Sexta-feira, 03 de janeiro de 2025

Entenda por que a exportação brasileira para Argentina desabou

Com a queda na demanda interna da Argentina, as exportações do Brasil para o país vizinho estão em forte baixa neste ano. No primeiro bimestre de 2024, o volume total embarcado para a Argentina ficou em US$ 1,71 bilhão, 28,7% abaixo dos US$ 2,37 bilhões do mesmo período do ano passado. Os dados são do Indicador de Comércio Exterior (Icomex), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/Mdic).

Economistas atribuem a queda principalmente aos efeitos do choque de preços que vem sendo feito pelo presidente Javier Milei, prevendo que a baixa demanda por bens brasileiros comece a se recuperar somente no fim do ano. Está em curso uma reacomodação da economia argentina, com recuo da demanda e uma inflação ainda elevada, o que leva a um menor consumo e a menos importações. Além disso, a economia argentina já vinha perdendo força antes de Milei assumir o governo, em 10 de dezembro de 2023.

No primeiro bimestre as importações brasileiras com origem na Argentina também caíram, de US$ 1,77 bilhão no primeiro bimestre de 2023 para US$ 1,51 bilhão neste ano. O saldo comercial para o Brasil também recuou nesse período – de US$ 604 milhões em 2023 para US$ 192 milhões em 2024.

Dezembro e janeiro foram atípicos para o comércio bilateral, com superávit comercial para a Argentina por dois meses consecutivos. Mas o saldo positivo não é boa notícia para a Argentina, que tem comprado menos do exterior, e muito menos para o Brasil.

A balança de dezembro mostra que a economia argentina já vinha fraca antes de Milei assumir o governo. Em novembro de 2023, a atividade econômica medida pelo Emae, indicador do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos da Argentina (Indec), caiu 1,4% ante outubro, com ajuste sazonal.

Em fevereiro o saldo da balança bilateral voltou a ser superavitário para o Brasil e compensou o déficit de janeiro, com saldo positivo no acumulado do primeiro bimestre. Alguns dados mostram, porém, deterioração na relação comercial.

Segundo o Icomex, a queda do valor exportado aos argentinos nos dois primeiros meses do ano foi comandada por redução de quantidade. A queda foi puxada por bens intermediários (insumos e matérias-primas), que recuaram 34,2% contra iguais meses de 2023. Bens de consumo duráveis, categoria na qual entram veículos, encolheram 20,8%. Já os preços médios do total exportado subiu 2,2%. Nas importações brasileiras de produtos argentinos, houve redução média de preços de 5,1%, mas as quantidades caíram mais, em 9,7%.

“A Argentina passa por reacomodação de sua macroeconomia. Começamos um processo de mudança em que há queda de demanda, processo inflacionário persistente, mas que decresce, e queda do consumo, o que se traduz em menos importações”, afirma Fernando Furci, gerente geral da Câmara de Importadores da República Argentina (Cira). “Esse é um processo que vai durar de seis meses a um ano e terá reflexos em todos os tipos de importação que a Argentina faz.”

A Cira prevê que as importações feitas pela Argentina passem de US$ 81,5 bilhões em 2022 para US$ 73,7 bilhões em 2023 e US$ 66,8 bilhões neste ano. O governo argentino eliminou neste ano restrições administrativas às importações, incluindo cotas e proibições parciais, mas manteve alguns impostos específicos a compras e vendas da Argentina para o exterior, mostra relatório recente da Cira.

O documento afirma que, enquanto as exportações argentinas tendem a crescer rapidamente neste ano com a recuperação da safra de soja, as importações terão recuperação gradual, após mudança, em dezembro, do sistema de licenças prévias para importação, além da regularização da taxa de câmbio.

“O comércio iniciou um caminho de desregulação e facilitação que permite às empresas terem maior previsibilidade e serem mais eficiente em custos. Mas é um processo longo de simplificação dos trâmites e eliminação das normas não escritas”, diz. Furci frisa a importância de se importar a custos razoáveis, uma vez que 80% do que a Argentina compra de outros países vai para indústria e produção, e não para o consumidor final.

Dados do Indec da Argentina mostram que produção industrial vem caindo, em meio à contração da demanda. Em janeiro, o índice de produção industrial manufatureiro (IPI) caiu 12,4%, ante janeiro de 2023. Destacam-se a queda de 33,5% em máquinas e equipamentos e de 12,4% em veículos automotores, carrocerias e autopeças. A redução de produção foi generalizada em janeiro, atingindo 14 das 16 atividades industriais acompanhadas pelo Indec.

O cenário de encolhimento da economia argentina atual está levando bancos a rebaixar projeções para demanda doméstica da Argentina, observa Bráulio Borges, pesquisador do FGV Ibre e consultor da LCA. O comportamento da demanda doméstica, mais que o do PIB como um todo, reflete o quanto se espera que os argentinos irão consumir e investir dentro do país e o quanto importarão em bens brasileiros, diz Borges.

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