Domingo, 22 de dezembro de 2024

Entenda por que cartões e escanteios são modos mais fáceis de manipular apostas no futebol

Em se tratando do esporte mais popular do mundo, o futebol, o que é mais fácil: convencer um elenco inteiro a perder uma partida ou um jogador aceitar tomar cartão ou fazer uma falta? A ideia de que receber um amarelo prejudica menos o clube e o montante prometido para a fraude podem levar alguns atletas a entrar em esquema de manipulação de resultados nos jogos de futebol.

Atualmente as casas especializadas em apostas online oferecem várias modalidades além do simples resultado de uma partida. É possível palpitar, dentro do chamado mercado secundário, em diferentes eventos que acontecem no decorrer de um jogo, como número de cartões amarelos ou vermelhos, finalizações, escanteios, cobranças de pênaltis, entre outras estatísticas.

As apostas são realizadas com diferentes cotações (as chamadas odds), a partir das quais são definidos os valores dos prêmios pagos. As posições mais suscetíveis ao gol ficam mais vulneráveis. É o caso dos goleiros e zagueiros, de um lado, e atacantes, de outro. Os gols pagam mais nas apostas. Mas outros lances e ações podem ser objeto da fraude e afetar não diretamente o resultado final visível, mas contribuir para que ele não seja totalmente isento ao longo de uma partida. Aposta-se até em cobrança de lateral.

No caso mais conhecido no Brasil, o da Operação ‘Penalidade Máxima’, tocada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), foi investigado um esquema envolvendo jogadores e grupos criminosos, que ganhavam dinheiro com apostas relacionadas a lances específicos em partidas das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, além de partidas de torneios estaduais. As competições analisadas foram de 2022.

Os atletas cooptados manipulavam os confrontos de diversas maneiras como, por exemplo, forçar punição a determinado jogador por cartão amarelo ou vermelho, cometer penalidade máxima e assegurar o número de escanteios da partida. Garantir a derrota da equipe também era uma das práticas.

Os indícios mostraram que as condutas previamente combinadas tinham o objetivo de gerar grandes lucros aos envolvidos em apostas realizadas em sites de casas esportivas.

As primeiras denúncias ouvidas pela operação surgiram no fim de 2022, quando o volante Romário, então jogador do Vila Nova (GO), aceitou R$ 150 mil para cometer um pênalti contra o Sport, em partida válida pela Série B.

Na ocasião, o atleta embolsou R$ 10 mil imediatamente e só ganharia o restante caso o plano funcionasse. Romário, porém, sequer foi relacionado para a partida. A história chegou até Hugo Jorge Bravo, presidente do time goiano e também policial militar, que buscou provas e as entregou ao Ministério Público do estado. A partir daí, criou-se a operação “Penalidade Máxima” para investigar provas e suspeitas sobre o assunto.

No caso de Bruno Henrique, que está sendo investigado pela Polícia Federal (PF) e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), a apuração é se o jogador levou um cartão amarelo, que depois evoluiu para cartão vermelho, durante uma partida pelo Campeonato Brasileiro no ano passado, para favorecer apostadores, entre eles seus parentes.

O lance suspeito de manipulação aconteceu no fim de 2023, em jogo contra o Santos, em que Bruno Henrique teria forçado o cartão amarelo por falta em Soteldo, e depois reclamou e foi expulso. O jogo terminou com o placar Flamengo 1 x 2 Santos e foi disputado no Mané Garrincha, em Brasília, em 1ª novembro de 2023. O jogo foi válido pela 31ª rodada da última edição do Campeonato Brasileiro.

Segundo a PF, os dados obtidos junto às casas de apostas apontaram que as apostas teriam sido efetuadas por parentes do jogador e por outro grupo ainda sob apuração. Os apostadores também estão sendo investigados pela PF.

“De acordo com relatórios da International Betting Integrity Association (IBIA) e Sportradar, que fazem análise de risco, haveria suspeitas de manipulação do mercado de cartões na partida do Campeonato Brasileiro”, informa a PF, em nota.

A PF e o MPRJ cumpriram, na terça-feira (5), mandados de busca e apreensão e um dos alvos da operação Sport-Fixing foi o jogador do Flamengo Bruno Henrique. Ele foi acordado pelos agentes em sua casa e entregou seu celular.

Mandados foram expedidos pela Justiça do Distrito Federal. A operação da PF ocorre nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vespasiano (MG), Lagoa Santa (MG) e Ribeirão das Neves (MG). As informações são do portal de notícias O Globo.

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