Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 16 de dezembro de 2021
A acusação de violência obstétrica feita pela influenciadora digital Shantal Verdelho contra o médico Renato Kalil colocou na ordem do dia discussões sobre a prática indiscriminada da episiotomia – procedimento realizado durante o parto normal no qual um corte cirúrgico é feito na região do períneo.
A episiotomia era uma prática médica comum, feita sob a argumentação de dar maior “passagem” para o bebê e facilitar o parto natural. Após o nascimento, a abertura era fechada com pontos cirúrgicos.
O procedimento foi inventado pelo obstetra irlandês Fielding Ould, em 1742, e era bastante utilizada até que, nas décadas de 70 e 80, passou a ser questionado por movimentos políticos ligados aos direitos da mulher.
Além de muito dolorosa, a episiotomia pode causar incontinência urinária, lesões nos músculos da região íntima, infecção no local do corte, aumento do tempo de recuperação do pós-parto e dores nas relações sexuais.
Casos excepcionais
Em seu site institucional, em nota técnica de 2018, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) afirma que não há evidências sobre os benefícios da prática em casos rotineiros e que o procedimento deve estar restrito a situações excepcionais.
“A realização de episiotomia, de forma rotineira e indiscriminada, em toda e qualquer parturiente não é benéfica. No entanto, a falha na indicação do procedimento, quando houver situação clínica em que é evidente a sua necessidade, é igualmente prejudicial”, afirma a Febrasgo.
A entidade esclarece ainda que o procedimento não deve ser realizado sem o consentimento da parturiente, após as devidas explicações sobre os motivos que justificam a realização. “É necessário assegurar a compreensão da mulher sobre a necessidade do procedimento, solicitando o seu consentimento, antes da realização da episiotomia, fundamentalmente antes do início do período expulsivo”, afirma o texto da Febrasgo.
Intimidade exposta
Em áudios que se tornaram públicos, Shantal afirma que o médico teria chamado o marido dela, Mateus, para mostrar seu corpo após o nascimento da filha. “Ele chamou meu marido e falou: ‘Olha aqui, toda arrebentada, vou ter que dar um monte de pontos’”, comentou. “Ele não tinha que fazer isso. Ele nem sabe se eu tenho tamanha intimidade com meu marido”, desabafou a influenciadora.
Nos áudios que foram divulgados pela revista Quem, Shantal também afirma que o médico tem exposto sua intimidade para convencer outras pacientes a realizarem a episiotomia. “Descobri que ele falou da minha vagina para outras pessoas. Tipo ‘ficou arregaçada, se não tiver episiotomia, você vai ficar igual’”, afirmou.
Médico nega
A assessoria do médico Renato Kalil nega as acusações de Shantal. “O Dr. Renato Kalil é médico obstetra ginecologista há 36 anos. Ao longo de sua carreira, já efetuou mais de 10 mil partos, sem nenhuma reclamação ou incidente. O parto da Sra. Shantal aconteceu sem qualquer intercorrência e foi elogiado por ela em suas redes sociais durante trinta dias após o parto. Surpreendentemente, o Dr. Renato Kalil começou a receber, nos últimos dias, ataques com base em um vídeo editado, com conteúdo retirado de contexto. Ataques à sua reputação serão objeto de providências jurídicas, com a análise do vídeo na íntegra”, diz texto divulgado pelo site da revista Quem.
O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) abriu um processo interno de apuração sobre as denúncias de Shantal contra o especialista – um dos mais famosos do Brasil e responsável pelo parto de diversas celebridades, como a empresária e produtora de conteúdo digital Mica Rocha.
Depois que o caso da influenciadora veio à público, outras pacientes fizeram reclamações sobre o tratamento que receberam do médico.