Terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 24 de fevereiro de 2025
O ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida afirmou que Anielle Franco, titular da pasta de Igualdade Racial, “se perdeu no personagem” ao acusá-lo de importunação sexual. Em entrevista ao UOL publicada nessa segunda-feira (24), ele negou as acusações e disse que ela “caiu em uma armadilha política”. Em resposta, Anielle classificou a fala de Silvio como “desprezível” e “inaceitável”.
“A ministra Anielle Franco caiu numa armadilha pela falta de compreensão de como funciona a política. A mesma armadilha que caí também […] Eu acho que ela se perdeu no personagem. Quando você se torna ministro de Estado, a intriga se torna uma arma política”, disse Silvio.
Ele também afirmou que a ministra participou do “espalhamento de fofocas e intrigas” sobre ele para “queimá-lo”. “O objetivo talvez fosse minar minha credibilidade, tirar meu espaço em certos círculos da elite carioca, da academia, com pessoas ligadas ao sistema de Justiça”.
Durante a entrevista, Almeida negou o relato feito por ela que dizia que ele teria tocado em sua perna durante uma reunião ministerial. Segundo ele, o encontro com colegas da Esplanada teria sido “tenso” e voltado para a discussão de casos de racismo nos aeroportos. “Comecei a dar opiniões e, em determinado momento, ela pega meu braço e fala mais ou menos assim: ‘em todo lugar você quer dar aula, aqui não é lugar de dar aula”, disse ele, classificando a atitude da ministra como “extremamente deselegante”.
Em resposta, Anielle fez um post no X (antigo Twitter) criticando a decisão do ex-ministro de criticá-la na véspera do depoimento dele para a Polícia Federal (PF), que acontecerá nesta terça (25). “A tentativa de descredibilizar vítimas de assédio sexual, minimizar suas dores e transformar relatos graves em ‘fofocas’ e ‘brigas políticas’ é inaceitável”. Ela também afirmou que “importunação sexual não é questão política” e afirmou que “insinuar retaliações descabidas contra quem denúncia é uma estratégia repulsiva”.
Denúncias
Em setembro do ano passado, as primeiras denúncias contra o então ministro surgiram por intermediação da ONG Me Too Brasil e, entre as vítimas, estava Anielle Franco. Em entrevista ao jornal O Globo no mês seguinte, ela relatou que os episódios tiveram início ainda durante a transição do governo e se prolongaram durante os meses seguintes em que os dois foram colegas na Esplanada.
“Foram atitudes desrespeitosas. Não posso entrar muito nos detalhes por conta do depoimento à Polícia Federal, mas aconteceram diversas falas e atitudes que eu repudio. Demorei um pouco para acreditar. E acho que isso foi o que fez com que, quando fui exposta, eu demorasse a me pronunciar. Era uma decepção para mim também. Fiquei pensando por meses: ‘Será que eu errei? Fiz alguma coisa que não deveria ter feito?’. Não de dar condição, mas por onde eu poderia ter cessado esse tipo de relação. Um número grande de mulheres me procurou, e uma delas falou: ‘Vivi isso. Estou calada há 40 anos e tomei coragem para falar’. Foi o que me fez pensar que esse silêncio tinha que acabar em algum momento”, afirmou ela.
Após a denúncia, Silvio foi demitido do governo e pasta dos Direitos Humanos foi assumida pela deputada estadual Macaé Evaristo. A PF instaurou um inquérito para investigar o caso, prorrogado por mais 60 dias na semana passado por decisão do relator da ação no Supremo Tribunal Federal, o ministro André Mendonça.