Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Espionagem: “Quem fez e o porquê não tenho a menor ideia”, diz Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro disse nessa sexta-feira (3) que desconhece os responsáveis e as motivações por trás do programa secreto da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que monitorou a localização de cidadãos por meio do celular sob a sua gestão. A ferramenta foi alvo de operação da Polícia Federal (PF) no mês passado e levou ao afastamento e prisão de servidores.

“A Abin não interceptou ninguém. Ela fazia, segundo a imprensa, porque eu dispensei a Abin desde o início (do mandato), o levantamento de posição de 30 mil pessoas, segundo a Abin. Agora, eu gostaria que fosse divulgado o nome das 30 mil pessoas. Quem fez e o porquê não tenho a menor ideia”, disse o ex-presidente, acrescentando que só tem conhecimento de um monitoramento de inteligência, por parte de outros órgãos, para identificar a aglomeração de pessoas durante a pandemia.

Durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro, a Abin operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Para isso, bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho.

O ex-presidente esteve em Santos (SP) para dois compromissos com a pré-candidata à prefeitura da cidade e deputada federal Rosana Valle (PL) e com o deputado Tenente Coimbra (PL). As agendas incluem uma solenidade no Corpo de Bombeiros para a entrega de três novas viaturas à corporação e um almoço num clube localizado na Ponta da Praia.

Questionado sobre a mais recente condenação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por atos eleitorais no Sete de Setembro, Bolsonaro atacou o ministro Alexandre de Moraes:

“Realmente, o Alexandre de Moraes ficou apavorado com milhares de pessoas do Brasil todo nas ruas (no Sete de Setembro)”, afirmou o ex-presidente, que ainda continuou a criticar o magistrado. “Ele, inclusive, debocha. Um juiz não pode agir dessa maneira.”

Depois de dizer que a sua defesa ainda está estudando a estratégia para reverter a derrota na justiça, o ex-presidente afirmou que a estratégia “é o que o Alexandre de Moraes quer”.

“É o que eu costumo dizer: você briga em casa com sua esposa e vai recorrer para a sogra? A gente está vendo qual a estratégia. Se bem que não tem estratégia. Estratégia é o que o Alexandre de Moraes quer. E a gente sabe o que ele quer. É me alijar da política. No momento ele está tendo vitória. Mas tudo é dinâmico nessa vida”, completou.

Mais tarde, em fala a apoiadores num restaurante, Bolsonaro citou ditaduras da América Latina e disse que o Brasil não pode ir pelo mesmo caminho de castrar lideranças por “interesses pessoais”. Ele, porém, não fez menção ao TSE ou a Moraes.

“Julgamentos tornando pessoas inelegíveis faz parte da Venezuela, da Nicarágua, o Brasil não pode encarreirar nessa onda de castrar lideranças pelo Brasil por interesses pessoais de quem quer que seja”, discursou o ex-presidente, sem citar nomes.

Bolsonaro foi declarado novamente inelegível pelo TSE na última terça (31), por cinco votos a dois. A condenação se deu por abuso de poder político e econômico nas comemorações do Bicentenário da Independência, no Sete de Setembro do ano passado. O candidato a vice na chapa de Bolsonaro, Walter Braga Netto, também foi declarado inelegível.

Eleição municipal

A passagem de Bolsonaro por Santos também teve o intuito de fortalecer a candidatura de Rosana Valle, que além de deputada federal é presidente da executiva estadual do PL Mulher de São Paulo. A jornalistas, o ex-presidente disse que ele e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, vão apoiar a mesma pessoa na cidade do litoral paulista e em Guarulhos (SP).

“Pode ter certeza: eu e o Tarcísio estaremos apoiando a mesma pessoa em Santos e Guarulhos”, disse Bolsonaro, que mais tarde, em um almoço com apoiadores, voltou a citar o governador e negar mal-estar. “Podem ter certeza: eu e Tarcísio não temos qualquer problema ou qualquer desajuste. Eu combinei com ele que estaremos juntos em todos os municípios aqui do estado de São Paulo.”

O posicionamento do ex-presidente coloca Tarcísio em uma saia-justa, já que o atual prefeito da cidade, Rogério Santos, deixou o PSDB para se filiar ao Republicanos, partido do governador. O ex-ministro da Infraestrutura gravou um vídeo com elogios à deputada.

Segundo um aliado, Bolsonaro viajará ainda hoje para Cananéia (SP), onde deve passar o fim de semana, com previsão para voltar na segunda-feira (6) para Brasília.

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