Terça-feira, 26 de novembro de 2024

Evento da CDL POA, “Cenários 2024” aponta caminhos para empresários planejarem seus negócios

O último evento da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA) em 2023 trouxe vários pontos de convergência particularmente entre dois dos convidados, economistas experientes e respeitados. Durante o “Cenários 2024”, nesta quinta-feira (21), o ex-secretário de Estado do Rio Grande do Sul Aod Cunha e o economista-chefe da CDL POA, Oscar Frank, demonstraram concordância a partir de análises de aspectos da macroeconomia à geopolítica do RS, passando pelo Brasil até a dimensão global.

Ambos defenderam, por exemplo, que os governantes brasileiros terão que manter a determinação e o foco nas reformas em andamento e no equilíbrio fiscal. “O desafio do Brasil não é só fazer reformas no legislativo, mas aquelas que aumentem a produtividade e a qualidade da educação em escala”, resumiu Aod, que detalhou os slides de sua apresentação com o entusiasmo de quem ensina há muitos anos.

O terceiro convidado, o CEO da Renner, Fabio Faccio, trouxe o olhar do varejista, como ele próprio fez questão de frisar: “Tenho 25 anos de varejo e aquele nosso típico otimismo. Então, minha expectativa é de que será um bom ano, não excepcional, porém melhor do que 2023.”

Antes de Aod e Oscar Frank compartilharem suas percepções, o presidente da CDL POA, Irio Piva, deu as boas-vindas à plateia de convidados em um dos espaços emblemáticos do Instituto Caldeira. “Fazermos esta última entrega do ano no Caldeira, um santuário no RS, não poderia significar uma conexão maior, pois só podemos crescer por meio da inovação”, afirmou o empresário, lembrando que a CDL POA, assim como a Renner, de Fabio Faccio, estão entre as fundadoras do Caldeira.

Irio destacou que, em um contexto de tantos desafios em 2023 – marcado pela superação da pandemia, guerras, troca de governo, entraves fiscais e eventos climáticos extremos – o papel das entidades tem sido crucial, ainda mas considerando a batalha contra o aumento da alíquota do ICMS, travada nas últimas semanas. “A reação forte da sociedade e das entidades demonstrou a busca de nossos objetivos, determinação e crença no futuro. Há ainda alguns aspectos a serem melhorados, claro, mas o RS se converteu em exemplo no Brasil, inspiração a outros lugares, pois há estados voltando atrás no aumento do tributo”, afirmou o presidente.

Oscar Frank, economista-chefe da CDL POA, desenvolveu a questão dos incentivos fiscais, ligada ao debate sobre o ICMS no estado. “Precisamos pensar nas escolhas como sociedade. Criamos gastos permanentes e não pensamos na forma como financiá-los. Ao longo de 50 anos, só geramos oito anos de equilíbrio nas contas. É sempre melhor fazer ajuste a partir de cortes de despesas, pois arrecadação nunca foi um problema no Brasil. A arrecadação sempre esteve acima da inflação e do próprio crescimento da economia. Essa é a raiz dos males. Por isso temos, de vez em quando, que fazer avaliações, discutir possibilidades, mesmo de aumento de impostos, que é tão nefasto. Não sou contra revisar benefícios fiscais, o que não pode é ser unilateral”, argumentou.

Ele e Aod também chamaram a atenção para a surpresa positiva do PIB. “No início do ano, falava-se em 8% e agora pode chegar a 3%”, explica Oscar, listando elementos que pesaram para esse resultado. Dentre eles, constou a agenda de reformas macro e microeconômica que está na pauta há anos, como da previdência, fiscal, trabalhista e a independência do Banco Central.

Nessa linha, para Aod, é necessário estudar o quanto essas reformas irão impactar. “Precisamos delas para aumentar o potencial de crescimento a partir da demografia no aspecto do quanto existem pessoas ingressando no mercado de trabalho. O desafio é a produtividade em um período no qual o Brasil passa, devido ao envelhecimento da população, por uma transição demográfica”, explica. Ele complementa que esta transição do Brasil é a sexta mais rápida da história entre 200 nações, e o quadro influencia em como tratar a previdência e a habitação. “Assim, se o Brasil quiser crescer 2% a.a. de forma sustentável, terá que triplicar sua produtividade nos próximos anos”, contabiliza.

A Argentina esteve bem presente nas reflexões. “Ainda vai ter que piorar para poder melhorar, não existe outro caminho para a Argentina”, decretou Oscar Frank. Ele explicou que o país vizinho tinha uma série de subsídios, custo elevado para as contas públicas e alta emissão de moeda, fatores que conduziram à explosão da inflação. Esse quadro, naturalmente, no curto prazo, vai reduzir o apetite de negócios no RS. “O risco é não persistir nas medidas de ajuste, não se ter a força política para sustentá-las”, ponderou. Aliás, a imperiosidade da mesma atitude, de persistência nos processos de equilíbrio fiscal, Oscar também associou ao Brasil, ainda que as situações sejam bem diferentes.

Em relação à inadimplência dos consumidores, medida mensalmente por meio de um indicador da CDL, Oscar disse que está ocorrendo uma queda suave em comparação a 2022, quando o patamar estava mais elevado. “A massa de salários segue crescendo acima da inflação, e temos uma taxa pequena de desemprego. Assim, as pessoas estão privilegiando o pagamento das dívidas, abrindo espaço para o gasto com bens e serviços. Contribui, ainda, o fato que, desde a pandemia, estarem recebendo o 13º adiantado”, falou.

Ainda a respeito da pandemia, Fabio Faccio comentou que as lojas de rua sofreram e contou o quanto a Renner foi impactada. A perda do fluxo dos escritórios levou ao fechamento de unidades. “Aí, é uma questão de produtividade, com dois custos, duas equipes. Nós reduzimos, mas também investimos. No Interior, estamos abrindo lojas de rua. E uma das nossas prioridades é expandir no RS, onde a marca é forte”, afirma o CEO.

O presidente da CDL POA demonstrou satisfação pelos especialistas terem compartilhado informações tão relevantes, contribuindo para apontar caminhos e apoiar os empresários para planejar seus negócios. “Esperamos que 2024 seja melhor do que 2023 e pior do que 2025”, finalizou Irio Piva.

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