Sexta-feira, 22 de novembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 21 de novembro de 2024
Depois de pausar o ciclo de corte de juros no primeiro semestre, voltar elevar a Selic em setembro e aumentar o ritmo do aperto monetário neste mês, o Banco Central (BC) pode ter que realizar uma nova mudança na condução da política monetária. Tem ganhado força no mercado a visão de que será necessário acelerar o passo para uma alta de 0,75 ponto percentual da taxa básica na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro.
Economistas de mercado veem condições para uma alta de juros mais célere diante da desancoragem acentuada das expectativas de inflação no horizonte da autoridade monetária. Eles avaliam que as medidas de ajuste fiscal do governo podem aliviar a pressão sobre o Copom e evitar essa nova aceleração do aumento da Selic. Porém, argumentam que o quadro econômico já é suficiente para justificar uma alta de 0,75 ponto percentual, após o aumento de 0,5 ponto feito no início deste mês, que levou a taxa a 11,25% ao ano.
As projeções de inflação do mercado têm aumentado constantemente nos últimos meses. O relatório Focus já acumula sete divulgações seguidas em que a mediana das expectativas para o IPCA em 2024 sobe. As projeções para o IPCA de 2025 foram elevadas nos últimos cinco relatórios.
A deterioração na inflação esperada levou o mercado a aumentar também as suas previsões para a taxa Selic, com a mediana do Focus atualmente apontando para uma taxa de juros de 12% ao fim do ano que vem, acima dos 11,5% previstos anteriormente.
Segundo Caio Megale, economista-chefe da XP, a desancoragem das expectativas inflacionárias em relação à meta de 3% tende a aumentar o “orçamento” total do aperto da Selic e criar senso de urgência entre os membros do Copom, o que conversa com um ritmo mais forte para o aperto monetário. “Se faz sentido um ciclo [de alta de juros] maior, faz sentido acelerar o ritmo”, diz. Para ele, o ambiente de piora das expectativas pode fazer com que o Copom perca o controle da discussão do mercado, e “uma ação um pouco mais forte” seria apropriada para dar senso de urgência.
Embora enxergue como possível que o Copom eleve a Selic em 0,75 ponto percentual já em dezembro, o economista-chefe da XP por ora mantém em seu cenário-base a manutenção do ritmo de 0,5 ponto, com uma taxa de 13,25% ao fim do ciclo. De acordo com ele, caso o pacote de ajuste fiscal do governo traga medidas de caráter mais estrutural, a tendência é o BC manter o passo de 0,5 ponto por reunião. Caso as propostas decepcionem e o colegiado opte por uma aceleração do ritmo para 0,75 ponto no mês que vem, Megale afirma que deve revisar a sua projeção de Selic para, pelo menos, 13,75% ao ano.
Embora reconheça que as medidas fiscais podem trazer algum alívio ao BC, Gabriel Leal de Barros, economista-chefe da ARX Investimentos, avalia que seria um erro o Copom não acelerar novamente o aperto monetário com base nos cortes de gastos que o governo deve apresentar.
“Achamos que deveria acelerar o ritmo por conta do quadro atual. O BC não pode depender do fiscal; se tiver uma entrega boa, ótimo, aí ajusta para frente”, argumenta Leal, que espera uma Selic de 13,5% ao fim do ciclo. Por ora, “é difícil ver o ‘copo meio cheio’ da inflação no curto prazo” diante da depreciação recente do câmbio doméstico e a deterioração das expectativas, ressalta.
O economista-chefe da ARX ressalta que há riscos sobre a política fiscal mesmo se o plano do governo agradar os agentes financeiros. “Não dá para contar que vai ter de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões de economia” diante de um processo de tramitação no Congresso que pode desidratar o pacote, diz.
Além disso, o próprio governo ainda não entregou todo o pente-fino dos gastos com programas sociais, prometido em julho passado e que totalizaria R$ 25,9 bilhões em cortes. “Já estamos conversando há um tempo sobre medidas pelo lado das despesas. O governo não tem lastro pra ter o benefício da dúvida do mercado”, afirma o economista.
Já Megale não vê chance de que o BC aumente os juros a um patamar menor do que os 13,25% projetados pela XP para o ano que vem, mesmo se o pacote fiscal surpreender positivamente. “O pacote está sendo calibrado para que as despesas continuem crescendo em 2,5% ao ano e não mais que isso. Com a dívida elevada como está, [o fiscal] ainda é expansionista”, diz.
Outra instituição financeira que passou a projetar uma Selic acima de 13% no ano que vem foi o Itaú Unibanco. O time de pesquisa macroeconômica do banco, liderado pelo economista-chefe Mario Mesquita, atualizou as expectativas e agora espera aceleração do passo a 0,75 ponto em dezembro e uma taxa no de 13,5% no fim do ciclo, em 2025, ante 12% na projeção anterior.
“Com câmbio mais depreciado, atividade ainda resiliente, expectativas desancoradas (por um período prolongado) e riscos crescentes, o Banco Central precisará recalcular o grau de aperto monetário e avançar ainda mais, e com maior celeridade, em território contracionista”, diz Mesquita em relatório publicado nesta semana.
Ele, contudo, vê chance de uma política monetária menos agressiva dependendo de como vier o ajuste fiscal pretendido pelo governo. “Caso ocorra uma redução significativa do prêmio de risco com o anúncio de um corte de gastos mais ambicioso que sinalize um compromisso maior com o ajuste fiscal, o ciclo de juros pode ser menor e, os cortes, eventualmente retomados no segundo semestre de 2025 ou início de 2026”, afirma.
Já os economistas Rafael Cardoso e Julio Cesar Barros, do banco Daycoval, não esperam que o corte de gastos seja suficiente para “interromper o processo de desancoragem das expectativas de inflação”. Portanto, eles acreditam que o Copom vai acelerar o ritmo de alta da Selic no mês que vem e aumentá-la para 13,25%, com duas altas de 0,75 ponto percentual e uma última de 0,5 ponto, conforme apontam em relatório.
Para Megale, da XP, não só o pacote fiscal deve ser observado pelo Copom para definir qual será a decisão na reunião de dezembro, como também a dinâmica do crédito, que “tem dado sinais de desaceleração” em conjunto com um aumento da inadimplência. Até que esses dois fatores estejam claros, os diretores do BC continuaram sem indicar um ritmo para o ciclo de aperto, diz.
“O [presidente do BC] Roberto Campos Neto já teve oportunidade de falar que não concorda com o que está precificado na curva de juros, e não falou nada disso. Também é um sinal de que a alta de 0,75 está em aberto”, avalia o economista-chefe da XP.