Domingo, 09 de fevereiro de 2025

Estudo concluiu que, por meio dos olhos, dá para saber se a pessoa pode ter AVC

O ditado diz que “o que os olhos não veem, o coração não sente”. Mas, para a Ciência, os olhos revelam cada vez mais sobre o que acontece em todo o corpo. Um novo estudo, por exemplo, aponta que examinar a retina de uma pessoa pode ser uma nova forma de prever seu risco de acidente vascular cerebral (AVC). A pesquisa foi publicada na revista científica Heart, associada ao British Medical Journal (BMJ).

Os pesquisadores analisaram dados amplos e definiram um conjunto de 29 características da retina que indicam o status da saúde dos vasos sanguíneos – o que chamaram de “impressão digital” vascular. O termo se deve ao fato de que cada pessoa possui padrões únicos em sua retina, funcionando como uma identidade individual, explica Michel Farah, do Centro Oftalmológico São Paulo e do Hospital H. Olhos de São Paulo.

Já a relação com o coração ocorre porque a retina é repleta de pequenos vasos sanguíneos e é um dos poucos lugares do corpo onde esses vasos podem ser observados de forma não invasiva, dispensando métodos tradicionais, como o exame de sangue.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram exames de fundo do olho de mais de 45 mil pessoas cadastradas no Banco de Dados Biológicos do Reino Unido (UK Biobank). Eles usaram um algoritmo avançado, chamado de sistema de avaliação de saúde microvascular baseado em retina (RMHAS, na sigla em inglês). Os participantes foram acompanhados por cerca de 12,5 anos. Neste período, ocorreram 749 AVCs entre o público observado.

Ao cruzar e analisar os dados, os cientistas identificaram um total de 118 características dos vasos da retina que poderiam ser usadas para mensurar informações sobre saúde. Dessas, 29 se mostraram associadas ao risco de uma pessoa ter um AVC pela primeira vez.

Densidade vascular

O estudo revelou que qualquer alteração nesses indicadores estava ligada a um aumento de 10% a 19% nas chances de sofrer um AVC. Dentre os parâmetros analisados, os mais associados ao risco foram os ligados à densidade vascular, ou seja, à quantidade de vasos numa determinada área.

Apesar dos resultados promissores, não há previsão para o uso da tecnologia tão cedo. Segundo Laurentino Biccas, diretor da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), a densidade vascular é calculada por algoritmos de inteligência artificial ou por análises complexas de imagem feitas em laboratório, o que ainda não é oferecido em consultório.

Extensão do cérebro

“A retina ilustra muito bem a situação vascular cerebral”, afirma Biccas. Isso porque, segundo o médico, ela é um prolongamento natural do cérebro, pois se conecta ao órgão por meio do nervo óptico. A oftalmologista e pesquisadora da Fundação Altino Ventura (FAV) Michelle Gantois também reforça que a microvasculatura da retina e do cérebro têm características anatômicas e fisiológicas em comum, o que permite avaliação não invasiva da vascularização.

“A gente já sabe há muito tempo que há biomarcadores importantes na retinografia”, diz Biccas. Por meio da retina, é possível descobrir informações sobre diabete, hipertensão e o risco de aterosclerose (o chamado “entupimento de veias”). De qualquer forma, eles reconhecem que é bom ver um estudo que formaliza essa relação e detalha alguns dos indicadores da vasculatura retiniana. O diferencial da pesquisa está no uso de IA para analisar as imagens do fundo do olho com alta precisão, o que permite fazer a previsão em relação ao AVC. “Eles utilizam a retinografia, um exame relativamente barato, para capturar as imagens, mas o grande avanço está no software que faz a análise”, diz Biccas.

Teste menos invasivo

Segundo os pesquisadores, a “impressão digital” vascular da retina demonstrou ser tão eficaz quanto o uso exclusivo dos fatores de risco tradicionais para prever o risco futuro de AVC. A descoberta reforça o potencial de ferramentas não invasivas para melhorar a triagem e prevenção em saúde. “Os modelos atuais de predição de risco dependem fortemente de testes invasivos, como coletas de sangue, ultrassons, tomografias e ressonâncias magnéticas, que podem ser caros e menos viáveis para triagens em larga escala”, disse Christopher Yi, um dos autores do estudo, em comunicado.

Ele destacou ainda que essa abordagem pode ser integrada “perfeitamente” em exames oftalmológicos de rotina, particularmente em ambientes de atenção primária.

Biccas ressalta que a identificação de pacientes com uma “impressão digital” de alto risco pode permitir intervenções preventivas e salvar vidas. Ele e Gantois destacam, no entanto, que o estudo é restrito à população do Reino Unido, com 90% dos participantes sendo de etnia branca, e os achados ainda precisam ser validados em outras populações. As informações são do portal Estadão.

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