde a pessoa não se enxerga como é, potencializando imperfeições imperceptíveis e levando até a automutilação.”

O especialista ressalta que esse ideal inatingível pode levar a distúrbios alimentares, psicológicos e sociais, podendo fazer com que as pessoas fiquem deprimidas.

Resultado estético pode ficar em segundo plano

E muitas vezes, ao tratar transtornos dismórficos e alimentares, depressão e tantos outros problemas do tipo, a vontade de fazer um procedimento pode desaparecer.

“Um bom cirurgião não se limita ao procedimento: é imprescindível entender as expectativas de cada paciente, suas motivações e o que está acontecendo no momento. É fundamental a certeza do benefício de que a cirurgia ou procedimento vai proporcionar uma melhoria. É indispensável ficar claro que a beleza não possui um padrão.”

Brasil tem beleza diversa

A população brasileira tem uma origem de uma miscigenação de povos; os indígenas, africanos e europeus. Para o médico, com essa miscigenação é difícil estabelecer somente um padrão de beleza. “Num país cuja imagem é a ‘beleza natural’, a valorização das técnicas cirúrgicas acaba sendo um paradoxo, ainda mais com toda essa banalização imposta pela mídia. Precisamos ter muito critério de julgamento para não cair em ciladas, até porque, nem sempre, quem mexe com a estética tem um senso estético crítico”.

Especialista deve agir com ética

“O código de ética médica, ao contrário do que alguns pensam, age com o intuito de proteger o paciente quando proíbe a divulgação de fotos de antes e depois. Mas as transgressões de alguns profissionais estimulam o paciente a um resultado que não pode ser replicado, um anseio por coisas que não estão de acordo com a realidade. É imprescindível informar sobre todos os riscos relacionados a qualquer tipo de procedimento de forma muito clara, explicando as intercorrências que podem acontecer.”

Além disso, conforme o cirurgião, a atenção e o cuidado com os pacientes submetidos a qualquer procedimento precisa ser uma constante em todas as etapas do processo – especialmente no pós-cirúrgico, onde os pacientes se encontram mais vulneráveis. “Sejamos menos críticos com nós mesmos”, finaliza ele.⁣

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